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O sub-20 do petróleo está aí. E Trump quer pagar para matéria-prima ficar nos poços
À conta das transbordantes reservas de crude nos EUA, num contexto de oferta cada vez mais excedentária no mercado face à forte queda da procura, a Administração Trump está a ponderar pagar os produtores para manterem a prospeção parada.
O petróleo sub-20 dólares já chegou, diz a CNN Business. E isto apesar da intervenção dos grandes países produtores, cujo corte de produção a partir do próximo mês deverá ascender a 19,5 milhões de barris por dia.
Mas um dos problemas reside precisamente no período temporal, pois só em maio é que a retirada de crude começará a ser efetivada, pelo que este mês continua a chegar muito "ouro negro" a um mercado fortemente penalizado pela queda da procura - que a Agência Internacional da Energia (AIE) prevê que diminua em 29 milhões de barris diários em abril devido às medidas de confinamento decorrentes da pandemia de covid-19 que reduziram a utilização de veículos e retraíram a atividade económica.
O presidente norte-americano, Donald Trump, esteve pessoalmente envolvido nas negociações de corte da produção do chamado grupo OPEP+ (os 13 membros do cartel petrolífero e seus aliados – que foram desta vez em maior número) e não se comprometeu com uma redução da oferta porque, disse, os preços mais baixos do crude significam que a sua produção já diminuiu em cerca de dois milhões de barris.
Entretanto, hoje ao fim do dia a Administração Trump disse estar a ponderar pagar aos produtores petrolíferos norte-americanos para deixarem o crude nos poços. Ou seja, quer pagar para que as perfuradoras não trabalhem.
Esta quarta-feira, a AIE sublinhou que os EUA registarão uma queda "sem precedentes" na sua produção de petróleo este ano devido aos baixos preços – que dificultam grandemente a vida às empresas do "shale oil" [petróleo extraído das rochas de xisto betuminoso] norte-americano – e aos elevadíssimos stocks desta matéria-prima no país.
À conta deste panorama os preços do petróleo afundaram ainda mais na sessão de hoje – o West Texas Intermediate, referência para os EUA, negociou em mínimos de 18 anos, nos 19,20 dólares por barril.
As reservas norte-americanas de crude aumentaram em 19,2 milhões de barris na semana passada, anunciou esta quarta-feira o Departamento norte-americano da Energia. Foi o maior incremento semanal desde que estes dados começaram a ser compilados, em 1982.
Os inventários de crude dos EUA estão agora acima de 500 milhões de barris – pela primeira vez desde junho de 2017, segundo os dados da ClipperData.
Por outro lado, a AIE referiu hoje que o espaço para armazenar petróleo vai acabar em algumas semanas. A atual queda das cotações tem levado muitas refinarias a cortarem drasticamente o processamento da matéria-prima. Além disso, há já empresas de prospeção que estão a suspender o bombeamento – só que, agora, as norte-americanas, poderão começar a ser compensadas monetariamente por isso, se a Administração Trump concretizar a sua ideia – e os superpetroleiros começam a encher-se em todo o mundo devido à falta de espaço de armazenamento em terra.
Uma semana de Páscoa frenética
Após quatro dias de videoconferências, os 23 membros da OPEP+ anunciaram no domingo de Páscoa a redução de 9,7 milhões de barris por dia na sua produção a partir do próximo mês – um volume inferior aos 10 milhões acordados inicialmente e que representa cerca de 10% da oferta mundial. Foi o entendimento possível, devido ao finca-pé do México, que acabou por conseguir o que pretendia: um corte de apenas 100.000 barris por dia.
Entretanto, o ministro saudita da Energia, o príncipe Abdulaziz bin Salman, veio dizer que o corte efetivo da OPEP+ será de 12,5 milhões de barris por dia devido ao facto de a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Koweit terem produzido em abril acima da quota que lhes correspondia antes deste entendimento.
Além disso, Bin Salman declarou que o G20 se comprometeu a cortar 3,7 milhões de barris por dia e que as compras para as reservas estratégicas ascenderão a cerca de 200 milhões de barris em maio em junho (em torno de 3,3 milhões de barris por dia), o que eleva a redução total para perto de 19,5 milhões de barris diários.
O corte total do cartel e dos países não-OPEP, aos quais se juntam novos aliados, poderá então ascender a cerca de 19,5 milhões de barris por dia quando todos os anúncios de redução tiverem sido formalmente feitos. O Presidente norte-americano deu força a este cenário ao dizer que está a ser trabalhada uma retirada total de 20 milhões de barris diários do mercado. "O volume que a OPEP tem em mente é de 20 milhões de barris por dia e não os 10 milhões que têm sido reportados", afirmou Donald Trump.