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O sub-20 do petróleo está aí. E Trump quer pagar para matéria-prima ficar nos poços

À conta das transbordantes reservas de crude nos EUA, num contexto de oferta cada vez mais excedentária no mercado face à forte queda da procura, a Administração Trump está a ponderar pagar os produtores para manterem a prospeção parada.

As cotações do petróleo estão em mínimos de 2002, arrastadas pela quebra da  oferta devido ao surto da covid-19.
Angus Mordant/Reuters
15 de Abril de 2020 às 23:16
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O petróleo sub-20 dólares já chegou, diz a CNN Business. E isto apesar da intervenção dos grandes países produtores, cujo corte de produção a partir do próximo mês deverá ascender a 19,5 milhões de barris por dia.

 

Mas um dos problemas reside precisamente no período temporal, pois só em maio é que a retirada de crude começará a ser efetivada, pelo que este mês continua a chegar muito "ouro negro" a um mercado fortemente penalizado pela queda da procura - que a Agência Internacional da Energia (AIE) prevê que diminua em 29 milhões de barris diários em abril devido às medidas de confinamento decorrentes da pandemia de covid-19 que reduziram a utilização de veículos e retraíram a atividade económica.

 

O presidente norte-americano, Donald Trump, esteve pessoalmente envolvido nas negociações de corte da produção do chamado grupo OPEP+ (os 13 membros do cartel petrolífero e seus aliados – que foram desta vez em maior número) e não se comprometeu com uma redução da oferta porque, disse, os preços mais baixos do crude significam que a sua produção já diminuiu em cerca de dois milhões de barris.

 

Entretanto, hoje ao fim do dia a Administração Trump disse estar a ponderar pagar aos produtores petrolíferos norte-americanos para deixarem o crude nos poços. Ou seja, quer pagar para que as perfuradoras não trabalhem.

 

Esta quarta-feira, a AIE sublinhou que os EUA registarão uma queda "sem precedentes" na sua produção de petróleo este ano devido aos baixos preços – que dificultam grandemente a vida às empresas do "shale oil" [petróleo extraído das rochas de xisto betuminoso] norte-americano – e aos elevadíssimos stocks desta matéria-prima no país.

 

À conta deste panorama os preços do petróleo afundaram ainda mais na sessão de hoje – o West Texas Intermediate, referência para os EUA, negociou em mínimos de 18 anos, nos 19,20 dólares por barril.

As reservas norte-americanas de crude aumentaram em 19,2 milhões de barris na semana passada, anunciou esta quarta-feira o Departamento norte-americano da Energia. Foi o maior incremento semanal desde que estes dados começaram a ser compilados, em 1982.

 

Os inventários de crude dos EUA estão agora acima de 500 milhões de barris – pela primeira vez desde junho de 2017, segundo os dados da ClipperData.

Por outro lado, a AIE referiu hoje que o espaço para armazenar petróleo vai acabar em algumas semanas. A atual queda das cotações tem levado muitas refinarias a cortarem drasticamente o processamento da matéria-prima. Além disso, há já empresas de prospeção que estão a suspender o bombeamento – só que, agora, as norte-americanas, poderão começar a ser compensadas monetariamente por isso, se a Administração Trump concretizar a sua ideia – e os superpetroleiros começam a encher-se em todo o mundo devido à falta de espaço de armazenamento em terra.

Uma semana de Páscoa frenética

 

Após quatro dias de videoconferências, os 23 membros da OPEP+ anunciaram no domingo de Páscoa a redução de 9,7 milhões de barris por dia na sua produção a partir do próximo mês – um volume inferior aos 10 milhões acordados inicialmente e que representa cerca de 10% da oferta mundial. Foi o entendimento possível, devido ao finca-pé do México, que acabou por conseguir o que pretendia: um corte de apenas 100.000 barris por dia.

 

Entretanto, o ministro saudita da Energia, o príncipe Abdulaziz bin Salman, veio dizer que o corte efetivo da OPEP+ será de 12,5 milhões de barris por dia devido ao facto de a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Koweit terem produzido em abril acima da quota que lhes correspondia antes deste entendimento.

Além disso, Bin Salman declarou que o G20 se comprometeu a cortar 3,7 milhões de barris por dia e que as compras para as reservas estratégicas ascenderão a cerca de 200 milhões de barris em maio em junho (em torno de 3,3 milhões de barris por dia), o que eleva a redução total para perto de 19,5 milhões de barris diários.

Mas há mais: fora da OPEP+, o Canadá mostrou disponibilidade para diminuir a sua produção e a Noruega referiu que irá decidir nesse sentido "muito em breve". Por seu lado, os EUA, onde a legislação antitrust dificulta uma concertação com grupos como a OPEP, sublinharam que os preços mais baixos do crude já cortaram significativamente a sua produção, visto que há empresas que não estão a conseguir operar com cotações na casa dos 20 dólares (e que hoje ficaram abaixo desse patamar).

 

O corte total do cartel e dos países não-OPEP, aos quais se juntam novos aliados, poderá então ascender a cerca de 19,5 milhões de barris por dia quando todos os anúncios de redução tiverem sido formalmente feitos. O Presidente norte-americano deu força a este cenário ao dizer que está a ser trabalhada uma retirada total de 20 milhões de barris diários do mercado. "O volume que a OPEP tem em mente é de 20 milhões de barris por dia e não os 10 milhões que têm sido reportados", afirmou Donald Trump.

Ainda assim, atendendo a que a redução da procura deve rondar este mês os 29 milhões de barris por dia (que corresponde a cerca de 30% da procura mundial) - e não se prevê melhoria em maio -, nem esses 20 milhões de barris diários conseguirão compensar a queda no consumo. 

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