Opinião
Entre Trump e o BCE valha-nos o milagre de Fátima
Entre a incógnita de Trump no mundo e os efeitos dos juros e da política do BCE em Portugal, assim se tecerá o novo ano.
Diz a teoria do caos que o bater de asas de uma borboleta na China pode provocar uma tempestade na América. Já em Janeiro teremos em Washington a tomada de posse de Donald Trump, que marcará certamente o novo ano. Provavelmente o efeito do milionário que ficou famoso na televisão dos reality shows será maior do que o voo da mariposa, é talvez mais adequado comparar com o impacto de um paquiderme.
A proteção comercial que Trump prometeu aos americanos é uma ameaça às exportações chinesas e hoje se a China arrefece o mundo também se constipa.
E na Europa 2017 é o ano da digestão do Brexit e de eleições decisivas para todo o continente em França e na Alemanha.
Para nós que vivemos num pequeno país, com estado sobreendividado, economia anémica e tão dependente do exterior, 2017 é um ano de desafios.
Além da ameaça de subida de petróleo, há a tendência de subida dos juros. A América vai manter a tendência de subida e mais tarde ou mais cedo, é natural que o BCE acompanhe a tendência, até porque o dólar alto associado aos preços do crude provoca algumas tensões inflacionistas. O dinheiro mais caro irá pressionar as finanças públicas. Mas pior para Portugal é a alteração de política do BCE, que pode travar a fundo a compra de títulos de dívida portuguesa a partir do próximo verão.
Sem o guarda-chuva de Frankfurt nos mercados aproxima-se a tempestade sobre a dívida pública portuguesa. O país que continuou a agravar o endividamento depois do resgate de 2001 e que em 20017 irá precisar por semana quase 500 milhões de dinheiro nos mercados financeiros, vai enfrentar algumas tempestades.
Com os ciclos políticos cada vez mais acelerados e a economia a ser decisiva, 2017 vai mesmo ser determinado pela conjugação entre taxas de juro e a política do Banco Central Europeu.
Com a pressão dos credores na frente externa, o Governo vai ser continuar ouvir de Bruxelas a necessidade de medidas adicionais. António Costa e Mário Centeno até podem fazer um brilharete com o défice de 2016, mas não é suficiente.
O Governo fez tudo para ficar bem na fotografia das contas públicas em 2016, além dos milhões da campanha de marketing do perdão fiscal com o nome de Peres, empurrou despesas para o próximo ano a adiou a capitalização da Caixa Geral de Depósitos, que pode não contar para a avaliação do défice, mas é um enorme esforço.
Se e economia europeia e mundial não arrefecer, a tendência de valorização do dólar, que caminha para a paridade com o euro, é uma oportunidade para as empresas exportadoras nacionais.
Também se o petróleo não subir para níveis proibitivos, Portugal continuará a acolher a invasão crescente de turistas. O Algarve poderá bater de novo em 2017 a marca de melhor verão de sempre e Lisboa e Porto durante todo o ano continuarão a receber milhares de turistas, beneficiando do fenómeno das low cost.
O turismo tem todas as perspectivas de continuar a ser o sector mais dinâmico da economia portuguesa. O maior reside nas flutuações do preço do petróleo, porque os bilhetes baratos de avião é que têm sustentado o crescimento exponencial do negócio.
Depois do verão há um exame político decisivo, não só ao governo e aos partidos que o apoiam, como à oposição.
Se o PS ganhar Costa conta com uma alavanca importante, mas o PCP também tem os seus bastiões em causa e curiosamente nos municípios comunistas o maior adversário costuma ser o Partido Socialista.
Visto de Dezembro de 2016, o PSD tem uma tarefa hercúlea. Tem poucas hipóteses de conquistar grandes municípios aos socialistas. Lisboa e Porto são bicos de obra. Resta-lhe lutar espingardas por todo o país para tentar ficar bem na fotografia nessa decisiva noite leitoral.
Mas com os ciclos políticos cada vez mais acelerados e a economia a ser decisiva, 2017 vai ser mesmo determinado pela conjugação entre taxas de juro e política do Banco Central Europeu. O diabo pode mesmo chegar, mas oxalá isso não aconteça no ano do centenário das aparições de Fátima. Num país que acredita em milagres, bem precisamos de um novo que acelere a economia e reduza a dívida pública.