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A palavra de conforto 

Há uma escuta que ficou anos incógnita na justiça e que agora foi recuperada pela investigação da Operação Marquês que ajuda a explicar o monumental buraco de crédito malparado da Caixa Geral de Depósitos por causa das altas pressões políticas.

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Essa escuta pertencia ao processo Face Oculta que as máximas cúpulas da justiça travaram, porque na altura envolvia o então primeiro-ministro. É uma conversa entre o então secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias,  e Armando Vara, na época administrador do BCP, que mostra que bastava um palavra do primeiro-ministro para os gestores do banco público abrirem o cordão à bolsa.

 

Vara que já tinha passado pela gestão do banco público diz ao seu amigo governante que pedia financiamento para o autódromo do Algarve que o projecto era "irracional do ponto de vista económico" e um "sorvedouro de dinheiro", sugerindo que a solução passaria por uma nacionalização do empreendimento.

 

A única solução, adiantava Vara, era injectar dinheiro da Caixa Geral de Depósitos, e para isso o "chefe" devia dar um "conforto, porque sabe o peso que tem do lado de lá".

 

O chefe é Sócrates e o "lado de lá" é a administração do banco público que Vara conhecia como funcionava.

 

Muitos projectos ruinosos que agora custam milhões na lista de imparidades da Caixa têm esta génese. Um palavra poderosa com resultados catastróficos para o banco credor e para os seus accionistas: nós, os contribuintes.

 

Na Operação Marquês há um negócio da Caixa que deverá fazer parte da acusação e envolve luvas de um milhão para Sócrates e outro milhão para o próprio Vara no crédito ao Vale do Lobo.

 

É mais do que uma conversa, revela aquilo que toda a gente já desconfiava: o banco público sempre foi alvo de pressões políticas na concessão do crédito. É uma história que lembra uma citação bíblica do Evangelho Segundo S. Mateus: "Senhor, eu não sou digno que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e eu serei salvo." Eles até ficaram ricos, mas nós pagamos.

 

Director-adjunto do Correio da Manhã

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