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José Galamba de Oliveira: “Há gestores que nunca geriram num clima de inflação”

José Galamba de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Seguradores, sublinha que se está a viver um novo ciclo económico e uma mudança de paradigma, pela emergência da inflação e da subida das taxas de juro. Steven Braekeveldt, CEO da Ageas Portugal, acredita que a Europa está à procura da autossuficiência.

29 de Março de 2022 às 14:30
José Galamba de Oliveira, presidente da APS (ao centro), e Alexandre Ramos, technology leader da Liberty. Mariline Alves
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Em 38 seguradoras supervisionadas pela ASF apenas uma deu prejuízo em 2021, o que para José Galamba de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS), se explica com uma particularidade que "influenciou positivamente os resultados" do setor: "A recuperação do ramo Vida, que em 2019 e 2020 tivera uma descida significativa." As afirmações de Galamba de Oliveira foram feitas na conferência que assinalou a 8.ª edição da iniciativa "Os Seguros em Portugal".

Para o responsável, as quebras no ramo Vida não foram apenas uma consequência da pandemia, mas "era uma tendência anterior em que havia dificuldades na nova produção de PPR, que são o produto mais típico deste ramo". "Em 2020, a quebra acentuou-se bastante, o que teve a ver com a preocupação das pessoas de incerteza em relação ao futuro. Mesmo as poupanças que havia foram mantidas muito líquidas, como se vê pelos números do Banco de Portugal, em que os montantes de depósitos à ordem explodiram em 2020", afirmou José Galamba de Oliveira.

O presidente da APS referiu que os resultados do setor têm, ano após ano, "uma componente de alguma estabilidade porque é um setor resiliente". E, explica, "depois há situações que podem impactar em determinados anos, sobretudo quando há grandes catástrofes, como por exemplo em 2017 os incêndios de Pedrógão, e que se refletem nos resultados das seguradoras".

Para o responsável, os investimentos que se faziam para uma maior eficiência, produtividade, e, do lado comercial, para estarem mais perto dos clientes, e com produtos mais ajustados às necessidades dos clientes, eram uma tendência do passado, e o ano atípico de 2020 por causa da pandemia de covid-19, levou a acelerar investimentos cujos resultados já são visíveis.

Novo ciclo económico

Em 2021, houve um esforço do setor segurador em ligação com as redes bancárias, que são a principal frente de colocação deste tipo de produtos, na disponibilização de novos tipos de produtos, como os seguros de capitalização, os unit-linked, que permitiram a muitos clientes que tinham excedentes de poupança os aplicassem em produtos de seguros de vida. "Houve um aumento de cerca de 70% de produção em 2021, ficou-se ligeiramente acima de 2019, o que foi uma boa ajuda para os resultados financeiros", concluiu José Galamba de Oliveira numa análise aos últimos anos.

O líder da APS sublinhou que se está a viver um novo ciclo económico e uma mudança de paradigma, sobretudo pela emergência da inflação e das mais que prováveis subidas das taxas de juro para controlar as pressões inflacionistas. "Na Europa, há duas décadas que não sabíamos o que era inflação e hoje existem muitos gestores nas empresas que nunca geriram num clima de inflação, é uma novidade e um risco", adverte José Galamba de Oliveira. Por isso, diz, a inflação terá impacto nas famílias, já que "o rendimento disponível vai reduzir-se e as dívidas vão ter juros mais elevados". Além disso, pode haver uma recessão ou pelo menos uma quebra no crescimento, frisa.

Já Steven Braekeveldt, CEO da Ageas Portugal, acredita que os últimos acontecimentos internacionais como a pandemia e o conflito na Ucrânia marcam o fim da globalização, com cada área económica a procurar uma maior autossuficiência. "A Europa está a investir tanto na indústria dos chips, e quer ser independente do gás russo para 2030, para ficar independente de outras grandes nações. É uma mudança entre as grandes economias mundiais, que estão a tornar-se mais independentes. O que também é bastante claro é que teremos o bloco chinês que tem politicamente uma maneira completamente diferente de fazer as coisas" conclui.
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