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Bitcliq vence FLAD.EY BUZZ USA

A jovem empresa de tecnologia das Caldas da Rainha venceu a primeira edição do prémio lançado em conjunto com o Negócios e está de partida para um programa de imersão em Silicon Valley, nos Estados Unidos.

António Larguesa alarguesa@negocios.pt 08 de Janeiro de 2018 às 12:31
Luís Moutinho (NU-RISE), Salomé Trigo (Moldiject), Pedro Manuel (Bicliq) e Pedro Zamith (Helppier) ao lado de Vasco Rato, Eurico Brilhante Dias e Jorge Gabriel. Inês Lourenço
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A Bitcliq, empresa de base tecnológica localizada nas Caldas da Rainha, ganhou a primeira edição do prémio FLAD.EY BUZZ USA, lançado no primeiro trimestre de 2017 para distinguir jovens empresas portuguesas em crescimento, constituídas nos últimos cinco anos, mas já com alguma experiência no relacionamento com os Estados Unidos da América ou com planos de curto prazo para entrar naquele mercado.

O projecto empresarial criado em 2014 pelo engenheiro Pedro Manuel, que detém a plataforma de gestão de frotas de pesca "Big Eye Smart Fishing" e que está também a apostar na rastreabilidade digital para seguir o peixe do mar até ao supermercado, foi a "escolha quase unânime" do júri liderado por Jorge Gabriel, administrador da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), e constituído também por Sofia Tenreiro, directora geral da Cisco; por Duarte Pitta Ferraz, professor da Nova SBE; por Luís Manuel, administrador executivo da EDP Inovação; e por António Murta, sócio e co-fundador da Pathena.


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Distinções
Além da Bitcliq, o júri presidido por Jorge Gabriel premiou a Moldiject, a NU-RISE e a Helppier com três menções honrosas.


"Mais disputadas", segundo o presidente do júri, foram as três menções honrosas conhecidas igualmente a 20 de Dezembro, em Lisboa, na cerimónia de entrega deste prémio lançado pela FLAD e pela consultora EY, em associação com o Negócios, para promover e apoiar o esforço de internacionalização de micro, pequenas e médias empresas portuguesas na maior economia do mundo. Essas distinções foram atribuídas à Moldiject (indústria de moldes de Alcobaça), à tecnológica portuense Helppier e ainda à NU-RISE, uma start-up de Aveiro que está a inovar no tratamento do cancro.

Um prémio destes não é importante pelo que é atribuído. É um estímulo para os projectos que, por vezes, não têm o reconhecimento das instituições.  Vasco Rato
Presidente da FLAD

Em jeito de balanço, o presidente da FLAD, Vasco Rato, considerou que esta experiência-piloto "trata-se de um modelo interessante, que pode vir a ser ampliado e a fazer escola", frisando que "este tipo de iniciativas requer muitas vezes que alguém lidere o processo e que haja alguma publicidade sobre estes eventos até para incentivar as empresas". Lembrando as várias actividades realizadas pela fundação nos últimos quatro anos, direccionadas também para a internacionalização das empresas nacionais, particularizou que "um prémio destes não é importante pelo que é atribuído, mas pelo sinal e pelos horizontes que se dão às empresas", sendo "também um estímulo para os projectos que, por vezes, não têm o reconhecimento das instituições".

Imersão em Silicon Valley

Vencedora do FLAD.EY BUZZ USA, a Bitcliq vai ter como prémio um período de imersão de até quatro semanas, para duas pessoas, numa incubadora em São Francisco, na Califórnia. O programa ainda vai ser ajustado ao perfil e ao sector por parte da West to West, a parceira que vai acolher e acompanhar o premiado durante essas semanas, que foi criada há dois anos por portugueses da nova vaga da emigração e luso-descendentes que trabalham também na área tecnológica.

"Tipicamente, quando ajudamos empresas a conhecer melhor o que se faz em Silicon Valley tentamos mostrar-lhe tanto o lado das grandes tecnológicas, como empresas do ramo que interessa a quem está de visita. E depois ajudamos a encontrar os eventos certos para irem em São Francisco", descreveu Pedro Vieira, que lidera este grupo com perto de uma centena de especialistas locais e que conta com uma rede de contactos com mais de 50 investidores e incubadoras.

Mostramos o lado das grandes tecnológicas e as empresas do ramo. E ajudamos a encontrar os eventos certos para ir em São Francisco. Pedro Vieira
Fundador e presidente da associação West to West

O fundador e presidente desta associação americana sem fins lucrativos detalhou que, com o planeamento adequado, é "o tempo suficiente para uma primeira fase de apresentações e para fazer as primeiras relações". "Depois as empresas aproveitam essas ligações e vão-nas fortalecendo. Umas são relações de negócio propriamente ditas, em que contratos são feitos mais tarde; outras são para ajuda no desenvolvimento do produto ou do serviço, acabando por ter a ajuda dos agentes locais para construir algo mais ajustado ao mercado americano", acrescentou Pedro Vieira.


Perguntas a Pedro Manuel, Fundador e CEO da Bitcliq

"Temos um novo produto para a pesca artesanal"

A Bicliq fechou 2017 "um pouco acima" dos 250 mil euros facturados no ano anterior, metade dela na exportação. Até Fevereiro vai duplicar a equipa para 16 pessoas, para dar suporte aos novos projectos, incluindo nos EUA.

O que significa este prémio para a empresa Bitcliq?
É um reconhecimento do trabalho que temos vindo a desenvolver. Toda a equipa está de parabéns. E esta oportunidade de estarmos um mês em Silicon Valley, no maior ecossistema empreendedor do mundo, vai ser muito importante para os próximos passos que temos de dar, para ajudar a orientar um pouco algumas ideias e podermos definir um plano de execução que nos leve mais longe.

O que esperam desse período de imersão em Silicon Valley?
Irá valer por muito tempo em termos de intensidade. Vamos estar deslocados do nosso habitat normal, muito focados no projecto e no trabalho. E com a mentoria que podemos obter de pessoas com uma visão global e experiência na internacionalização, isso será muito enriquecedor para a nossa equipa.

Sendo que já trabalham com algumas indústrias nos EUA.
Sim, temos uma oferta para a gestão operacional em tempo real para grandes frotas e embarcações, mas temos agora um novo produto e uma nova ideia de endereçar a pesca de menor escala. A parte tecnológica é muito semelhante, mas o modelo de negócio é diferente para se adaptar a frotas artesanais, em que a venda do pescado passa a ter também um papel importante. Os EUA dão cada vez mais valor ao peixe, à proteína proveniente do mar; e o peixe selvagem está de alguma maneira em risco por haver uma 'sobrepesca' a nível geral. É um mercado que valoriza muito o conhecimento sobre a proveniência do pescado e aquilo que os americanos consomem.

Em que fase é que está esse novo projecto?
Já foi feito um piloto em Portugal e agora vamos alargar a um universo de utilizadores maior para testarmos vários conceitos inerentes à plataforma. Portugal é um país muito bom para se fazer o teste da tecnologia e do produto na sua definição plena. E em paralelo podemos estar a olhar para o mercado norte-americano.

E já concretizaram a entrada de uma sociedade de capital de risco portuguesa na Bitcliq?
Ainda não. Está prevista a entrada para o início de 2018, embora já esteja tudo acordado em termos de condições e de vontades. Para já, continuamos em modo 'bootstrapping': pagamos as nossas contas com aquilo que facturamos.

Os Estados Unidos podem ser um mercado relevante também a nível de investimento.
Penso que para a captação de capital fará sentido numa fase subsequente. Para já, um investimento à escala nacional é suficiente. Também não precisamos de ter já um investimento megalómano. Temos de fazer algum caminho e temos capital garantido para isso. Numa fase seguinte, então sim, esse investimento americano pode fazer todo o sentido. 


TOME NOTA

Quais foram os critérios de avaliação?

O mérito de cada candidatura foi aferido pela combinação ponderada destes três critérios, de acordo com o regulamento do prémio.

1 O currículo da empresa e a robustez da ideia de negócio, atendendo em particular à valia, qualificação e resiliência dos empreendedores, assim como à "robustez e aderência" do plano de negócios.

2 A solidez dos resultados históricos ou previsionais, com foco nos resultados já alcançados e nas expectativas futuras e que estivessem devidamente fundamentadas.

3 O potencial de internacionalização, incluindo o conhecimento do mercado norte-americano e a capacitação da empresa para esse mesmo mercado. 



Prémio "fora da prateleira"

Dois meses. É este o tempo que leva uma ideia suportada num plano de negócios a aceder a cerca de três biliões de consumidores, ou seja, a atingir potencialmente todo o mercado global em sede de comércio electrónico. Carlos Lobo dá a estimativa e admite de seguida que "não se pode exigir a um jovem empreendedor que tenha um modelo perfeito", até porque "nunca ninguém fez tudo sozinho". E foi para acompanhar estes novos projectos que surgiu esta parceria entre a FLAD e a EY, em que a iniciativa teve como pressuposto que "o prémio não é o fim em si mesmo".

"Este não é um concurso normal em que se dá um prémio para expor numa prateleira. Isto é uma fase introdutória num processo de crescimento e de amadurecimento, que obriga também os próprios empreendedores a amadurecerem. Na prática, é mais um estágio de preparação para um mundo muito competitivo e concorrencial, dando-lhes mais 'soft skills' e blindagem para os desafios que se avizinham no futuro", resumiu o líder do departamento Fiscal e do sector de Governo e Administração Pública na EY.

De que forma vai, a partir de agora, apoiar os 15 finalistas do FLAD.EY BUZZ USA? Carlos Lobo promete que, através das suas valências e da rede global, a consultora vai ajudar estas novas empresas não só na prospecção de novos mercados e na procura de investidores, mas a "fortalecer os seus planos de negócios, questionar as suas perspectivas e auxiliá-los a afinar algumas vertentes dos seus projectos".

O ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais sustentou ainda que a EY quer "contribuir com os seus conhecimentos e forças para fortalecer aqueles que de novo tentam aparecer no mercado" e pretende que tenham sucesso. Até porque, concluiu, "efectivamente, só com empresas portuguesas de sucesso a nível global é que a própria EY Portugal se desenvolverá no futuro dentro da sua rede". 


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