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Seguradoras concorrem com as tecnológicas pelo talento

O setor já não vive só dos matemáticos e atuários, mas de novas competências como as tecnologias, a inteligência artificial ou a machine learning. “Acabaram os tempos onde as pessoas apenas tinham conhecimentos de seguros”, refere Steven Braekeveldt, CEO do Grupo Ageas Portugal.

29 de Março de 2022 às 15:00
Steven Braekeveldt é CEO da Ageas Portugal. Mariline Alves
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"Acabaram os tempos onde as pessoas apenas tinham conhecimentos de seguros. Isso desapareceu completamente. Podemos contratar pessoas da Coca-Cola, da L’Oreal." O cenário é traçado por Steven Braekeveldt, CEO do Grupo Ageas Portugal, que frisa que se olha hoje para certas competências de forma diferentes do passado. E se "estudos atuariais serão sempre estudos atuariais, as restantes pessoas têm por base os skills necessários ao negócio".

Para José Galamba de Oliveira, presidente da APS, há agora "competências novas que são necessárias para os modelos de negócio que as seguradoras estão a abarcar". "[As empresas do setor] não vivem só dos matemáticos, dos atuários, são necessárias novas competências em áreas como as tecnologias, a inteligência artificial, a machine learning", refere .

Neste conjunto de novas capacidades e competências, "as seguradoras estão a concorrer com as grandes marcas tecnológicas, as grandes consultoras, é um mercado muito abrangente e que está habituado ao trabalho remoto", acrescenta o mesmo responsável.

A flexibilidade para este tipo de profissionais, sobretudo da área tecnológica, não resulta da pandemia porque no passado já era assim. "É vital as seguradoras desenvolverem estes modelos de trabalho flexível, mistos, para que se adequem às necessidades de cada um para serem mais atrativas", assinala José Galamba de Oliveira.

Inflação nos salários

"As pessoas são o que temos de único e mais importante e sem elas não fazemos nada", considera também Alexandre Ramos, technology leader da Liberty Seguros Europa. Para este responsável, a atração e retenção de talento poderá ser conseguida através da flexibilidade e da possibilidade de se poder trabalhar de forma remota. "São coisas apelativas que podem funcionar como fatores de retenção. É um facto que estamos expostos à globalização e, hoje em dia, pode-se trabalhar em qualquer parte no mundo. Na dimensão tecnológica é ainda mais comum. A única coisa que queremos é que os nossos colaboradores percebam qual é a nossa proposta de valor e o que é a Liberty consegue dar que eles valorizem, porque hoje em dia a rotatividade é algo que nos afeta a todos", refere Alexandre Ramos.

Steven Braekeveldt, que comanda os destinos da Ageas em Portugal, alerta que há falta de recursos humanos qualificados não só em Portugal mas também na Europa. Por isso, frisa, verifica-se "uma grande inflação nos salários". "As pessoas estão a levar duplos números, 30% de aumento. Temos duas pessoas que tiveram aumentos de 100%, o dobro do salário, porque por estas skills nós pagamos", contou.

As quatro tendências para os seguros
Sustentabilidade e ESGUm dos pontos mais relevantes nas seguradoras é o facto de terem um número elevado e díspar de stakeholders a gravitar à volta do negócio. Uma abordagem mais arrojada da sustentabilidade não se pode centrar em si mas em todos os stakeholders.
Nesta lógica de sustentabilidade tem de ser ter uma estratégia clara. Depois uma visão holística: não se pode ter determinados critérios na carteira de investimentos em que não se trabalha com o oil&gas e depois a maior parte dos clientes são deste setor. Outro ponto é o racional económico para as medidas sustentáveis e seguradoras e é possível ter um racional económico em termos de ESG.

Beyond insuranceAs seguradoras começaram a ter um conjunto de serviços acrescidos, utilizar os seus próprios pontos fortes para entrar noutras linhas de negócio com o objetivo de novas revenue streams. Deverá ter melhores níveis de serviço, ter foco na satisfação do cliente, perceber quais são os negócios em que deve entrar e, sobretudo, identificar parceiros que façam sentido para, por exemplo, gerir negócios específicos.

Futuro do trabalho Está relacionado com a escassez do talento e da necessidade de o contratar, reter e requalificar. O tipo de talento que o setor segurador requer hoje é diferente do passado, e hoje tem de ver os colaboradores como um asset. Com o trabalho remoto é mais complexa a construção da cultura organizacional. A palavra de ordem deve ser flexibilidade mas esta deve garantir que vai aos interesses da organização.

Investimento tecnológico e digital Há um conjunto de temas tecnológicos como a automação, o big data, a cloud, a inteligência artificial, a analytics, que se tornaram relevantes no mundo segurador. É muito importante que a tecnologia nasça por causa do negócio, se tenha o foco certo nas pessoas, como colaboradores, parceiros e clientes, e que a tecnologia esteja ao serviço do asset, do talento e dos clientes.

Ludgero Gonçalves, partner - business consulting da Deloitte com base no Insurance Industry Outlook 2022 da Deloitte.
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