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O mandato mais curto de sempre de uma administração da Caixa Geral de Depósitos teve no mês de Novembro o seu capítulo mais intenso. E em 30 dias de grande intensidade noticiosa, o futuro do banco público dominou as manchetes dos jornais e as aberturas de telejornais.
Numa tempestade perfeita de interesse público - salários milionários, transparência na gestão, serviço público, hesitações governamentais, coligações fracturadas -, o penúltimo mês de 2016 começou com os primeiros sinais de fracturas na equipa liderada por António Domingues.
Às ameaças de renúncias de alguns gestores por recusarem entregar as declarações de rendimentos ao Tribunal Constitucional, sucederam-se episódios a uma velocidade estonteante: Bloco recua; gestão da Caixa faz compromissos de transparência; Tribunal Constitucional força a entrega de declarações; Centeno aceitou condições de Domingues, que fica apesar das renúncias; Plano para a Caixa está pronto; Marcelo chama Domingues e força solução... e força entrega das declarações.
Tudo isto, nos primeiros 15 dias de Novembro.
Entretanto, já Donald Trump tinha vencido as eleições presidenciais nos Estados Unidos e provocado um mini-terramoto nos mercados financeiros, com efeitos em Portugal: as bolsas caíram na primeira reacção, arrastando Lisboa; e os juros da dívida portuguesa atingiram o valor mais alto desde o Brexit. Alguns dias depois, tudo acalmou.
A 16 de Novembro, as boas notícias para o mundo, ainda a digerir o turbilhão Trump, vieram de Portugal. Contra todas as expectativas, a economia nacional acelerou no terceiro trimestre para um crescimento de 1,6%, impulsionada pelas exportações e pelo turismo. A Universidade Católica contextualizou: "Estes dados sugerem que o processo de recuperação da economia portuguesa continua em curso e afasta o cenário de quase estagnação que se vislumbrava desde o início do ano".
Enquanto isto - e depois de um Web Summit que colocou Lisboa no mapa do planeta start-ups com a presença de milhares de cérebros tecnológicos no Parque das Nações -, na Caixa... Domingues começava a perder apoios. Centeno afastava-se do antigo administrador do BPI, ao mesmo tempo que se encontrava com António Horta Osório em Londres. Os empresários começavam a tornar públicas as queixas que circulavam há meses pelos corredores do poder: a Caixa está parada, precisa-se de solução em breve.
Mas, pelos vistos, Domingues não estava parado. O plano continuava a ser alinhavado e já havia apresentação pública no horizonte. As declarações de rendimento seriam entregues com pedidos de sigilo, o mercado fechava a janela de oportunidade para emitir a dívida prevista na recapitalização de 5.160 milhões de euros. E Centeno adiava tudo - a entrada de dinheiro público e privado - para Março.
E passou uma semana.
Enquanto isto: o BCP assumia a sua nova natureza asiática e a Fosun pagava 175 milhões de euros por 16,7% do maior banco privado português. O BPI adiava a solução para o problema angolano e o Novo Banco continuava à venda, sem desfecho à vista. E a dívida pública portuguesa galopava para o seu recorde, no terceiro trimestre, de 133% do PIB.
Alguns dias de silêncio mediático foram interrompidos com estrondo: Domingues fora da Caixa. Manchete do ano, a 28 de Novembro. Uma mudança na lei sobre transparência foi a gota de água de um copo que já estava cheio há muito tempo.
Numa tempestade perfeita de interesse público - salários milionários, transparência na gestão, serviço público, hesitações governamentais, coligações fracturadas -, o penúltimo mês de 2016 começou com os primeiros sinais de fracturas na equipa liderada por António Domingues.
Às ameaças de renúncias de alguns gestores por recusarem entregar as declarações de rendimentos ao Tribunal Constitucional, sucederam-se episódios a uma velocidade estonteante: Bloco recua; gestão da Caixa faz compromissos de transparência; Tribunal Constitucional força a entrega de declarações; Centeno aceitou condições de Domingues, que fica apesar das renúncias; Plano para a Caixa está pronto; Marcelo chama Domingues e força solução... e força entrega das declarações.
Tudo isto, nos primeiros 15 dias de Novembro.
Entretanto, já Donald Trump tinha vencido as eleições presidenciais nos Estados Unidos e provocado um mini-terramoto nos mercados financeiros, com efeitos em Portugal: as bolsas caíram na primeira reacção, arrastando Lisboa; e os juros da dívida portuguesa atingiram o valor mais alto desde o Brexit. Alguns dias depois, tudo acalmou.
A 16 de Novembro, as boas notícias para o mundo, ainda a digerir o turbilhão Trump, vieram de Portugal. Contra todas as expectativas, a economia nacional acelerou no terceiro trimestre para um crescimento de 1,6%, impulsionada pelas exportações e pelo turismo. A Universidade Católica contextualizou: "Estes dados sugerem que o processo de recuperação da economia portuguesa continua em curso e afasta o cenário de quase estagnação que se vislumbrava desde o início do ano".
Enquanto isto - e depois de um Web Summit que colocou Lisboa no mapa do planeta start-ups com a presença de milhares de cérebros tecnológicos no Parque das Nações -, na Caixa... Domingues começava a perder apoios. Centeno afastava-se do antigo administrador do BPI, ao mesmo tempo que se encontrava com António Horta Osório em Londres. Os empresários começavam a tornar públicas as queixas que circulavam há meses pelos corredores do poder: a Caixa está parada, precisa-se de solução em breve.
Mas, pelos vistos, Domingues não estava parado. O plano continuava a ser alinhavado e já havia apresentação pública no horizonte. As declarações de rendimento seriam entregues com pedidos de sigilo, o mercado fechava a janela de oportunidade para emitir a dívida prevista na recapitalização de 5.160 milhões de euros. E Centeno adiava tudo - a entrada de dinheiro público e privado - para Março.
E passou uma semana.
Enquanto isto: o BCP assumia a sua nova natureza asiática e a Fosun pagava 175 milhões de euros por 16,7% do maior banco privado português. O BPI adiava a solução para o problema angolano e o Novo Banco continuava à venda, sem desfecho à vista. E a dívida pública portuguesa galopava para o seu recorde, no terceiro trimestre, de 133% do PIB.
Alguns dias de silêncio mediático foram interrompidos com estrondo: Domingues fora da Caixa. Manchete do ano, a 28 de Novembro. Uma mudança na lei sobre transparência foi a gota de água de um copo que já estava cheio há muito tempo.
A capa
28 de Novembro
Ameaçou e cumpriu. António Domingues bateu com a porta numa sexta-feira, fazendo primeira página do Negócios na segunda-feira, dia 28 de Novembro. Momento histórico para o banco público, que teve o seu presidente com o mandato mais curto de sempre, apenas três meses depois. Ficou "fora da Caixa".