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22 de Março de 2013 às 00:01

Competitividade hospitalar?

Cerberus, um cão que tinha, pelo menos, três cabeças, é descrito na mitologia clássica como tendo recebido a missão de guardar o Portão de Hades, o submundo. Foram-lhe dadas instruções rígidas para deixar entrar todos para o seu reino, mas não deixar ninguém sair.

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Os interesses da máquina administrativa do SNS, que sobrevivem na dinâmica das nomeações político-partidárias, temem a avaliação do cidadão se lhe for dado o poder de optar entre hospitais públicos de todo o país. Paradoxalmente, e em conflito com os valores do empreendedorismo, há grupos privados com PPP na saúde que também parecem alimentar a mesma narrativa de Cerberus promovendo a defesa do princípio da inclusão de todos os cidadãos na sua área de abrangência, complementada com a exigência de que não se deixe sair ninguém. Estaremos, neste âmbito, num beco sem saída por efeito da inesperada aliança estratégica entre os interesses hospitalares privados e públicos? Quem será o primeiro a ousar pensar "out of the box"?


No melhor interesse do Estado e do cidadão, as unidades hospitalares públicas que não correspondam às expectativas dos doentes, utentes e famílias não deveriam ser punidas pela própria população? O conceito de área de abrangência, sendo castrador das liberdades, é defendido pelo "statu quo" hospitalar que protege os seus recursos e uma ilusória estabilidade. Os líderes deste subsector, têm preferido o risco de verem as suas unidades encerradas por decreto-lei do que terem a oportunidade de lutar pela sua sobrevivência através da criatividade geradora de dinâmicas de competitividade e inovação. Trata-se do reflexo de uma cultura de liderança baseada nos processos de influência e negociação obscura em detrimento da transparência que resulta dos efeitos das opções livres dos doentes e famílias, conforme verificado nos sistemas de saúde de referência europeia. Sendo uma abordagem abandonada na maior parte das nações ocidentais, a resistência às dinâmicas de competitividade hospitalar teima em manter-se em alguns, poucos, sistemas de saúde.

Por outro lado, tendo sido eu o único membro de uma comissão para a sustentabilidade do SNS que, em 2006, não subscreveu a proposta de extinção dos subsistemas, incluindo a ADSE, custa-me agora ver o silêncio de alguns que é adoptado apenas por questões tácticas de alinhamento partidário. Defendo, como defendi na altura, que os subsistemas públicos são o melhor instrumento que o Estado tem para ajustar o financiamento dos cuidados de saúde ao custo real, algo que o SNS nunca conseguiu estabelecer na sua abordagem de contratualização.

Embora o ritmo da mudança no Mundo, não vá desacelerar, a liderança do SNS, desde meados de 2011, assumiu o espirito dogmático conservador concentrado em proteger o colossal sobrepeso hospitalar. O Cerberus que ladra.

*Director do International Journal of Healthcare Management, Londres

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