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15 de Setembro de 2016 às 20:35

Durão na berlinda

Juncker arvorou-se em paladino da integridade da União e gritou a sua pureza, pelo que o português nem sequer podia assomar à sua porta principal. Durão não sabe muito bem o que fazer. Mas ele não é bisca que se deprecie.

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José Manuel Durão Barroso tem sido um bafejado pela sorte e moldado pelo destino. Ele faz por isso, benza-o Deus. Começou pela extrema-esquerda, vestiu-se à maneira, trovejou umas frases truculentas, de expressão revolucionária, andava de cabelo comprido e cariz assustador. Depois, foi não sei bem para onde e, ao regressar, era um denodado e coriáceo social-democrata. O corte de cabelo, as vestimentas, os modos e os costumes adaptados às circunstâncias. Rápida foi a sua ascensão no novo universo. Cavaco gostou dos modos e dos talentos. Protegeu-o e animou-o. Cedo substituiu João de Deus Pinheiro, como ministro dos Negócios Estrangeiros, e a sua ascensão foi meteórica. Estava-lhe no sangue, no estilo e no afã. João de Deus ficou com o nome de Durão atravessado na garganta.


Este amarinhou no aparelho do partido: sabia línguas e era apreciador de Maria Gabriela Llansol, escritora de larga peugada e visão lúdica. Foi para chefe do PSD e dizia umas coisas que poucos entendiam mas eram aceites como espantosas novidades. Um dia, George W. Bush, ordenado por Rumsfeld, então secretário de Estado norte-americano, e figura de cariz indisposto, decidiu invadir o Iraque, num atropelo de aldrabices básicas. O encontro assassino foi nos Açores, com Tony Blair, dito socialista, e Aznar, espanhol de trunfa apurada. Durão ficou fora, a tomar café numa vistosa esplanada. Ele era, então, primeiro-ministro português, mui reverente a quem possuísse altanaria e poder. Aquilo nos Açores foi uma vergonha montada, com aldrabices e colaborações reverentes. Apanharam Saddam Hussein, num cenário de vergonha e de injúria: o homem foi filmado com a boca aberta e cabelos desgrenhados e sem aprumo, e, depois, enforcado para toda a gente ver.

O equilíbrio de forças da indignidade teve repercussão em Portugal. Mais tarde, Barroso, então primeiro-ministro português, foi convidado para dirigir a União Europeia, o que determinou um corte de relações espaventoso entre dois amigos antigos: Jorge Sampaio e Ferro Rodrigues, este o provável indicado para primeiro-ministro de Portugal. Sampaio assim o não entendeu e Pedro Santana Lopes foi designado para tal desempenho.

Os longos anos em que Barroso esteve na União Europeia pautaram-se por uma subserviência notória às forças de direita, que têm feito quase o que querem. Registe-se a ascensão meteórica daqueles que, subservientes, vendem a alma ao diabo, sem vergonha e sem grandeza. Passado este período sombrio e desesperante, com uma choruda pensão no bolso, José Manuel Durão Barroso regressou à Pátria, por pouco tempo. Não tardou que fosse convidado pela Goldman Sachs para dirigir qualquer coisa de importante na prestimosa organização do dinheiro e do poder. Aceitou com alvoroço e ânimo largo a proposta. Mas as coisas não são tão simples quanto ele desejaria.

Juncker, meritória criatura que zela, com atenta vivacidade, a moral da União Europeia, gritou: "Alto lá, com o charuto!", e aludiu ao facto de Durão espezinhar os princípios fundadores da organização. As coisas, por menores que aparentem, foram minuciosamente vasculhadas. Claro que nem tudo é impoluto e de largo propósito naquela organização. Os escolhidos para postos de comando têm de possuir uma alma lavada e, sobretudo, não serem, nem transportarem o cheiro, de filiados na mais obscura organização de esquerda.

Parecia que Durão Barroso era possuidor dessas urgências. Porém, Juncker arvorou-se em paladino da integridade da União e gritou a sua pureza, pelo que o português nem sequer podia assomar à sua porta principal. Durão não sabe muito bem o que fazer. Mas ele não é bisca que se deprecie. Os próximos capítulo dirão como vai a União Europeia. Aguardemos com atenta serenidade. 

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