Opinião
Centeno: Rating até Bruxelas?
O argumento é simples: Portugal é uma economia beta a sul da Europa. A definição de economia beta por parte da Goldman Sachs é coincidente e reflexo das cinco fragilidades apontadas no relatório da Fitch
Em vésperas de eleições legislativas Mário Centeno deixou um desejo claro: elevar o rating de Portugal para o nível A.
A expectativa interna e política era alta ontem em antecipação do anúncio da revisão da Fitch.
No entanto a Fitch optou por não elevar o rating de Portugal mantendo a atual classificação de BBB e a sua perspetiva ou Outlook em positivo.
Ao contrário da expectativa de Mário Centeno já o mercado financeiro antecipara esta desilusão.
A curva de taxas de referência para os cinco e dez anos em Portugal apresentam uma elevação da curva nos últimos dois meses:
Fonte: oBlue.pt
Também a Goldman Sachs recomendava esta semana, pela primeira vez em 4 anos, a escolha de dívida Italiana em deterioramento da dívida nacional nas suas 7 estratégias de investimento para 2020:
Fonte: Goldman Sachs Global View Point - Best Trade Ideas Across Assets 21 novembro 2019.
O argumento é simples: Portugal é uma economia beta a sul da Europa. A definição de economia beta por parte da Goldman Sachs é coincidente e reflexo das cinco fragilidades apontadas no relatório da Fitch que justificam a manutenção do atual nível de rating do pais:
- Economia demasiado vulnerável a choques externos e amplamente dependente do ciclo económico internacional;
- Baixo potencial de crescimento económico a médio-prazo, este que ainda se situa no caso de Portugal abaixo dos 2% para os próximos dois anos comparando com taxas de crescimento médias de 3% em outros países ou geografias com rating BBB;
- Elevado envidamento público (>300%) – também aqui António Horta Osório o frisou na passada quinta-feira quantificando o risco de um choque potencial no PIB nacional superior a 5-6% em ambiente de ciclo de subida de taxas;
- Fragilidades claras do sector financeiro nacional onde a banca nacional perpetua rácios de NPLs (non-performing loans) superiores aos seus pares comparáveis e mantendo-se muita incerteza em torno da reestruturação patrocinada pelo Fundo de Resolução ao Novo Banco bem como qual o desfecho para a Mutualista Montepio;
- Ausência do orçamento final para 2020 no primeiro ano de governação onde não se replica a geringonça.
Na reação, o gabinete de Mário Centeno reforça a ambição de alcançar o rating A.
Na sua visão para 2020, a Fitch apresenta um mapa de ratings francamente concentrados em classificações BBB ou inferiores:
A ambição de Centeno é justa e positiva para Portugal. No entanto esta ambição deverá ser reequilibrada com aquelas que são as reais missões de um Estado social:
- Saúde e Educação;
- Justiça e proteção social;
- Igualdade e continuidade territoriais.
Aqui fica o desafio de Centeno para 2020: de Ronaldo das finanças a Estadista.
Talvez Bruxelas seja uma nova residência.
Catarina Castro é CEO da Blue e Economista