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Pneus agrícolas vão ajudar a rodar até aos mil milhões

Sozinha, a Continental Mabor factura mais do que as nove empresas do concelho que lhe tentam seguir os números. A sua nova coqueluche são os pneus agrícolas.

25 de Setembro de 2018 às 15:30
Paulo Duarte
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Há um certo secretismo em torno das operações da Continental Mabor. Mais de 90% do processo não pode ser fotografado e as patentes de Lousado ficam no silêncio. Regras são regras, não fosse a empresa de origem alemã.

Na fábrica famalicense, a coqueluche do momento é a LousAgro, a nova unidade de produção de pneus agrícolas, um sector que alguns trabalhadores já conhecem do tempo da operação a solo da Mabor. "A Continental saiu dos pneus agrícolas em 2005, mas voltou a equacionar, porque é uma área em franco desenvolvimento. Fez-se um concurso a nível mundial e Portugal ficou na short list, com a Roménia e a Eslováquia. Lousado não foi escolhida pelos custos da mão-de-obra - até porque estes países tinham-na mais barata -, mas pela qualidade, e por sermos uma equipa coesa e com expertise, porque muitos colegas já tinham trabalhado no sector. Depois, conseguimos incentivos do Estado português", descreve Pedro Carreira, que deixou Timisoara em 2013 para liderar este complexo.


62
Milhões de euros
Foram investidos em 2017 na fábrica de Lousado, a maior parte na LousAgro.

808
Milhões de euros
Foi o valor das exportações em 2016, mais de 70% para o mercado comunitário.

1990
O início
A alemã Continental chegou a Portugal, investindo mais de 800 milhões até 2017.


Há um ano arrancou a produção em série do segmento agrícola, mas o impacto na empresa apenas será avaliado no fecho do ano. No mundo dos ligeiros, que ocupa o grosso do negócio, "tudo" mudou na concepção e produção de um pneu. "Há muito que deixou de ser apenas o veículo de ligação do automóvel ao solo para ser algo cada vez mais vital para o conforto do condutor", nota Pedro Carreira. A empresa que não quiser perder terreno tem, por isso, de apostar na conectividade, engendrando sensores que emitam informações desde a pressão ao desgaste ou à temperatura.


Não vamos ver sensores, mas Armando Estevão, director de engenharia industrial, guia-nos numa visita ao colosso fabril de Famalicão. Na Continental há 28 anos e com um passado industrial noutras áreas, diz que nunca conheceu "uma indústria com tanta densidade de equipamento como esta". Não há, de facto, muitos espaços vagos nestes 236.000 metros quadrados de área coberta. "A fábrica está a expandir desde que existe", graceja o engenheiro. E se não há espaço no exterior, cresce internamente. "A variedade [de produção] é tanta que já não há espaço no chão; temos de crescer em altura", afirma o responsável, enquanto compostos de borracha deslizam no andar superior.

A meio da fábrica, já depois da misturação de compostos e da preparação de materiais a quente e a frio, em que são feitos os talões, pisos e paredes de cada peça, metros e metros de pisos sobem por um rolamento automático, sob o calor fabril. Dali saem milhares de "pneus em cru", "tudo igual, mas tudo diferente", até porque há 11 misturadoras e centenas de soluções possíveis. No total, saem de Lousado mais de 18 milhões de pneus por ano.

Crescer sobre 820 milhões

Em 2017, um novo recorde de vendas bateu nos 878 milhões de euros (em 2016, foram quase 831 milhões, segundo os dados da Informa D&B, e o objectivo é chegar aos mil milhões entre 2020 e 2022). Os resultados líquidos, no entanto, foram menos brilhantes - "ficaram 6,3% abaixo dos de 2016", nos 211,6 milhões de euros - travados pelo aumento do preço das matérias-primas e pela soma dos grandes investimentos.
As operações na fábrica da Continental Mabor, que chegou a Portugal em 1990, são rodeadas de um certo secretismo. Mais de 90% do processo não pode ser fotografado. A coqueluche do momento é a LousAgro, a nova unidade de produção de pneus agrícolas.
As operações na fábrica da Continental Mabor, que chegou a Portugal em 1990, são rodeadas de um certo secretismo. Mais de 90% do processo não pode ser fotografado. A coqueluche do momento é a LousAgro, a nova unidade de produção de pneus agrícolas. Paulo Duarte
Desde que a Continental chegou a Portugal, em 1990, até ao ano passado, somaram-se 820 milhões de investimento, 300 milhões dos quais nos últimos cinco anos. À volta dos pavilhões, continua o batimento das obras, crescem infra-estruturas e acessos (uma das longas lutas da Continental, que chegou a ameaçar recuar caso não se melhorassem as acessibilidades à fábrica). No plano imaterial, espera-se ainda que 2018 seja o "grande ano da recolha dos frutos" na área da inovação. A ideia não é apenas dizer "Engineered in Germany, Portuguese Quality", como se lê na T-shirt de um dos trabalhadores, mas mostrar que o que se cria em Portugal pode ser implementado noutras das 20 fábricas do grupo.

Voltamos à produção. Depois de construídas as carcaças, que são unidas aos "breakers", cintas têxteis e pisos, os pneus entram nas mais de 260 prensas vulcanizadoras. Só falta a inspecção final, que, não tarda, será 100% automática, tal como já acontece mais à frente, onde Kuka 4 e Kuka 3 descem os braços robóticos sobre os pneus em breve prontos a seguir em camiões para mais de 60 países. Tinha pensado em tudo isto antes de pôr o carro a trabalhar?



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