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Holanda junta-se à Alemanha e também já tem taxa negativa na dívida a 30 anos

Os investidores têm de pagar para adquirir obrigações soberanas holandesas com prazo a 30 anos, tal como sucede com a dívida alemã com a mesma maturidade. Escalada na disputa comercial EUA-China e sinais abrandamento da economia global deixam juros na Zona Euro em mínimos históricos a 10 e 30 anos.

David Santiago dsantiago@negocios.pt 05 de Agosto de 2019 às 14:00

Depois da Alemanha a Holanda. Os dois países colocam dívida soberana a 30 anos com taxas negativas, o que significa que os investidores têm de pagar para adquirir, no mercado secundário, títulos com aquela maturidade.

Na passada sexta-feira foi a Alemanha que, pela primeira vez, viu a "yield" exigida pelos investidores para comprarem obrigações (bunds) germânicas recuar para valores negativos. Esta segunda-feira foi a vez da Holanda, também pela primeira vez, assistir ao recuo da "yield" correspondente aos títulos soberanos cair para menos de zero.

Esta manhã, as taxas de juro associadas às obrigações da Holanda e da Alemanha com prazo a 30 anos estabeleceram mesmo novos mínimos de sempre, respetivamente de -0,0539% e de -0,0665%.

Tendência idêntica à verificada na negociação da dívida com o prazo de referência a 10 anos, já que as taxas de juro correspondentes aos títulos naquele prazo já negociaram esta segunda-feira em novos mínimos históricos (-0,4216% no caso holandês e -0,5377% no caso alemão).

Os rendimentos relativos às dívidas destes dois países da área do euro são assim negativos em todas as maturidades, pelo que se juntam à Dinamarca (Estado-membro da União Europeia que não integra a Zona Euro) e à Suíça (tem taxas negativas até à maturidade de 50 anos), dois Estados que já beneficiavam de juros abaixo de zero em todos os prazos. Desta forma, a Alemanha e a Holanda conseguem endividar-se no mercado secundário sem terem de pagar juros.

A acentuada baixa dos juros das dívidas abrange, de uma forma geral, o conjunto da Zona Euro, região onde, em termos médios, as "yields" referentes às obrigações de dívida a 10 e 30 anos seguem esta segunda-feira a negociar nos valores mais baixos de sempre.

Também Portugal está a tirar proveito deste movimento de alívio dos juros e nesta manhã a taxa das obrigações a 10 anos tocou nos 0,2511%, um novo mínimo histórico.

Trump aumenta protecionismo e juros caem

A motivar a curva descendente dos juros das dívidas está sobretudo a política protecionista da administração norte-americana liderada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Depois de nova ronda negocial sem progressos, Trump anunciou a aplicação de uma taxa aduaneira agravada de 10% sobre bens chineses equivalentes a 300 mil milhões de dólares, decisão que levou a China a prometer retaliar na mesma moeda. A resposta, ou pelo menos parte dela, chegou esta manhã com Pequim a desvalroizar o yuan para o valor mais baixo em mais de 10 anos (o que reforça a competitividade das exportações chinesas) e decidiu suspender a compra de bens agrícolas americanos por parte das empresas do setor estatal chinês.

O receio dos investidores quanto a uma nova escalada na disputa comercial EUA-China capaz de alimentar uma espiral protecionista desestabilizadora do comércio global está a contribuir para reforçar o apetite dos investidores pelo mercado de obrigações.

Relativamente à Zona Euro, a dívida alemã é encarada como a mais segura, o que leva os investidores a aceitar pagar para deterem títulos do Tesouro germânico, considerando ser mais seguro o investimento em obrigações do que noutro tipo de ativos.

Por outro lado, uma potencial escalada na disputa comercial entre as duas maiores economias mundiais eleva o receio quanto a uma recessão global, o que leva os bancos centrais a reforçarem as respetivas políticas de estímulo económico.

A Reserva Federal dos EUA decretou, na semana passada, o primeiro corte dos juros diretores em 10 anos, e o Banco Central Europeu abriu a porta a uma descida dos juros dos depósitos na em setembro.

Os sinais de abrandamento económico, em particular na Alemanha, o motor da Zona Euro, são outro fator que conduz ao pessimismo dos investidores quanto à evolução da conjuntura mundial. Surgem, nesta fase, indicadores que apontam para uma possível entrada em recessão por parte da Alemanha.

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