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14 de Março de 2013 às 00:01

"Não pago o envelhecimento de Portugal"

Existe pouco em Portugal que possa fixar a grande parte dos nossos jovens e os que ficarem já sabem o que os espera em termos de rendimentos disponíveis no futuro para pagar o envelhecimento progressivo da sociedade.

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A cristalização em Portugal dos indicadores adversos no domínio demográfico, nomeadamente a reduzida taxa de natalidade e o envelhecimento da população acompanhados pelo fraco desempenho económico em geral, que se prevê para os próximos anos, com a manutenção de uma política fiscal atrofiadora do rendimento disponível irão, sem dúvida, propiciar uma ruptura no contrato inter-geracional consubstanciado na segurança social. 


Sendo esta uma aliança entre gerações do tipo "pago agora, recebo depois", iremos assistir de forma progressiva a um ambiente em que se reconhecerá o "pago agora cada vez mais para receber depois cada vez menos". Impregnar-se-á, em breve, na mente dos segmentos jovens esta ideia de que já entrámos numa sociedade envelhecida, que carece de um maior volume de pensões e de cuidados de saúde mais caros e de forma progressiva, resultando daqui numa redução também progressiva e acentuada do rendimento disponível a prazo.

Os segmentos jovens de educação mais cuidada estão mais interessados em resolver as suas vidas profissionais num ambiente de crescimento dinâmico pelo que tenderão a procurar no mundo as zonas que lhes propiciem a aplicação prática dos seus conhecimentos e perspectivas de um rendimento disponível seguramente progressivo no futuro sem estarem constrangidos a ter de pagar cada vez mais para uma sociedade, como a portuguesa, a envelhecer aceleradamente. É a emigração jovem, a fuga de potenciais cérebros, o mercado global a funcionar, a ruptura com o contrato inter-geracional.

Não há ainda, nos estudos desenvolvidos actualmente, conclusões que nos indiquem que na real motivação da presente emigração portuguesa, nomeadamente nos segmentos mais jovens, já esteja subjacente esta preocupação de ter de reduzir no futuro e de forma progressiva o respectivo rendimento para pagar cada vez mais a uma sociedade envelhecida. Esta situação coloca-se de forma dramática já que não há previsão de "libertação de cash flow" na economia portuguesa para atender atempadamente a este acentuado envelhecimento, provocando o aumento para fora de limites concebíveis o esforço fiscal de cada um sem contrapartidas visíveis. "Não pago para uma sociedade velha", dirá o lúcido jovem potencial emigrante quando perceber o que o espera por aqui no futuro.

Na sociedade de hoje, e isso já muitos relatórios mencionam com recurso aos tais indicadores do comportamento social, as perspectivas que as famílias têm relativamente ao crescimento e ao desenvolvimento influem na taxa de natalidade. Como elemento supletivo na decisão da família também está a política fiscal. Contudo, os jovens portugueses hoje estão mais preocupados em sobreviver (e num clima de liberdade) que pensar em taxas de natalidade, pensam mais neles próprios e no seu próprio progresso como parte de um progresso colectivo onde poderão estar inseridos, e este último não o irão encontrar por cá, certamente. Inverter este sentimento é extraordinariamente difícil.

Boa parte da dívida pública criada foi, assim, dirigida para a educação com eficiência negativa, pois incidiu na formação de recursos humanos para exportação gratuita sem perspectivas de que, um dia, "tornem viagem". Existe pouco em Portugal que possa fixar a grande parte dos nossos jovens e os que ficarem já sabem o que os espera em termos de rendimentos disponíveis no futuro para pagar o envelhecimento progressivo da sociedade. Vale a pena este sacrifício?

Economista

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