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Os truques de Costa e os erros de Passos

O Governo fez tudo para ganhar eleições e as autárquicas de domingo passado reforçaram a legitimidade do executivo e debilitaram o maior partido da oposição além de abalarem o PCP. O PS que não venceu as últimas legislativas aspira agora a uma maioria absoluta sob a liderança de Costa.

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Se a política é a arte de conquistar e conservar o poder, António Costa que há dois anos não conseguiu ficar em primeiro nas legislativas, mas fruto de uma conjugação política inédita chegou à liderança do Executivo, mostrou com o resultado eleitoral de domingo passado que é um verdadeiro mestre em conservar o poder.

 

As eleições autárquicas acabaram por ser uma legitimação política do Governo.

 

Curiosamente as maiores vítimas desta maré rosa de Costa acabaram por ser os fieis aliados comunistas do Governo. Foram 9 conquistas que doeram, sobretudo em praças históricas do PCP, como Almada, Barreiro, Beja ou Castro Verde. O manual político do governo de Costa merece um estudo atento para quem pretender saber como se ganham eleições. Devolveu rendimentos, nos salários da Função Pública e pensões; subiu o salário mínimo; beneficiou com a eliminação da sobretaxa, aumentando assim as devoluções do IRS, que deixam sempre os contribuintes satisfeitos. Deu ainda o bónus da redução do IVA na restauração, beneficiando dezenas de milhares de cafés e restaurantes em todo o país. Também tomou outras decisões que não custaram muito aos cofres do Estado, mas que deixaram mais gente feliz. A devolução dos quatro feriados retirados pelo anterior governo sob sugestão da troika foi uma dessas medidas.

 

Nem tudo foram rosas, registou-se um agravamento dos impostos indiretos, particularmente notório nos combustíveis, mas como se sabe os cidadãos não notam tanto estes impostos, porque estão diluídos no custo dos produtos adquiridos. A carga fiscal não baixou, mudou de sitio, mas com esta operação, Costa conquistou mais votos. Enquanto os candidatos do PS beneficiaram com o efeito de Costa, os candidatos do PSD foram penalizados com a memória de Passos Coelho.

 

Passos desempenhou uma tarefa patriótica no governo do pós-resgate da troika. Conseguiu resultados, mas a dor que o ajustamento custou é-lhe agora imputado, até porque António Costa conseguiu consolidar a narrativa de que era possível um processo menos doloroso. A maior parte das decisões de Passos foram corretas e outras inevitáveis, mas o discurso de "não sejam piegas", quando reduzia o rendimento a milhões de pessoas, associado a medidas como a eliminação de quatro feriados e as mudanças na TSU, que não avançaram, deixaram uma marca que se virou contra um político liberal, honesto, que acreditava que o caminho que trilhava era o correto. Provavelmente foi demasiado ingénuo. Por isso perdeu eleições.

 

Saldo positivo: Madonna

 

Recebeu um visto especial, numa reunião secreta com a ministra da Administração Interna. O Governo fez bem em atribuir esse estatuto à rainha do Pop que dá mais à economia portuguesa do que os compradores de casas de meio milhão de euros a troco de um visto gold. A campanha de imagem que a diva faz de Portugal nas entrevistas por todo o mundo e as imagens que divulga nas redes socais valem mais do que muitos milhões gastos em campanhas institucionais.

 

Saldo negativo: Mário Centeno

 

Está previsto que o volume da dívida pública seja reduzido este mês, mas os valores divulgados na segunda-feira, na ressaca de uma importante vitória do partido do governo nas eleições locais, revelam que este é um monstro adormecido que pode voltar a abalar a economia. Mais de 250 mil milhões, ou seja mais de 25 mil euros por cada cidadão, é um número assustador. A dívida nos últimos anos cresceu muito acima do PIB. Uma evolução que pode acabar em tragédia.

 

Algo completamente diferente

 

Em Portugal só os mais 'aficcionados' conhecem a lenda de Victorino Martin, apesar da sua herdade ser na raia espanhola, perto das Termas de Monfortinho. Era considerado o melhor ganadeiro da festa brava, mas a ganadaria só foi fundada em meados da década de 60, quando comprou rezes do Marqués de Albaserrada. Morreu terça-feira, aos 88 anos, mas os 'Victorinos' que alcançaram um estatuto mítico, só alcançado por muito poucos como 'miuras', ou os portugueses 'palha' (elogiados por Ernest Hemingway), continuarão a honrar o seu nome. 

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