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Embraer: O pássaro industrial que põe Évora a cruzar hemisférios

Se voar num avião da Embraer, há uma forte probabilidade de que as asas (ou parte delas) tenham sido feitas em Portugal. Em metal ou compósito, Évora produz para as diferentes tipologias da fabricante brasileira. E prepara-se para ir ainda mais alto.

12 de Agosto de 2015 às 00:01
Pedro Elias
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Espaço para criar peças até aos 20 metros. Tudo é pensado em grande, à medida de um avião. À entrada do parque industrial de Évora, dois gigantescos pavilhões azuis e brancos rasgam a paisagem. Um oásis produtivo perdido entre temperaturas elevadas.

É um dos pólos da Embraer, a terceira maior fabricante aeronáutica do mundo. "Vir para a Europa fazia parte da estratégia. Évora foi onde encontrámos uma logística fácil para escoar as nossas exportações tanto pelo porto de Sines, como de Setúbal ou Lisboa", explica o presidente Paulo Marchioto.

Na prática, são duas fábricas: uma dedicada a estruturas metálicas e outra focada nas estruturas em compósitos (fibras de carbono, material mais leve e com vantagens na poupança de combustível). A separá-las uma longa rua. Vizinhas, frente a frente, com a mesma missão.

"Praticamente todos os aviões da Embraer" contam hoje com componentes produzidos em Évora. A zona da asa é a especialidade. Ao percorrer-se as instalações, o silêncio predomina. O ambiente é imaculado. Nem se diria que esta é uma fábrica. Surge o aviso que a unidade metálica é mais barulhenta, mas a diferença é irrisória.

Há tecnologia em Évora única no universo Embraer. Aqui trabalham-se peças de "criticidade máxima", sem qualquer substituto no avião. Por isso, os procedimentos de segurança têm de ser cumpridos ao milímetro. Funcionários concentrados verificam as peças que, por várias vezes, foram já analisadas por máquinas com jactos de água e ultra-som.

A determinado ponto do percurso, surgem os painéis de asa do KC-390, o avião militar que foi o primeiro cliente desta unidade. "O nosso trabalho foi em função de colocar Évora a diversificar produtos e ser fornecedora para a casa-mãe, para as três unidades de negócio", contextualiza Marchioto. Além da área da defesa, a aviação executiva e comercial também marcam presença. A última prepara-se para um voo ainda mais picado.

Novas esperanças

Depois da fase de protótipos, Évora quer produzir para a nova geração de jactos comerciais da Embraer, os E2. A unidade avançou já com uma candidatura a fundos comunitários, para arrecadar no mínimo 150 milhões de euros. "Já entrámos com os projectos, estão correndo conforme o cronograma. Esperamos que até ao final do ano haja uma decisão", adianta o presidente.

Mesmo que essa intenção não se concretize, há alternativas. Os ritmos de crescimento registados nos últimos balanços dão optimismo. Depois há um elemento da equação para destacar: "a chave do sucesso foi fazer uma parceria muito forte com o Governo, através do IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional), para preparar mão-de-obra".

A Embraer em Évora conta actualmente com 350 funcionários directos. Depois, existem outros 110 postos de trabalho indirectos no centro industrial. As contas apontam para um impacto total na região na ordem dos mil postos de trabalho. "Se as pessoas estiverem capacitadas e trabalhando felizes, o resultado aparece", diz Marchioto.

Para além das fábricas, a Embraer trouxe para Évora um centro de engenharia, aproveitando a vontade da cidade em aproveitar todas as externalidades possíveis à sua volta. "Começamos a dominar o ciclo completo desde a concepção até à fabricação de partes e peças de avião. Isso é um diferencial competitivo", justifica.

A vontade é de integrar ainda mais as empresas portuguesas neste processo, mas as propostas competitivas ainda escasseiam. Para afirmar Évora como um verdadeiro "cluster" [aglomerado] aeronáutico, é preciso adensar a cadeia de fornecimento local. Os primeiros passos estão a ser dados.

Do Alentejo saíram as maiores peças alguma vez produzidas para a gigante brasileira, mas também sonhos de viagens cada vez mais arriscadas. "Eu queria a Embraer a voar em Évora para sempre. Um investimento deste tipo veio para ficar", deseja Marchioto. Este pássaro industrial vai-se aninhando na comunidade. Sem soldaduras ou outras uniões forçadas. A aeronáutica prefere sempre assim.

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