Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
15 de Julho de 2018 às 15:32

O estado da Nação

O debate sobre o estado da Nação decorreu sem novidade. Não porque não fosse um bom momento para olhar para o futuro. Mas apenas porque o futuro é incerto e a sua visão difícil de partilhar.

  • ...

As intervenções não foram pensadas para que alguém fora do Parlamento fizesse caso do que era dito. Ao contrário, falaram uns para os outros num circuito que só não é fechado porque os rombos nas barreiras de proteção já abriram espaços de tal dimensão que dificilmente voltarão a estar preenchidos.

 

Bloquistas e comunistas já fazem balanços do que sem eles não teria sido possível e preparam um discurso de combate que pretende apenas evidenciar a fragilidade da posição de equilíbrio instável dos socialistas. Sociais-democratas alteraram o tom da crítica. Falaram mais alto e foram mais duros. Resta saber se Negrão falou apenas para ganhar apoios no seu grupo parlamentar ou se a intervenção corresponde ao modo encontrado por Rui Rio para fazer oposição. Já os populares vão forçando uma estratégia que passa pela separação completa e radical entre esquerda e direita entre socialistas e não socialistas.

 

António Costa fez o mesmo discurso de sempre. Não porque não tenha outro. Mas simplesmente porque quando o fizer a "geringonça" chegará ao fim. Bem pode afirmar que esta solução está "no coração dos portugueses". Estará eventualmente no de alguns. Mas já não está no do primeiro-ministro.

 

Os fatores de instabilidade são hoje maiores e mais visíveis do que a necessidade de garantir a estabilidade de uma solução governativa que já não tem posição conjunta sobre nenhum assunto relevante. Alguns esperaram que esta crise pudesse ocorrer ao fim de um ano de governação. Não foi assim. Mas chegados a meio do terceiro ano eis que as divergências já não podem ser escondidas debaixo do tapete.

 

Portugal entregou-se à Europa e aos condicionamentos que sabia daí resultarem sem garantir margem de manobra para fazer diferente. E a gestão ruinosa das contas públicas das últimas décadas acentuaram a nossa dependência de uma comunidade que, embora enfraquecida e sem rumo, continua a constituir o nosso único caminho viável.

 

Garantir o rumo da consolidação das contas públicas, prosseguir a reforma do Estado não aumentando custos de funcionamento, reduzir rapidamente a dívida pública, incentivar a poupança, criar condições de aumento da produtividade das empresas e de competitividade das exportações deverão ser as apostas de quem quiser governar o país. António Costa sabe que o seu futuro passa por aqui. Mas também sabe que neste caminho nunca terá a companhia de Catarina Martins e de Jerónimo de Sousa. É tempo de começar a fazer escolhas.

 

Jurista

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

Ver comentários
Mais artigos de Opinião
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio