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11 de Setembro de 2013 às 00:01

O novo programa dos EUA nas aquisições de empresas

O "tapering" da Fed, ou seja, o programa de dosagem dos estímulos à economia norte-americana pelo banco central em função da conjuntura, vai levar a uma subida das taxas de juro. Em consequência prevê-se uma subida do dólar face ao euro já que da parte do Banco Central Europeu a política é de manutenção das taxas de juro baixas, como foi referido por Mario Draghi. Em paralelo, os bancos norte-americanos estão bem apetrechados de capital, com rácios de capital próprio superiores aos congéneres europeus.

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É o ambiente perfeito para um novo programa de aquisições de empresas europeias pelas norte-americanas que já começou: Microsoft sobre a divisão telefónica da Nokia; AT&T sobre a Telecom Itália; esperar para ver mais. Parte da Europa agradece porque precisa de capitais que lhe arrumem a casa. E mesmo que vozes contrárias se levantem, a Comissão Europeia deverá inscrever este novo movimento na tal grande integração das economias dos dois espaços cujas cimeiras para tal fim já se iniciaram.

 

Agora não há ninguém, com a força de um General De Gaulle, que se oponha a este movimento. É evidente que a base era outra: nos anos 60 do passado século os bancos centrais europeus defendiam um dólar alto por causa das suas exportações e compravam-no no mercado com custos enormes para os respectivos países enquanto a Fed injectava dólares no sistema porque o governo norte-americano precisava de dinheiro para o Vietname. Com um dólar alto suportado pelos europeus, as empresas norte-americanas começaram a comprar outras por aqui. De Gaulle protestou e, como o governo norte-americano ficasse surdo às suas reclamações, mandou o Banco de França trocar todas as reservas em dólares por ouro da Fed, activando o estabelecido no acordo de Bretton Woods que definia o padrão ouro para o dólar. Foi o pesadelo para os EUA e o programa de aquisições parou.

 

Agora não se prevê oposição. Para além de mercado passam também a comprar tecnologia. Como as diversas autoridades da concorrência vão demorar a dar resposta aos processos, tomam-se agora posições e paga-se mais tarde, com o dólar mais alto face ao euro. Bom negócio! Os bancos europeus, carentes de recursos, agradecem e alguns Estados também porque ressurge um novo equilíbrio face à Alemanha. As bolsas europeias reanimam, aguardando novas operações. É curioso como fica bem demonstrada a Teoria do Contágio (King e Wadhwani) de que quando os Estados Unidos entram em crise com fortes repercussões negativas posteriores no resto do mundo este leva muito mais tempo a recuperar que o país que a provocou. E o mercado norte-americano não pode parar.

* Economista, autor de "Guia de Bolsa - Introdução ao Mercado de Capitais", Bnomics

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