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31 de Outubro de 2014 às 11:08

O Portugal que temos

A ideologia do medo, que nunca foi totalmente expurgada da nossa pátria, regressou, acaso mais forte. As mexidas e alterações na comunicação social não vão ficar por aqui, resultado desta política de atropelo.

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Numa entrevista à SIC Notícias, o dr. Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, disse que o dr. Cavaco não tem sabido interpretar os anseios dos portugueses. A entrevista, aliás, marca pela sobriedade do dr. Moreira e pela discreta argúcia dos entrevistadores. O dr. Moreira possui um estilo sereno e reflectido, ao contrário do seu antecessor, congestivo, um pouco apopléctico no estilo e no gesto. Mas a entrevista carrega umas ambiguidades. Só agora o dr. Moreira percebeu as debilidades do dr. Cavaco, e a tendência molecular que este tem para ignorar a vida, as angústias e os desesperos da população? Ele é mau desde que foi primeiro-ministro, por inépcia, incultura e pacovismo. São famosas as suas declarações de que não lê jornais, de que não tem dúvidas e de que raramente se engana. Desconhece que "Os Lusíadas" são compostos de dez cantos, e confunde Thomas Mann com Thomas More, o que levaria qualquer professor do Básico a pô-lo numa sala escura com orelhas de burro.


É esta casta de gente que manda em Portugal, desataviada e tola. Por seu turno, o afilhado do dr. Cavaco, o inamarrotável dr. Passos Coelho, um pobre moribundo que ainda caminha, declarou, solene e hirto, que "os jornalistas e os comentadores, além de preguiçosos, são patéticos". Veio o Marcelo e disse que é comum os políticos, nas vascas da agonia, atacarem quem os não aplaude. Mas o dr. Passos, permanência constante nas televisões, em especial na SIC, não tem de se queixar. Os recalcitrantes, pouco, nos jornais e nas televisões, são marginalizados ou saneados, e novos poderes económicos, de procedência africana, entregam decisões drásticas a advogados, como se tem visto, que, por seu turno utilizam "factotums" para "limpar" das empresas os mais livres e contestatários. A ideologia do medo, que nunca foi totalmente expurgada da nossa pátria, regressou, acaso mais forte.


As mexidas e alterações na comunicação social não vão ficar por aqui, resultado desta política de atropelo, que tem sempre apaniguados e estipendiados que obedecem e não hesitam em servir estes novos senhores do mando.


Entretanto, estes acontecimentos parecem não comover a oposição, que não fala nos casos e entorpece com questiúnculas menores. Há, notoriamente, uma avançada contra os jornais e as televisões, com mascarados a sugerir alterações de rumo e de critério. A própria oposição é vítima do seu silêncio, e não me parece que o sindicato dos jornalistas tenha mexido uma palha ou alvitrado um debate, afim de obviar que a situação se torne mais complicada.


Mas é este o Portugal que temos.


Um livro de Liberto Cruz
"Felicidade na Austrália", eis o título do belíssimo livro de contos de Liberto Cruz, recém-lançado pela Editorial Estampa, e que nos desanuvia do país pesado e trágico que permitimos existir. É a imaginação, a criatividade e o talento de um escritor a quem devemos, entre muito mais, dois ensaios biográfico, um de Júlio Dinis e outro de Ruben A. Liberto Cruz, que foi conselheiro cultural em Paris, de 1967 a 1988, é um homem de probidade exemplar e, talvez por isso, tenha sido vítima de injustiças e traições sórdidas. O seu trajecto profissional e moral é absolutamente notável.

 


b.bastos@netcabo.pt

 

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