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Já há 12 biliões em obrigações soberanas com juros negativos

Os juros negativos invadiram as obrigações soberanas na Europa nos últimos meses. O discurso de Draghi intensificou essa tendência, levando para máximos o montante de dívida com "yield" em terreno negativo.

Clodagh Kilcoyne/Reuters
19 de Junho de 2019 às 07:53
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A indicação de que poderá haver mais estímulos à economia europeia dada ontem pelo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, bastou para baixar ainda mais os juros da dívida pública dos países da União Europeia no mercado secundário.

As obrigações francesas, suecas e austríacas acabaram mesmo por entrar em terreno negativo, levando o montante de dívida soberana com juros negativos para os 12,5 biliões de dólares (cerca de 11,17 biliões de euros). Este é o valor mais elevado de sempre, segundo os dados da Bloomberg. 

Se as perspetivas económicas não melhorarem e a inflação não recuperar, "serão necessárias medidas de estímulo adicionais", afirmou Mario Draghi no arranque do primeiro dia de trabalhos da sexta edição do Fórum BCE, em Sintra. Estas foram as palavras mágicas que provocaram uma reação imediata nos mercados, nomeadamente a descida dos juros soberanos. 

Poucas horas depois de Draghi ter falado, os juros a dez anos da dívida francesa chegavam pela primeira vez aos 0% e passariam a negociar em terreno negativo. O mesmo aconteceria à dívida sueca - país que está fora da Zona Euro, mas que faz parte da União Europeia - e austríaca. Em termos simples, isto quer dizer que os investidores não "cobram" a estes países para emprestar dinheiro durante uma década.

Estes países juntam-se assim à Alemanha onde todos os prazos das obrigações soberanas até 15 anos negoceiam em terreno negativo. No caso da Suíça, a dívida pública negoceia com juros negativos no prazo até 30 anos. Para prazos mais curtos também é possível encontrar juros negativos noutros países europeus como Malta, Bulgária, Itália, Espanha ou mesmo Portugal que, há cerca de três semanas, viu os juros a 5 anos entrar em terreno negativo pela primeira vez.

Com medidas de política monetária não convencionais no terreno e mais a caminho, o que se observa nos mercados também está longe de ser comum. "Estou nesta área há 50 anos e nunca nesse período eu achei que 12 biliões de dólares iam ter juros negativos", admitiu David Kotok, chairman da Cumberland Advisors, em declarações à Bloomberg. 

O "rally" das obrigações europeias enfrentará esta quarta-feira, 19 de junho, um obstáculo do outro lado do Atlântico. A Reserva Federal divulgará ao final da tarde a decisão da reunião de política monetária, o que poderá mexer com as expectativas dos investidores.

Ainda que nenhum economista questionado pela Bloomberg antecipe uma descida dos juros, os mercados aguardam pelos sinais que Jerome Powell, presidente da Fed, dará sobre a evolução da economia. Recentemente, Powell admitiu a possibilidade de baixar os juros, mas apenas se for estritamente necessário.

No caso dos EUA, os juros da dívida pública a dez anos estão longe dos 0%, negociando neste momento acima dos 2%. O mínimo histórico foi alcançado em julho de 2016 nos 1,32%. Contudo, caso a Fed comece novamente a adotar uma política mais acomodatícia, é expectável que os juros das obrigações norte-americanas comecem também a baixar.

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