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A União que naufraga

E a Europa é inexistente com muros e arame farpado que impedem de fugir os milhões de foragidos dos vários desesperos nacionais. Sempre me senti europeu, e não precisei desta União para o ser.

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A União Europeia não serve, pelo unilateralismo das suas decisões e pela ausência de solidariedade. As vozes que clamam contra esta anomalia, que dissolveu os propósitos generosos dos seus idealizadores, são muitas e múltiplas. As exigências de Bruxelas às nações ofendem as características dos povos, da sua História e da sua cultura. A Europa é alemã por imposição do mais forte. E enquanto os pequenos países sofrem a tenaz de uma política autoritária e tirânica, a Alemanha abarrota de dinheiro. Os pequenos países tentam desembaraçar-se deste cerco, sem quererem deixar de pertencer à União, mas à União do projecto inicial. Os partidos tradicionais são contestados pela subserviência demonstrada ante a Alemanha. A "alternativa" deixou de existir, substituída pela "alternância". Como quem diz: baralha e sai sempre o mesmo.

O resultado mais visível desta alteração de poderes doentios está em Espanha, com o Podemos, e, em Portugal, com a aliança de vários partidos. Mas o mal-estar é generalizado. François Hollande, pobre homem, alinha despudoradamente com a senhora Merkel, que é apenas um factótum dos grandes interesses financeiros. A senhora Merkel é uma triste mulher, apenas porta-voz dos predadores que estão a conduzir a Europa para um abismo sem salvação.

Não digo que os próprios dirigentes o não sintam e, de quando em vez, o não digam publicamente. É o caso de Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, que afirmou, recentemente, que "A Europa é cada vez menos União." E acrescentou que "parece uma bicicleta sem ar nas rodas." O que levou Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, a concluir: "Uma bicicleta sem ar nas rodas, cai."

Não se pode viver com esta tirania do autoritarismo. E a Europa é inexistente com muros e arame farpado que impedem de fugir os milhões de foragidos dos vários desesperos nacionais. Sempre me senti europeu, e não precisei desta União para o ser. Quem defende e protege este modo de vida são, esses sim, contrários e inimigos dos princípios que nortearam os europeus decentes e íntegros. Esta Europa procria o ódio, alimenta o rancor, hostiliza os povos e submete-os a baias de terror impositivo.

Temos sofrido, na carne e na alma, a assunção de valores novos que mais não são do que vectores de desagregação. Esta União Europeia é instigadora da submissão e da abominação. A luta para que a União regresse aos caminhos propostos é, também, uma luta contra o Partido Popular Europeu, que alberga gente do piorio sob o ponto de vista da ética política. Nunca será demais denunciar os perigos a que esta política poderá levar. O ovo da serpente não foi totalmente esmagado.

Um livro para fazer reflectir

Falo de "O Deputado da Nação", escrito com a sabedoria, o humor e o talento de Manuel da Silva Ramos e de Miguel Real. A realidade não é observada como "um espelho que passa pelo caminho", como queria Stendhal, mas através das experiências morais e culturais dos dois escritores, e da opinião que têm do país, nesta época cheia de anomalias, embustes e indignidades. É uma bela edição da Parsifal, que refresca o espírito e nos anima a não desistir.


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