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AIE: Efeito dos cortes na oferta ainda incerto. EUA aumentam influência e produção
Para a Agência Internacional de Energia é "demasiado cedo" para prever se os cortes na produção de petróleo vão de facto determinar uma subida nos preços - uma opinião partilhada pela própria OPEP. Há um gigante em desacordo que pode baralhar as contas: os EUA.
Menos de uma semana após a reunião da OPEP+ (OPEP e aliados), na qual foram acordados cortes na produção com o objectivo de elevar os preços da matéria-prima, são lançados dois relatórios que nivelam as expectativas. OPEP e a Agência Internacional de Energia (AIE) concordam nos respectivos documentos que os cortes definidos pelo cartel podem não ser suficientes para inverter os preços do "ouro negro". E a agência sublinha ainda um outro factor que pode baralhar as contas da OPEP: a crescente importância dos Estados Unidos no mercdao de petróleo.
Em Novembro, a OPEP produziu mais de 33 milhões de barris por dia, muito acima dos 31,6 milhões que a AIE estima serem necessários. O corte de 1,2 milhões por dia poderá, desta forma, não ser suficiente para contrariar o excesso de oferta no mercado: "O tempo dirá o quão eficiente será o novo acordo de produção", escreve a agência no relatório publicado esta quinta-feira, deixando contudo a ressalva de que a produção no Irão e na Venezuela pode continuar em declínio.
A análise lançada um dia antes pela própria OPEP indicava que os cortes agora acordados podem ser suficientes para equilibrar oferta e procura durante os primeiros seis meses de 2019 mas, no quarto trimestre, poderá ser necessário duplicar a contenção.
Actualmente, o barril de petróleo está a negociar em bear market, isto é, mais de 20% abaixo dos preços atingidos no último pico, em Outubro. O barril de Brent, referência para a Europa, está a cair 0,22% para os 60,02 dólares, cerca de 31% abaixo dos 86,74 dólares registados a 3 de Outubro.
Estados Unidos com "influência crescente"
Os Estados Unidos não fazem parte do grupo OPEP+, mas são um dos três intervenientes de maior peso no mercado, a par da Arábia Saudita e da Rússia, relembra a AIE. "Apesar de os Estados Unidos não terem estado presentes em Viena, ninguém pode ignorar a sua influência crescente", escreve a agência no relatório.
A ilustrar esta importância estão os recentes dados de produção – lançados enquanto a OPEP se reunia – os quais revelam que os Estados Unidos são um país exportador pela primeira vez desde 1991, com uma queda dramática nas importações. "Enquanto a produção cresce inexoravelmente, as importações vão reduzir e as exportações crescentes vão permitir competir em vários mercados, incluindo em alguns dos países que estiveram em Viena na semana passada", analisa a autoridade internacional de energia.
A Arábia Saudita e a Rússia continuam a ter um grande poder em determinar o futuro da produção, mas o facto de o presidente norte-americano ter reiterado por várias vezes – muitas através do Twitter – que defende a manutenção dos preços do petróleo no nível actual, pode interferir na acção das duas nações a leste. Isto apesar de a AIE prever que "os produtores (norte-americanos) vão querer os preços altos o suficiente para encorajar o investimento".