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Opinião
13 de Maio de 2017 às 14:41

Perspetiva estável

As tão famosas e temidas quatro agências de "rating" reconhecidas pelo BCE têm vindo progressivamente, e nos seus pré-anunciados "timings", a pronunciar-se sobre o "rating" da nossa nação.

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As mais variadas instâncias da governação política portuguesa, assim como os respetivos partidos de apoio, "desfazem-se" em congratulações e autocongratulações pelos resultados obtidos, espelhados numa melhoria do défice, redução do desemprego, nas perspetivas de crescimento económico, do investimento, das exportações, bem como numa aparente e recente estabilização do sistema financeiro português.

 

Por outro lado, a sempre enigmática sintonia entre os partidos que suportam o Governo continua a permitir a tão prezada estabilidade política e governativa, assente numa sintonia difícil com as regras orçamentais da UE, mas que, ainda assim, se tem revelado exequível e eficiente, pondo de parte os maiores receios da "coligação governativa à esquerda" tão temida pela UE e pelas agências de "rating". Até a confiança dos empresários e dos consumidores tem vindo a aumentar, aparentemente criando uma dinâmica positiva nos mais diversos setores da economia.

 

Tudo isto aparenta ser os argumentos para o otimismo atualmente vivido, assim como para os pedidos de revisão do "rating" da nação que originam dos mais diversos quadrantes institucionais.

 

No outro extremo da barricada aparecem agora os partidos do anterior governo, alegando que o atual apenas está a beneficiar do trabalho e das medidas implementadas pelo anterior executivo. Acusam mesmo a atual governação de substituir impostos diretos, por indiretos, numa tentativa de tributação "encapotada" e de "desfazer" algumas das medidas mais gravosas para os contribuintes que, no futuro, permitiriam o desagravamento do défice.

 

Posto isto, porque é que o "rating" de Portugal não é revisto?

 

A resposta é mais simples do que parece. Se se olhar para o que de facto se alterou, foram as perspetivas, de crescimento, das exportações, do investimento, dos empresários, dos consumidores. Os factos são: o défice reduziu, mas continua mais negativo do que o desejável. A sua redução depende, fundamentalmente, do crescimento económico que não é de todo controlável pela governação nacional, dependendo mesmo de muitos fatores exógenos que ninguém consegue controlar. A restruturação profunda do setor estatal não foi ainda executada. A Segurança Social continua a ser um problema a médio prazo. A dívida pública é das maiores da Zona Euro e uma das maiores do mundo (4.ª), acima dos 133% do PIB. Apesar de tudo, continuamos alvo das medidas.

 

Portugal deve ainda pensar que alguma desta recuperação económica se deve a um dos nossos maiores parceiros comerciais, Espanha, bem como a Europa como um todo, que têm vindo a verificar um crescimento económico digno de registo (3,2% e 1,9%). Este facto, "per si", demonstra a dependência externa, mas também a vulnerabilidade a outros fatores geopolíticos que nos poderão sempre afetar de forma decisiva. O Brexit, a dívida pública italiana, a Coreia do Norte, a Venezuela, o Brasil, o preço do petróleo, Angola, Moçambique, entre outros, constituem fatores que, em qualquer altura, podem pôr em causa o plano de recuperação português e o seu frágil crescimento económico.

 

Perspetiva estável ou "outlook" estável, não quer dizer que as agências de "rating" estejam a pensar melhorar o "rating" do país, significa que alguns dos maiores receios existentes foram dirimidos, mas que os problemas de fundo da economia nacional ainda subsistem e têm de ser endereçados. Todos desejamos que o "rating" melhore, mas não podemos confundir sinais positivos e circunstanciais, deveras animadores sem dúvida, com questões estruturais.

 

Economista

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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