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14 de Janeiro de 2013 às 09:49

Análise do mercado de 2012 e perspectivas para 2013

O ano de 2012 vai deixar melhores recordações junto dos investidores do que dos economistas.

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O ano de 2012 vai deixar melhores recordações junto dos investidores do que dos economistas. Apesar do fraco crescimento global ao longo de todo o ano, os activos de risco tiveram um bom desempenho em 2012, e tanto os mercados accionistas mundiais como os de obrigações de empresas superaram por uma margem considerável os activos isentos de risco, como os activos monetários e os principais mercados de obrigações de dívida pública.


Esses mercados foram catalisados por uma conjuntura permanentemente caracterizada por taxas de juro reais negativas, devido ao facto de os bancos centrais terem continuado a aplicar uma política monetária extremamente branda, no intuito de favorecer a execução orçamental, o sector bancário e a desalavancagem das famílias. Esta tendência, por sua vez, obrigou os investidores tradicionalmente avessos ao risco a investir em activos de maior rendimento, para se protegerem contra a inflação.


A crise do euro irrompeu na Primavera e no início do Verão, altura em que a Grécia atravessou uma crise política e em que os custos de financiamento da Espanha dispararam devido a preocupações derivadas de maus empréstimos contraídos pelo sector bancário do país. No entanto, as águas agitadas da crise do euro acalmaram no final de Julho, quando o Banco Central Europeu (BCE) se disponibilizou a "fazer o que fosse necessário" para preservar o euro, a que se seguiu o anúncio do seu programa de Transacções Monetárias Definitivas (TMD), destinado a baixar os rendimentos das obrigações dos países periféricos.


Entretanto, assistiu-se a uma nova aceleração do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China, que no terceiro trimestre de 2012 atingiu a impressionante taxa de 9,1% em termos trimestrais anualizados (pelo menos, de acordo com os números oficiais). O aumento do crescimento chinês aliviou os temores de um prolongado período de abrandamento económico e reforçou a confiança geral sobre os mercados emergentes, após um 2011 decepcionante.


Nos Estados Unidos, os 600 mil milhões de dólares em aumentos de impostos e os cortes da despesa pública que se previa que entrassem em vigor no início de 2013 (o chamado precipício fiscal) contribuíram para aumentar o nervosismo dos investidores no segundo semestre de 2012. Enquanto a classe política se esforçava para alcançar um novo acordo orçamental com o intuito de impedir que a economia se despenhasse no precipício, as empresas começaram a apresentar restrições às despesas de investimento devido à incerteza sobre a futura carga fiscal e sobre a procura interna. No entanto, no início do ano, os mercados voltaram a subir, depois de os dois partidos terem chegado a acordo à última hora, para evitar o desastre.


Um ano pós-crise para os mercados?
Olhando para o futuro, poderá 2013 ser o primeiro ano pós-crise para os mercados? Ou seja, um ano em que se desvaneça o risco de uma rotura da Zona Euro, mesmo que a recuperação e reconstrução da Europa e dos Estados Unidos se prolongue por muito mais tempo. Notam-se alguns sinais bastante animadores. Os rendimentos das obrigações de dívida pública dos países periféricos sofreram uma queda acentuada após o anúncio do programa de TMD, feito em Setembro pelo BCE (ver Figura 1).


O menor nível de rendimentos das obrigações dos países periféricos reflecte não só o apoio concedido pelo BCE mas também o facto de os desequilíbrios económicos que precipitaram a crise da Zona Euro estarem a ser corrigidos nesta altura. A Itália e a Espanha apresentam um saldo positivo da sua balança comercial com a Zona Euro. A Grécia exibe um excedente orçamental primário (antes do pagamentos de juros) desde o início do ano. Consequentemente, diminuiu consideravelmente o risco de um colapso caótico da Zona Euro.


A aceleração do crescimento da China poderá ser favorável à conjuntura económica na Europa em 2013. Deverá prosseguir a retoma iniciada neste país no primeiro trimestre de 2012, sem que, no entanto, as taxas de crescimento continuem a apresentar dois dígitos como no passado. Este crescimento irá beneficiar os mercados dependentes da China, como o de commodities, bem como os sectores de consumo, atendendo aos esforços redobrados do governo no sentido de libertar a economia da dependência do investimento e orientá-la para o consumo interno. Deverá haver outros mercados emergentes de grande dimensão a seguir um padrão de crescimento semelhante, baseado no crescimento do PIB graças ao aumento do consumo das famílias.


Não quer isto dizer que o ano de 2013 irá estar isento de riscos susceptíveis de perturbar os investidores. As obrigações alemãs continuam a apresentar níveis muito baixos, reflectindo as persistentes preocupações de alguns investidores sobre a união monetária. As próximas eleições na Itália levantam dúvidas sobre a capacidade e o empenho de um novo governo para a implementação de cortes orçamentais e de reformas económicas. Caso a Espanha decida não pedir um resgate, os rendimentos poderão disparar novamente.


Nos Estados Unidos, as preocupações fiscais pairam sobre as perspectivas de crescimento. O acordo alcançado no início do novo ano para evitar que o país caísse no precipício fiscal foi recebido de forma positiva pelos mercados, mas esse acordo não vai resolver os problemas do défice do país, pelo que se antevê a continuação do drama político nos próximos dois meses, bem como um aumento da volatilidade, à medida que os políticos procuram uma solução a longo prazo.


No entanto, a economia dos Estados Unidos e os preços dos activos serão favorecidos pelas injecções de liquidez que estão a ser levadas a cabo pela Reserva Federal dos Estados Unidos. Na sequência da actual vaga de flexibilização quantitativa, a Reserva Federal irá comprar, ao longo de 2013 e provavelmente também em 2014, títulos garantidos por crédito hipotecário e títulos do Tesouro no valor de 85 mil milhões de dólares. Neste contexto, as acções em particular continuam com boas avaliações (tanto nos Estados Unidos como nos mercados emergentes), sobretudo tendo em conta as modestas expectativas de crescimento dos lucros das empresas. Muitos segmentos de maior rendimento do mercado global de rendimento fixo oferecem igualmente bons rendimentos em relação aos títulos do Tesouro, dado que os investidores procuram alternativas à dívida de grau de investimento para a obtenção de rendimento. 

 

 

 

 

Head of Sales da JPMorganAM para a Península Ibérica

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