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João Wengorovius Meneses: “A economia verde é a única esperança para as empresas”

“Temos um mundo com recursos finitos, limitados. É um absurdo matemático, se não ético filosófico, ter um modelo de economia linear num com recursos finitos”, considera João Wengorovius Meneses, secretário geral do BCSD.

29 de Março de 2022 às 15:30
João Wengorovius Meneses e Maria de Belém Roseira foram os convidados do painel A Europa Social | Verde | Digital. Mariline Alves
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"A economia verde é a única esperança que podemos ter de as empresas continuarem a crescer de forma saudável. Tivemos 30 anos gloriosos depois da II Guerra Mundial em que as empresas, nomeadamente dos países ocidentais, cresceram a dois dígitos. Esses tempos acabaram, os mercados saturaram-se", refere João Wengorovius Meneses, secretário-geral do BCSD, na 8.ª conferência Seguros em Portugal.

Nestas geografias mais ligadas à OCDE, o crescimento saudável só é possível se mudarem as premissas do modelo de desenvolvimento, frisa o responsável, já que as atuais estão condenadas. "Temos um mundo com recursos finitos, limitados. É um absurdo matemático, se não ético filosófico, ter um modelo de economia linear num com recursos finitos, na base da extração, transformação e descarte rápido. Acabam-se os recursos. Mais de metade do PIB mundial assenta diretamente em recursos naturais que são finitos como minérios, combustíveis fósseis, biomassa", descreve. No entender de João Wengorovius Meneses, a Apple sabe exatamente quantos smartphones é possível produzir no planeta, porque conhece os stocks do lítio para as baterias, da prata para os circuitos integrados e os combustíveis fósseis para os moldes. Daí que, alerta, "num mundo morto ou moribundo, do ponto de vista do ambiente e dos recursos naturais, os primeiros a sofrer são a economia e o emprego". "É uma questão de risco económico e de emprego, antes mesmo das questões mais filosóficas ou éticas ou de justiça", insiste. Por isso, defende o secretário-geral da BCSD, têm de mudar as premissas do desenvolvimento económico e a própria ciência económica tem vindo a questionar-se nas suas premissas.

Incentivos de curto prazo

O responsável adianta também que foi esta ciência económica que esteve na génese das democracias liberais e do capitalismo nos últimos 200 anos "e que nos deu tantas alegrias com o PIB a aumentar 14 vezes em 200 anos apesar de a população ter aumentado oito vezes".

Mas há vários princípios que têm de ser revistos porque o sistema concede demasiados incentivos para o curto prazo, acrescenta. Na conferência, João Wengorovius Meneses invocou mesmo a chamada tragédia dos comuns, que se refere a uma situação em que os indivíduos, agindo de forma independente, racional e de acordo com seus próprios interesses, atuam contra os interesses de uma comunidade, esgotando os bens de uso comum.

E defendeu os benefícios da sustentabilidade para as empresas, a junção do social e do ambiental e o papel do digital. Na sua opinião, há um cerco às empresas para que sejam sustentáveis ou perderão resiliência e competitividade muito rapidamente.

A malha da regulação é cada vez mais apertada por parte do stakeholder Estado, depois os clientes querem cada vez mais fazer do consumo um ato de cidadania, que o consumo tenha um impacto positivo no mundo, "e, portanto, os produtos que dão um propósito e sejam atos de cidadania terão a preferência do consumidor", diz João Wengorovius Meneses.

Além disso, frisa, a sustentabilidade é uma narrativa fundamental para os trabalhadores e colaboradores, que querem trabalhar em locais "que tenham um propósito maior do que apenas o do lucro". "E é por isso que a great resignation está a acontecer, porque as pessoas não encontram esse propósito nos seus locais de trabalho."

O secretário-geral da BCSD citou ainda uma conferência de Steve Jobs, "Stay Hungry. Stay Foolish", em que este referia que "as pessoas querem manter uma veia sonhadora, ter uma ligação à vida um pouco mais poética e não apenas uma ligação mecânica e ser parte de uma engrenagem económica". Os próprios investidores já perceberam que empresas não sustentáveis são mais arriscadas e já têm de pagar um prémio de risco e os investidores querem investir o capital respeitando os ESG", conclui.
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