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Fed confirma primeiro corte de juros em 10 anos
Tal como era esperado pelo mercado, a entidade liderada por Jerome Powell confirmou o primeiro corte de juros em mais de 10 anos. A entidade justifica a decisão com as incertezas ao 'outlook' económico.
A Reserva Federal dos EUA anunciou esta quarta-feira um corte da sua taxa de referência de 25 pontos base. Este corte – o primeiro desde a crise financeira – era amplamente antecipado pelo mercado e coloca fim a uma tentativa de normalização das taxas de juro, nos últimos anos. A entidade justifica a decisão com as incertezas que permanecem na economia e adianta que vai continuar a monitorizar as implicações destas incertezas para a economia, deixando em aberto a possibilidade de novos cortes.
O Comité Federal do Mercado Aberto (FOMC, na sigla original) colocou a taxa dos fundos federais num intervalo entre 2% e 2,25%. A última vez em que a entidade tinha descido juros foi em dezembro de 2008, em plena crise financeira, quando a instituição reduziu a taxa para um intervalo entre 0% e 0,25%. Os juros permaneceram em valores nulos durante um período de sete anos, até ao final de 2015.
A Fed realizou o primeiro aumento (de 25 pontos base) em Dezembro de 2015 e posteriormente voltou a aumentar em 25 pontos base a taxa diretora em Dezembro de 2016. Seguiram-se mais três subidas de 25 pontos base em 2017 e mais quatro aumentos em 2018.
"Consistente com o seu mandato, o comité procura promover o máximo de emprego e estabilidade de preços. Face às implicações dos desenvolvimentos globais para o 'outlook' económico, bem como as pressões inflacionistas moderadas, o Comité decidiu baixar o intervalo da taxa dos fundos federais para 2% e 2,25%", anunciou a entidade em comunicado. No mesmo documento, o banco central dos EUA destaca que para as próximas decisões sobre os juros vai continuar a "monitorizar as implicações da informação futura sobre o outlook económico e vai agir de forma apropriada para sustentar a expansão, com um mercado laboral forte e a inflação próxima do seu objetivo de 2%".
A entidade deixa, assim, em aberto a possibilidade de novas descidas de juros, caso as condições económicas e a evolução da criação de emprego dê sinais de abrandamento. Segundo a informação divulgada no mesmo documento, o comité decidirá em função das condições do mercado laboral, indicadores de inflação e desenvolvimentos financeiros e internacionais.
A expectativa, até ao final do ano passado, era que a entidade liderada por Powell continuasse ao longo deste ano a normalizar as taxas de juro. Mas, o presidente da Fed surpreendeu os investidores no início do ano com uma mudança no seu discurso, perante os riscos à economia colocados pela guerra comercial e outros riscos políticos, como o Brexit. Desde então tem vindo a preparar o mercado para uma redução dos juros.
"O cenário para uma política um pouco mais acomodatícia fortaleceu-se", argumentou Jerome Powell, na reunião de junho, adiantando que a entidade a que preside está preparada para usar as ferramentas necessárias para ajudar no crescimento económico. Powell admitiu, entretanto, que as preocupações em torno da política comercial e uma economia global fraca "continuam a pesar nas perspetivas para a economia dos EUA" e que o banco central se mantém "preparado para agir de forma apropriada".
Trump critica... de novo
O presidente norte-americano já reagiu, e com desagrado. Na sua rede social de eleição, o Twitter, Donald Trump escreveu que "Como já é habitual, Powell desiludiu-nos". Isto porque considerou que o corte de 25 pontos base foi insuficiente.
....As usual, Powell let us down, but at least he is ending quantitative tightening, which shouldn’t have started in the first place - no inflation. We are winning anyway, but I am certainly not getting much help from the Federal Reserve!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) July 31, 2019
"Pelo menos está a acabar com a redução dos estímulos monetários, algo que nem sequer deveria ter começado", acrescentou.
Novas descidas no horizonte?
Mais do que o anúncio de hoje, os analistas consideram que é importante perceber quem se manifestou contra a descida de juros – vários responsáveis têm indicado a sua oposição a um corte das taxas sem evidências de uma travagem na economia – e perceber se Jerome Powell vai mostrar abertura para uma nova mexida nos juros, na reunião de setembro.
"Jerome Powell pode usar a conferência de imprensa desta semana para dar alguma orientação no que poderia levar o Comité a fazer cortes de segurança adicionais para lá de julho", defende o RaboBank, que acredita que a Fed terá que voltar a cortar juros por mais que uma ocasião no futuro.
Além do corte desta reunião, a maioria dos analistas antecipa uma segunda redução depois do verão. "Os nossos economistas esperam que a economia dos EUA permaneça numa tendência saudável, o que deverá limitar a ação da Fed a dois cortes de 25 pontos base este ano (um agora e outro em setembro)", defende o Goldman Sachs.
Ainda que o consenso apontasse para um corte de 25 pontos base, há entidades que esperavam mexidas mais expressivas. "Diante da desaceleração do crescimento económico global, das contínuas tensões comerciais e da perspetiva de um ‘hard Brexit’, o FOMC parece preparado para anunciar uma redução nos juros na sua próxima reunião. Esperamos um corte de 50 pontos base que vai dar início a um novo ciclo de corte nos juros, e achamos que os mercados vão reagir favoravelmente", antecipa Franck Dixmier, responsável global pela dívida da Allianz Global Investors.