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O projecto empresarial criado em 2014 pelo engenheiro Pedro Manuel, que detém a plataforma de gestão de frotas de pesca "Big Eye Smart Fishing" e que está também a apostar na rastreabilidade digital para seguir o peixe do mar até ao supermercado, foi a "escolha quase unânime" do júri liderado por Jorge Gabriel, administrador da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), e constituído também por Sofia Tenreiro, directora geral da Cisco; por Duarte Pitta Ferraz, professor da Nova SBE; por Luís Manuel, administrador executivo da EDP Inovação; e por António Murta, sócio e co-fundador da Pathena.
"Mais disputadas", segundo o presidente do júri, foram as três menções honrosas conhecidas igualmente a 20 de Dezembro, em Lisboa, na cerimónia de entrega deste prémio lançado pela FLAD e pela consultora EY, em associação com o Negócios, para promover e apoiar o esforço de internacionalização de micro, pequenas e médias empresas portuguesas na maior economia do mundo. Essas distinções foram atribuídas à Moldiject (indústria de moldes de Alcobaça), à tecnológica portuense Helppier e ainda à NU-RISE, uma start-up de Aveiro que está a inovar no tratamento do cancro.
Presidente da FLAD
Em jeito de balanço, o presidente da FLAD, Vasco Rato, considerou que esta experiência-piloto "trata-se de um modelo interessante, que pode vir a ser ampliado e a fazer escola", frisando que "este tipo de iniciativas requer muitas vezes que alguém lidere o processo e que haja alguma publicidade sobre estes eventos até para incentivar as empresas". Lembrando as várias actividades realizadas pela fundação nos últimos quatro anos, direccionadas também para a internacionalização das empresas nacionais, particularizou que "um prémio destes não é importante pelo que é atribuído, mas pelo sinal e pelos horizontes que se dão às empresas", sendo "também um estímulo para os projectos que, por vezes, não têm o reconhecimento das instituições".
Imersão em Silicon Valley
Vencedora do FLAD.EY BUZZ USA, a Bitcliq vai ter como prémio um período de imersão de até quatro semanas, para duas pessoas, numa incubadora em São Francisco, na Califórnia. O programa ainda vai ser ajustado ao perfil e ao sector por parte da West to West, a parceira que vai acolher e acompanhar o premiado durante essas semanas, que foi criada há dois anos por portugueses da nova vaga da emigração e luso-descendentes que trabalham também na área tecnológica.
"Tipicamente, quando ajudamos empresas a conhecer melhor o que se faz em Silicon Valley tentamos mostrar-lhe tanto o lado das grandes tecnológicas, como empresas do ramo que interessa a quem está de visita. E depois ajudamos a encontrar os eventos certos para irem em São Francisco", descreveu Pedro Vieira, que lidera este grupo com perto de uma centena de especialistas locais e que conta com uma rede de contactos com mais de 50 investidores e incubadoras.
Fundador e presidente da associação West to West
O fundador e presidente desta associação americana sem fins lucrativos detalhou que, com o planeamento adequado, é "o tempo suficiente para uma primeira fase de apresentações e para fazer as primeiras relações". "Depois as empresas aproveitam essas ligações e vão-nas fortalecendo. Umas são relações de negócio propriamente ditas, em que contratos são feitos mais tarde; outras são para ajuda no desenvolvimento do produto ou do serviço, acabando por ter a ajuda dos agentes locais para construir algo mais ajustado ao mercado americano", acrescentou Pedro Vieira.
Perguntas a Pedro Manuel, Fundador e CEO da Bitcliq
"Temos um novo produto para a pesca artesanal"
A Bicliq fechou 2017 "um pouco acima" dos 250 mil euros facturados no ano anterior, metade dela na exportação. Até Fevereiro vai duplicar a equipa para 16 pessoas, para dar suporte aos novos projectos, incluindo nos EUA.
O que significa este prémio para a empresa Bitcliq?
É um reconhecimento do trabalho que temos vindo a desenvolver. Toda a equipa está de parabéns. E esta oportunidade de estarmos um mês em Silicon Valley, no maior ecossistema empreendedor do mundo, vai ser muito importante para os próximos passos que temos de dar, para ajudar a orientar um pouco algumas ideias e podermos definir um plano de execução que nos leve mais longe.
O que esperam desse período de imersão em Silicon Valley?
Irá valer por muito tempo em termos de intensidade. Vamos estar deslocados do nosso habitat normal, muito focados no projecto e no trabalho. E com a mentoria que podemos obter de pessoas com uma visão global e experiência na internacionalização, isso será muito enriquecedor para a nossa equipa.
Sendo que já trabalham com algumas indústrias nos EUA.
Sim, temos uma oferta para a gestão operacional em tempo real para grandes frotas e embarcações, mas temos agora um novo produto e uma nova ideia de endereçar a pesca de menor escala. A parte tecnológica é muito semelhante, mas o modelo de negócio é diferente para se adaptar a frotas artesanais, em que a venda do pescado passa a ter também um papel importante. Os EUA dão cada vez mais valor ao peixe, à proteína proveniente do mar; e o peixe selvagem está de alguma maneira em risco por haver uma 'sobrepesca' a nível geral. É um mercado que valoriza muito o conhecimento sobre a proveniência do pescado e aquilo que os americanos consomem.
Em que fase é que está esse novo projecto?
Já foi feito um piloto em Portugal e agora vamos alargar a um universo de utilizadores maior para testarmos vários conceitos inerentes à plataforma. Portugal é um país muito bom para se fazer o teste da tecnologia e do produto na sua definição plena. E em paralelo podemos estar a olhar para o mercado norte-americano.
E já concretizaram a entrada de uma sociedade de capital de risco portuguesa na Bitcliq?
Ainda não. Está prevista a entrada para o início de 2018, embora já esteja tudo acordado em termos de condições e de vontades. Para já, continuamos em modo 'bootstrapping': pagamos as nossas contas com aquilo que facturamos.
Os Estados Unidos podem ser um mercado relevante também a nível de investimento.
Penso que para a captação de capital fará sentido numa fase subsequente. Para já, um investimento à escala nacional é suficiente. Também não precisamos de ter já um investimento megalómano. Temos de fazer algum caminho e temos capital garantido para isso. Numa fase seguinte, então sim, esse investimento americano pode fazer todo o sentido.
Quais foram os critérios de avaliação?
O mérito de cada candidatura foi aferido pela combinação ponderada destes três critérios, de acordo com o regulamento do prémio.
1 O currículo da empresa e a robustez da ideia de negócio, atendendo em particular à valia, qualificação e resiliência dos empreendedores, assim como à "robustez e aderência" do plano de negócios.
2 A solidez dos resultados históricos ou previsionais, com foco nos resultados já alcançados e nas expectativas futuras e que estivessem devidamente fundamentadas.
3 O potencial de internacionalização, incluindo o conhecimento do mercado norte-americano e a capacitação da empresa para esse mesmo mercado.
Prémio "fora da prateleira"
Dois meses. É este o tempo que leva uma ideia suportada num plano de negócios a aceder a cerca de três biliões de consumidores, ou seja, a atingir potencialmente todo o mercado global em sede de comércio electrónico. Carlos Lobo dá a estimativa e admite de seguida que "não se pode exigir a um jovem empreendedor que tenha um modelo perfeito", até porque "nunca ninguém fez tudo sozinho". E foi para acompanhar estes novos projectos que surgiu esta parceria entre a FLAD e a EY, em que a iniciativa teve como pressuposto que "o prémio não é o fim em si mesmo".
"Este não é um concurso normal em que se dá um prémio para expor numa prateleira. Isto é uma fase introdutória num processo de crescimento e de amadurecimento, que obriga também os próprios empreendedores a amadurecerem. Na prática, é mais um estágio de preparação para um mundo muito competitivo e concorrencial, dando-lhes mais 'soft skills' e blindagem para os desafios que se avizinham no futuro", resumiu o líder do departamento Fiscal e do sector de Governo e Administração Pública na EY.
De que forma vai, a partir de agora, apoiar os 15 finalistas do FLAD.EY BUZZ USA? Carlos Lobo promete que, através das suas valências e da rede global, a consultora vai ajudar estas novas empresas não só na prospecção de novos mercados e na procura de investidores, mas a "fortalecer os seus planos de negócios, questionar as suas perspectivas e auxiliá-los a afinar algumas vertentes dos seus projectos".
O ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais sustentou ainda que a EY quer "contribuir com os seus conhecimentos e forças para fortalecer aqueles que de novo tentam aparecer no mercado" e pretende que tenham sucesso. Até porque, concluiu, "efectivamente, só com empresas portuguesas de sucesso a nível global é que a própria EY Portugal se desenvolverá no futuro dentro da sua rede".