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15 de Janeiro de 2018 às 20:14

A situação do Montepio

Como chegou a esta situação uma instituição que contava com uma sólida base de capital e que explorava um dos mais robustos e eficientes modelos de negócio do nosso sistema financeiro?

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1. É com preocupação e perplexidade crescentes que avalio a situação do Grupo Montepio. A controvérsia em torno de uma participação da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa no capital da Caixa Económica Montepio deslocou a atenção das questões centrais com que esta importante instituição se debate. Considero mesmo que deve ser à luz destas que os méritos - ou deméritos - de uma tal participação devem ser avaliados. Questão que proponho abordar adiante.

 

Este Grupo enfrenta dois tipos de problemas: por um lado, os que resultam da incapacidade financeira da Associação Mutualista para - no contexto actual - continuar como accionista único do banco. O que, como é conhecido, resulta da destruição maciça de capital verificada na actividade bancária; por outro, os que reflectem o enfraquecimento do modelo de negócio que tradicionalmente suportou as condições de exploração das duas principais instituições do Grupo: Associação Mutualista e Caixa Económica Montepio.

 

O que nos conduz a uma pergunta que os mais de 500 mil associados - onde me incluo - têm o direito de colocar. Como chegou a esta situação uma instituição que contava com uma sólida base de capital e que explorava um dos mais robustos e eficientes modelos de negócio do nosso sistema financeiro? Além dos efeitos inegáveis da crise financeira, a amplitude e a complexidade dos problemas actuais resultam da adopção pela gestão de uma estratégia de expansão de grande imprudência. "Sentada" simultaneamente aos "comandos" do banco e do accionista, arriscou o capital mutualista num programa de expansão interna e internacional, com um duplo efeito: acumulou no balanço da caixa económica risco claramente excessivo; afastou o Grupo do seu objecto estatutário central, enquanto organização da economia social. Na prática, inverteu o mandato fundador, ao subordinar "comercial e financeiramente" a associação aos "planos" da caixa económica. Um modelo fragmentado de supervisão e um "governo" do Grupo que tende a favorecer a "captura" das assembleias de associados por grupos de reduzida dimensão - em relação ao número total de associados - criaram o quadro em que tal actuação se desenvolveu e tornaram possível esta evolução.

 

Apesar dos desafios actuais, permaneço convencido de que o futuro deste Grupo depende da preservação da sua natureza mutualista e da articulação dos seus três pólos - associação, caixa e seguros - naturalmente sem prejuízo da separação das respectivas gestões e administrações. Desconheço as razões - e as condições - da inexplicável alienação dos seguros, aparentemente fora de qualquer visão para o futuro do "Grupo". Arrisca-se a fragmentar e a enfraquecer ainda mais o modelo de negócio em torno da Associação Mutualista.

 

2. É contra este pano de fundo que deve ser avaliada a questão da participação da Santa Casa no capital da caixa económica. Partindo do pressuposto que os estatutos não o impedem, o seu interesse depende da resposta a duas questões: como calcular o valor de uma participação minoritária, sabendo que este terá um forte impacto nas contas da Associação Mutualista? Qual o interesse de tal participação, tanto para a Santa Casa, como para o futuro do mutualismo no quadro da economia social? Questões para outro dia.

 

Economista

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