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15 de Novembro de 2017 às 21:57

Incentivar poupança

Temos para nós que a queda na poupança terá muito que ver com o esforço gigantesco que discretamente as famílias portuguesas fizeram no investimento em educação dos seus filhos.

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Nota: Este artigo está acessível, nas primeiras horas, apenas para assinantes do Negócios Primeiro.

 

Desde que há estatísticas sobre poupança, nunca os portugueses pouparam tão pouco!

 

Não terá tal justificação positiva? E, mesmo tendo-a, não terá chegado a hora de mudar de rumo? E se for o caso, qual o melhor caminho a seguir?

 

Que responda quem mais sabe; que atue quem mais pode; que se ouça quem honestamente paga os seus impostos.

 

O que se segue corresponde ao último caso, e, em tempo estratégico de preparação do próximo Orçamento, poderá ser assumidamente incómodo, mas não necessariamente inoportuno.

 

De formigas poupadas a cigarras consumistas: porquê?

 

De facto, os números crus das estatísticas podem ser menos assustadores (o país a perder a sua capacidade de reconstituir o património de capital fixo que lhe foi transmitido pela geração anterior) do que evidenciam as aparências.

 

O dinheiro será tudo menos elástico, e se os portugueses são espremidos até ao tutano por uma das duas realidades (impostos) que, juntamente com a morte, é incontornável, e se normalmente se dispõem a sacrificar-se até às últimas pela educação dos filhos, pois é inevitável que, no fim, pouco ou nada restará para figurar nas estatísticas da poupança.

 

Somos um dos países do mundo com melhores infraestruturas; somos acusados de faraónicas ambições em termos de equipamentos desportivos; temos o que já foi considerado um dos melhores sistemas de saúde do mundo para a população em geral.

 

É evidente que, para pagar tal e a satisfação imediata que proporciona, e na ausência das capacidades taumatúrgicas de Jesus de Nazaré de transformar pedras em pães, o dinheiro teve de vir de algum lado.

 

Veio seguramente de um esmagador acréscimo do nível de endividamento do país, e de um substancial incremento do peso da carga, melhor dizendo, da "canga" fiscal que esmaga os cidadãos (honestos).

 

Mas terá vindo também do esgotamento do que era a capacidade de poupança dos portugueses, e do progressivo secar do fluxo de remessas dos nossos emigrantes.

 

Dar aos filhos melhor educação: afetividade e racionalidade

 

Mas, mais do que o acima referido, mais até do que o "tirar a barriga de misérias" que se seguiu à liberalização do crédito, temos para nós que a queda na poupança terá muito que ver com o esforço gigantesco que discretamente as famílias portuguesas fizeram no investimento em educação dos seus filhos, procurando concretizar a humana ambição de dar aos descendentes mais do que os ascendentes lhes tinham podido dar.

 

E, se assim foi realmente, que lance a primeira pedra quem acuse os portugueses de terem perdido qualidades de poupança em relação ao passado, e que não deixem justamente de se orgulhar por o país se ter alcandorado, em percentagem de detentores de educação média ou superior, a níveis excedendo em muito o que logicamente seria de esperar do seu grau de desenvolvimento. Mas:

 

"The times they are a-Changin´"

 

Cantou o inesquecível e hoje Nobel Bob Dylan.

 

E, se o que terá sido não só uma manifestação de afetividade, mas também de inteligente racionalidade económica (pois o investimento em educação foi o que se apresentava com maior taxa expectável de rendibilidade, face às alternativas oferecidas à classe média), as preocupações com um futuro, em que já se tem a certeza de que as reformas em relação aos ordenados terminais serão drasticamente inferiores ao que são hoje, aconselham um deliberado esforço de incremento da taxa de poupança.

 

Se fosse em "dias que já vão distantes", tal seria conseguido, como já vai caindo no olvido, pelo incremento da "canga" fiscal; por uma redução de mais de 30% dos ordenados do funcionalismo público; por uma censura que ocultaria os protestos e uma polícia que nas madrugadas frias viria buscar os rebeldes.

 

O que aconselharia o prémio Nobel deste ano

 

Mas, mesmo tendo em conta que "há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não", os tempos hoje são outros e à via de antanho oferece-se a alternativa preconizada pelo recente prémio Nobel Thaler no seu livro "Nudge": apelar à racionalidade dos agentes económicos no sentido de os aliciar a fazerem "a bem", o que antes neste país já se fez "a mal".

 

"A bem" é o que estarão a fazer os angolanos, aqueles que durante séculos foram nossos compatriotas, e que hoje são nossos parceiros no imenso espaço dos países de língua portuguesa.

 

O exemplo de Angola

 

Enfrentando um problema similar ao nosso de baixa poupança e de fuga de capitais para o estrangeiro, em busca de maiores rendibilidades, estão a responder, antes de mais, pela via de uma tentativa de multiplicação e de melhoria das alternativas de investimento oferecidas aos cidadãos.

 

Naturalmente, tal esforço incluirá os depósitos bancários. Mas, na atual conjuntura financeira, caraterizada temporariamente (?) por expetativas de taxas de juro baixas, a possibilidade de rendibilidades minimamente estimulantes não poderá inevitavelmente deixar de vir senão do lado da velha e antes aristocrática gestão de ativos (GA).

 

Isto porque a mesma (desde que gerida como a atividade de alta competição que efetivamente é, e não como criadora de "tachos" para satisfazer interesses nepotistas), apresenta virtualidades únicas de adaptação ágil a novas oportunidades de criar valor, e a mutações nas tendências da procura, como o evidencia a taxa anual de renovação dos fundos de investimento que chega a ser da ordem dos 20% anuais em gestoras com "unhas para tocar viola".

 

Em acréscimo, a GA, criando ainda mais valor a partir, por exemplo, de ativos com as rendibilidades passivas expectáveis a 10 anos referidas na listagem abaixo, bem poderia oferecer aos portugueses aquilo a que a História diz nunca os portugueses (tradicionalmente muito reativos, o que é típico dos povos de forte influência marítima) terem deixado de reagir: um estímulo concreto para poupar.

 

Em tempos de "vacas magras" nos depósitos, a "tábua de salvação" da gestão de ativos

 

"Amálgama" ótima à Markowitz para investimentos passivos: rendibilidade de 4,4%; volatilidade de 14%; probabilidade de 35% de rendibilidade superior a 5% (valores anualizados pós-inflação, expectáveis em horizonte de 10 anos, para carteira otimizada construída com base em 130 dos ativos mais líquidos, alguns dos quais abaixo listados com as respetivas expetativas de rendibilidade).

 

Índices de países: Rússia:13%; Turquia:9,4%; Espanha:7,5%; Malásia:7,4%; Polónia:6,9%; Brasil:6,7%; Austrália:6,6%; Itália:6,3%; mercados emergentes:6,1%; Reino Unido:6,1%; Indonésia:5,6%; África do Sul:5,6%; Tailândia:5,3%; Coreia do Sul:5,2%; China:5,2%; Taiwan:5%; França:4,6%; Suécia:4,5%; México:4,5%; Canadá:4,5%; Alemanha:4,2%; Índia:3,3%; Suíça: 3%.

 

Commodities: petróleo Brent:2,8%; gás natural:2,1%; níquel:1,9%; trigo: 1,3%; milho:1,2%; óleo de soja: 0,9%; soja:0,8%; prata: 0,7%; algodão:0,7%; açúcar:0,6%;

 

Dívida pública: Austrália:2%; Reino Unido:0,5%; Japão:0,4%; Alemanha: 0,3%.

 

Imobiliário: EUA:2,4%; REITS (EUA):1,8%.

 

Vários: capital de risco (EUA):2,8%; obrigações "high yield" EUA:1,4%; obrigações indexadas EUA (TIPS):1% (Inputs: Research Affiliates-11/2017)

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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