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Fundação Eugénio de Almeida: "Ainda se medem as pessoas pelo que têm"

Maria do Céu Ramos nasceu em Évora. Depois de umas “aventuras” na política, onde foi secretária de Estado da Juventude no início da década de 1990, regressou às origens. À frente da Fundação Eugénio de Almeida, a responsável olha criticamente para a forma como a cidade se está a desenvolver. Faltam parcerias e envolvimento. Mas, acima de tudo, uma mudança na forma dos eborenses se sentirem parte da sua própria terra.

12 de Agosto de 2015 às 00:01
Pedro Elias
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Como vê o modo como Évora se está a desenvolver?

Falta um entrosamento muito forte entre as instituições públicas e privadas, que deixe para trás diferenças e saiba convergir numa visão comum de desenvolvimento. Não há uma dificuldade de trabalhar em conjunto no sentido de haver barreiras fortes. Não há tradição, uma dimensão natural e respiratória a fazê-lo. É todo um acontecimento e devia ser uma prática normal. Acho que num tempo de criar novos paradigmas, isso vai ter de acontecer. É decisivo para que Évora se transforme. Tem de ser a partir de dentro. Évora é uma cidade culturalmente muito fechada. O que Vergílio Ferreira escreveu na "Aparição" ainda tem alguma verdade no tempo de hoje. Ainda se medem as pessoas pelo que têm e não pelo que são capazes de gerar ou partilhar.

E a proximidade a Lisboa, como se lida com ela?

É uma equação muito concreta e operativa que falta também resolver. É um benefício mas também uma limitação. Para Lisboa, felizmente, as acessibilidades são boas e seguras. Quer as pessoas daqui quer os que vêm de fora acabam por se implicar pouco na vivência e no crescimento da cidade, em fazer dela uma cidade em si. Do ponto de vista do turismo esse é o grande desafio: fixar as pessoas aqui, porque vêm de Lisboa e voltam ao fim do dia, não permanecem.

Esse processo tem de ser feito também com os locais?

Em termos das pessoas de Évora, sentirem que Évora tem interesse suficiente, que tem capacidade de gerar conhecimento, comunicação. Às vezes, a nossa concorrência quando fazemos um festival ou exposição está em Lisboa. É esse o problema, a situação concreta de Évora: feita de uma grande proximidade altamente benigna a Lisboa, mas por outro lado dificulta o enraizamento dos visitantes por mais um tempo e a ligação profunda destas pessoas à sua comunidade, acreditando que ela tem capacidade de ser tudo em si.

É então uma transformação que terá, inevitavelmente, de passar pela massa anónima de Évora?

Às vezes, os grandes nomes ofuscam um bocadinho o potencial do anonimato criador e gerador de energia vital. Tem de haver uma coligação entre os grandes nomes e anónimos. Na massa anónima, há energia vital que tem de ser catalisada e canalizada, porque essa é verdadeiramente transformadora.

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