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SAD já foram buscar mais de 450 milhões ao mercado. Benfica lidera o campeonato

Desde 2002 as SAD colocaram 464 milhões de euros em obrigações. Mais de um terço desse valor foi encaixado no último ano e meio, com os clubes a irem a jogo nos mercados para fintarem a estratégia mais defensiva dos bancos.

07 de Maio de 2016 às 16:00
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Não há épocas futebolísticas que não tenham polémicas, reforços promissores, contratações falhadas, casos de arbitragem, grandes jogadas e falhanços épicos. E também não há temporada em que as SAD não recorram ao mercado para se financiar. Desde 2002 que todos os anos houve pelo menos uma SAD a emitir obrigações. No total, estas operações permitiram angariar 464 milhões de euros. Grande parte desse montante serviu para refinanciar obrigações que foram vencendo.

 

A fasquia dos 450 milhões de euros foi superada na última semana, com a emissão de 50 milhões de euros pelo Benfica, a maior de sempre entre os clubes portugueses. A SAD liderada por Luís Filipe Vieira lidera o campeonato do recurso ao mercado. Desde 2004 já obteve financiamento de 215 milhões de euros através de obrigações. O Porto angariou 150 milhões de euros desde 2003 e o Sporting 99 milhões desde 2002.

 

Com a banca em modo defensivo em relação às SAD, os clubes têm privilegiado a táctica do financiamento no mercado. Só desde 2015, emitiram 170 milhões de euros, mais de um terço do total dos últimos 14 anos.


 

Lotações esgotadas na emissão de obrigações

"As SAD do Benfica e do Porto são as que têm recorrido mais a este tipo de financiamento nos últimos dez anos. Principalmente porque têm capacidade de gerar 'cash flow' com vendas de jogadores, o que dá alguma confiança de que no final do período têm capacidade para reembolsar os empréstimos obrigacionistas, já que com a venda dos passes de um ou de dois jogadores podem garantir verbas para amortizar as obrigações", explica António Samagaio, professor de auditoria e controlo de gestão .

 

O menor valor emitido pelo Sporting é explicado pela "acumulação de dívidas gigantes nos mandatos anteriores" e pelas "condições impostas pelos bancos na gestão dos activos", segundo António Samagaio. Em 2011, por exemplo, a SAD dos leões tiveram de pagar uma taxa de 9,25% para colocarem 20 milhões de euros. No entanto, em 2015 o Sporting conseguiu colocar 30 milhões de euros com uma taxa de 6,25% e com uma procura de 2,57 vezes a oferta.

 

Já na emissão de 50 milhões de euros desta semana do Benfica, que oferecia uma taxa de 4,25%, a procura excedeu em 2,59 vezes a oferta. Os encarnados já realizaram operações no passado em que os investidores deram ordens em mais do triplo do valor em oferta. Por seu lado, o Porto chegou a ter, em 2014, um rácio de procura sobre a oferta de 13 vezes, numa emissão de 20 milhões de euros com um juro de 6,75%. Dadas as diferentes dadas daquelas operações, as taxas podem não ser directamente comparáveis.

 

A justificar o facto destas operações registarem lotações esgotadas estão "as elevadas taxas de juro oferecidas, o prazo não muito longo das emissões (que tendem a não ultrapassar os três anos) e também o investimento por parte de adeptos que aproveitam para financiar o seu clube", segundo António Samagaio.

 

Banca ou mercado, qual a melhor táctica?

 

Domingos Soares de Oliveira, administrador financeiro da Benfica SAD, observou esta semana na apresentação de resultados da emissão de obrigações que o financiamento através deste tipo de instrumentos tem um peso cada vez maior. O responsável dos encarnados constatou o recurso a crédito bancário por parte das SAD é "extremamente difícil".

 

No entanto, para António Samagaio, até pode ser mais benéfico para as SAD recorrerem às obrigações do que aos bancos para se financiarem. "Os empréstimos concedidos pela banca têm colaterais, como receitas televisivas ou passes de jogadores e isso não acontece nas obrigações. Neste último caso, as SAD ficam com uma gestão mais livre e a pressão tende a ser menor, como fica patente nas notícias que costumam surgir sobre os bancos ou fundos de investimento a pressionarem os clubes a vender jogadores".


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Obrigações têm evitado o fora-de-jogo

 

Até agora, nenhuma SAD incumpriu com o pagamento de taxas ou de vencimentos das obrigações que têm vindo a emitir para o retalho. Isto apesar de serem amortizadas com a emissão de novos títulos. Na operação concretizada pelo Benfica, por exemplo, uma parte significativa do valor servirá para refinanciar obrigações no valor de 45 milhões de euros colocadas em 2013 e que atingiram este ano a maturidade.

 

"Há um historial de sucesso do refinanciamento. É uma espécie de referência circular. Como no passado correu bem há uma injecção de confiança que ajuda a alimentar o ciclo de refinanciamento", observa António Samagaio. Isto apesar dos riscos inerentes a estes investimentos. "É um investimento que tem taxas mais atractivas que outras alternativas, mas também tem mais risco", explica o professor do ISEG.

 

Samagaio realça que os investidores também têm colocado quantias não muito elevadas nestas aplicações. Na última emissão do Benfica, por exemplo, 73% dos investidores não aplicaram mais que cinco mil euros. Apesar dos riscos, Samagaio refere que "as regras do fair play financeiro e o actual contexto bancário, de uma concessão mais criteriosa de crédito, levarão a que os clubes não se endividem tanto para financiar défices de exploração".


 

Mas e se o interesse que os investidores têm mostrado por obrigações das SAD diminuir no futuro, levando a dificuldades de refinanciamento? "Teria de haver a entrada de investidores estratégicos, caso as SAD necessitassem de financiar-se de forma agressiva. Isso já se viu por outras paragens, como no caso do Valência", conclui António Samagaio.  

 

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