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26 de Março de 2021 às 09:20

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A economia portuguesa cresceu mais na última década que as economias mais afetadas pela crise das dívidas soberanas europeias e esta expansão concretizou-se enquanto procedia à correção de desequilíbrios notáveis.

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Recorrentemente, lamenta-se o facto de a economia portuguesa crescer mais lentamente que as economias da Europa de Leste, tendo sido progressivamente ultrapassada por estas ao longo dos últimos anos. O produto interno português (PIB) per capita em 2010 correspondia a 83% do PIB per capita da União Europeia (27 Estados-Membros), caindo para 79% em 2019, implicando a descida da posição relativa 18 para 19. No mesmo período, os países mais fustigados pela crise da dívida soberana, como Espanha, Itália ou Grécia viram o produto encolher face à União Europeia, 5, 10 e 18 pontos percentuais (p.p.), custando uma posição relativa aos dois primeiros (de 11 para 12 Itália e 13 para 14 Espanha) e dez posições à Grécia (25). Lituânia, Checa, Roménia e Estónia, registando as maiores subidas relativas de cinco, quatro e três posições, situam-se atrás de Portugal à exceção da Checa (posição 13). Na última década, as economias do Báltico a par da Roménia (coincidentemente as economias com taxas de fertilidade mais elevadas da União) apresentaram taxas de crescimento real médio entre 4 e 4,5%, que contrastam com 1,4% observado em Portugal.

 

Procedendo à análise de economias leste europeias com dimensão semelhante como Checa e Hungria, constata-se que Hungria e Checa expandiram-se 2,9% e 2,5%, respetivamente, entre 2010 e 2019. Comparando alguns indicadores estruturais destas economias com Portugal, identificam-se alguns elementos distintos: Checa e Hungria são economias pouco endividadas (endividamento das famílias na ordem dos 60% do rendimento disponível) e com elevada taxa de poupança das famílias (cerca de 12%). A posição líquida externa é igualmente um elemento distintivo destes países, registando valores positivos que contrastam com nível significativamente negativo em Portugal. Outra diferença é o investimento empresarial (taxa de investimento bruto na vizinhança de 30% contra 24% em Portugal). A rendibilidade do capital na ordem dos 15%, que compara com valores em torno de 10% na economia nacional. A produtividade do trabalho tem igualmente registado um comportamento mais favorável nas economias de leste, com acréscimo de 10% e 5% na Checa e Hungria que compara com incremento de 1,3% em Portugal. Porém, em termos de custos laborais unitários, na Checa representam 50% do valor da União Europeia (com crescimento de 43% na última década) que compara com 35% (61%) na Hungria e 53% (1,3%) em Portugal.

 

O peso do investimento (25% do PIB) e do consumo privado (50%) distinguem inequivocamente estas duas economias de Portugal. Efetivamente, Portugal destaca-se pelo forte peso do consumo privado (65%) e reduzida ponderação do investimento (18%). Checa e Hungria com graus de abertura de 70% e 80%, respetivamente, e predomínio do comércio de bens (75% das trocas comerciais) afastam-se do padrão nacional da composição do PIB (43% de grau de abertura e peso das exportações de bens de 62%).

 

Olhando para variáveis relativas à população, a qualificação da força de trabalho e o peso de atividades de pesquisa e desenvolvimento apresentam patamares idênticos a Portugal. Relativamente à confiança nas instituições, as economias leste europeias revelam um nível de confiança institucional em torno de 4,5 em 10 valores possíveis enquanto Portugal se situa no patamar de 2. Finalmente, em termos de população, Checa e Hungria são economias mais jovens (cerca de 20% da população não tem 18 anos) que Portugal (16,8% da população com menos de 18 anos). Paralelamente, Portugal regista uma baixa taxa de fertilidade (1,43), enquanto Checa com taxa de fertilidade de 1,71 integra o grupo dos países com taxas de fertilidade mais elevadas da Europa a seguir à França (1,86).

 

A economia portuguesa cresceu mais na última década que as economias mais afetadas pela crise das dívidas soberanas europeias e esta expansão concretizou-se enquanto procedia à correção de desequilíbrios notáveis. Beneficiando das pistas deixadas pelo caso das economias da Europa de Leste, para assegurar patamares de crescimento mais dinâmicos, algumas alterações estruturais têm de consolidar-se: tendência demográfica deve ser invertida; a abertura da economia deve ampliar-se através de IDE orientado para setores de bens transacionáveis (desta forma, apropria-se conhecimento e meios que facilitam a criação e crescimento de empresas nacionais) e da expansão dos setores exportadores; importa expandir o investimento privado (neste momento, a componente da despesa que menos contraiu foi o investimento, embora essencialmente à boleia da construção); exige-se subida da rendibilidade do capital investido para atrair investidores e alargar a capacidade instalada com base na geração de meios próprios (internamente: processos, organização, ambição têm de ser aprimorados; e, externamente: o quadro institucional deve progredir no sentido de maior transparência, previsibilidade, responsabilidade respondendo às necessidades das empresas que exigem maior agilidade, segurança e prontidão); maior qualificação dos recursos, designadamente humanos (a população com educação terciária subiu de 11% em 2000 para 36,2% em 2019 em Portugal, mas Suíça cresceu de 29% para 56% - país com melhor indicador na Europa).

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