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Bons retornos impõem cautela

Em 2003, a Goldman Sachs elegeu o Brasil, a Rússia, a Índia e a China (BRIC) como as quatro economias dominantes dentro de 50 anos. O forte crescimento económico dos últimos anos deverá continuar, suportado na procura pelas matérias-primas em que estes países são ricos. E também pela rápida emergência de uma classe média, ávida de consumo, de entre uma população que representa 45% do total mundial.

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Este dinamismo despertou o interesse dos investidores, multiplicando o valor das acções, deixando alguns destes mercados pouco atractivos. A inflação assumiu-se entretanto como uma ameaça. Tudo isto exige cautela ao investidor que queira construir uma carteira com os BRIC e, sobretudo, que tenha uma visão de longo prazo.

Brasil: A Jóia da américa latina


A forte valorização dos últimos anos retirou fôlego às acções brasileiras, levando os analistas a recomendar cautela no investimento. Mas a correcção esperada pode representar uma oportunidade de entrada no mercado, numa perspectiva de longo prazo.

A maior economia da América Latina é candidata ao posto de uma das maiores economias do mundo. E o mercado accionista brasileiro tem beneficiado dessa expectativa, valorizando 155% nos últimos três anos. Um desempenho que tem levado os bancos de investimento a recomendar reduzir o investimento. Até porque o Brasil não passará ao lado do abrandamento global. No rescaldo da degradação da conjuntura internacional, o país crescerá menos do que o previsto (cerca de 4,6% neste ano, antes de voltar a desacelerar para 3,8% em 2009) e terá mais inflação (perto de 6%). A escalada dos preços deverá obrigar o banco central a voltar a subir a taxa de referência (Selic), actualmente em 12,25%, tendo em conta que a meta de inflação da autoridade monetária é de 4,25%.

Ainda assim, de acordo com a UBS, o Brasil é uma das potências emergentes melhor preparadas para enfrentar os tempos que se avizinham. O banco de investimento suíço reviu em alta a sua recomendação para as acções brasileiras para “neutral”. “Continuamos preocupados em relação às implicações das pressões inflacionistas e a subida das taxas de juro, mas o preço das matérias-primas deverá continuar a suportar o desempenho do mercado accionista”, refere a UBS numa nota publicada há duas semanas. Mas a opinião não é unânime. A JPMorgan recomendou a semana passada diminuir a exposição às acções brasileiras, devido à expectativa de queda na cotação das “commodities”.

Estimativas

Variação PIB 2008
4,8%

Inflação 2008
4,8%

PER 2008
12,6
Fonte: FMI e UBS


Pontos fortes

Dinamismo económico: Assumindo-se como pólo dinamizador da economia da América Latina, o Brasil deverá continuar a beneficiar das reformas económicas dos últimos anos;

Menor risco de crédito: O país deixou a classificação de maior risco, o que permitirá às empresas pagar juros mais baixos.

Pontos fracos

Inflação: A inflação brasileira deverá crescer este ano de 3,64& para cerca de 6%. O banco central já avisou que vai subir juros;

Acções caras: A forte subida dos últimos anos deixou as acções menos atractivas.

O mercado tem passado ao lado da crise, graças aos ganhos das petrolíferas (com destaque para a Petrobrás) e das siderúrgicas. Nas últimas semanas, sofreu uma correcção de 10%, baixando o rácio entre cotações e lucros para um nível mais atractivo de 15,46 vezes.

Rússia: As acções mais atractivas


Nos últimos três anos, a bolsa russa mais do que triplicou o seu valor. Mesmo assim, as acções oferecem potencial, no curto e no longo prazo. O crescimento económico deverá manter-se robusto, apesar da crise financeira, graças às matérias-primas.

O mercado accionista russo talvez seja o que reúne mais consenso. Além das cotações estarem atractivas, as perspectivas para a evolução da economia continuam robustas e pouco afectadas pelo contexto de abrandamento. O país é, mesmo, o favorito da UBS entre os emergentes, apesar da forte subida da inflação. A subida de Dmitri Medvedev à presidência, com Vladimir Putin a assegurar agora a chefia do Governo, removeu o factor de incerteza política. O que deverá permitir a continuação das reformas económicas, acredita a UBS. Ainda que em ligeira desaceleração, a economia deverá manter um ritmo de crescimento sustentado, em redor dos 7% neste ano e no próximo. A alta dos produtos energéticos tem recheado os cofres estatais, mas também se faz sentir em “casa”, ajudando a explicar as tensões inflacionistas. A taxa de inflação disparou para 14,8% em Maio, obrigando o banco central a endurecer a política monetária. Detentor das maiores reservas mundiais de gás natural e com a ambição de se tornar no segundo maior produtor de petróleo, a Rússia continuará a beneficiar da alta, no longo prazo, das matérias-primas. Em meados de Maio, a Goldman Sachs divulgou uma nota de “research” em que antecipava uma subida de mais de 20% nas acções russas durante os 12 meses seguintes. O banco diz que “as empresas de petróleo e gás negoceiam a desconto face às pares, ao mesmo tempo que continuarão a beneficiar dos elevados preços”.

Estimativas

Variação PIB 2008
6,8%

Inflação 2008
11,4%

PER 2008
9,2


Fonte: FMI e UBS


Pontos fortes

Protegida da crise: O excedente orçamental protege a Rússia da crise do crédito, dando margem ao Governo para aumentar o investimento público ou dar liquidez ao sistema financeiro;

Acções baratas: Cotações estão atractivas apesar da subida.

Pontos fracos

Inflação: É dos países onde o aumento da inflação está a ser mais violento. De 9% em 2007, a taxa subiu para 14,8% em Abril, obrigando o banco central a endurecer a política monetária.

Nos últimos três anos, o índice RTSI, expresso em dólares, subiu 240%. Este bom desempenho continuar apesar da crise financeira internacional. Ainda assim, o rácio entre a cotação e os lucros estimados pela UBS para 2008 é de 9,2 vezes. Melhor é difícil.

Índia: Um crescimento demasiado caro


Como nos restantes países emergentes, a inflação é uma ameaça ao crescimento, sobretudo porque são os alimentos que mais sobem, reduzindo substancialmente o rendimento disponível das famílias. O pico do crescimento económico passou e as acções estão caras.

Após cinco anos consecutivos de uma expansão recorde, os mais recentes indicadores sugerem que o “pico” do ciclo terá ficado para trás, com a economia indiana a sofrer especialmente na pele a contracção da procura norte-americana. Ainda assim, as previsões dos organismos internacionais apontam para taxas de crescimento robustas, em torno de 7,6% neste ano e de 7,1% no próximo.

A inflação é também por estas paragens uma terrível dor de cabeça. Ainda em Março, o Governo (que vai a votos dentro de um ano) reuniu-se de emergência, tendo concluído que a primeira prioridade num país onde uma larga faixa da população ainda vive em extremas condições de pobreza terá de ser o combate às pressões inflacionistas (6,8% é a previsão para o conjunto do ano), mesmo que o preço seja alguns pontos a menos na taxa de crescimento. Nesse contexto, o Governo suspendeu a exportação de produtos alimentares de base e aboliu as restrições à sua importação.

Se, no longo prazo, as perspectivas para a economia são favoráveis ao desempenho das acções da praça de Mumbai, a forte valorização de 220% entre 2005 e o final de 2007 deixou as cotadas indianas particularmente caras, mesmo com a correcção de quase 30% ocorrida entretanto. O rácio entre os preços e os lucros por acção esperados para 2009 é de 16,4 vezes. Um factor que levou a UBS a descer a sua recomendação para “underweight”. A perspectiva para a evolução da rupia é também negativa.


Estimativas

Variação PIB 2008
7,9%

Inflação 2008
5,2%

PER 2008
16,4

Fonte: FMI e UBS


Pontos fortes

Crescimento: Embora o pico do ciclo de forte crescimento possa já ter passado, o país deverá continuar a apresentar um aumento do PIB na ordem dos 7%, sustentado por uma classe média emergente.

Pontos fracos

Inflação: A subida dos preços, em particular dos alimentos, é uma ameaça ao crescimento. De acordo com o Reserve Bank of India, o banco central, a inflação subiu 7,6% entre os trabalhadores urbanos em 2007. Os analistas prevêem uma taxa global de 6,8% este ano.


À forte valorização registada nos últimos seis meses do ano passado, seguiu-se uma forte correcção, que anulou para pouco mais de 1% o retorno do último ano. Desde o início do ano,
o mercado indiano perdeu perto de 30%.

China: Onde a inflação faz menos mossa


A moeda forte protege o país das pressões inflacionistas, que podem mesmo abrandar. Depois do disparo nas cotações, que levou analistas e gurus a falarem numa “bolha especulativa”, a correcção dos últimos meses deixou os títulos a bom preço.

O mercado accionista chinês acumula uma desvalorização de 46%, que parece difícil de inverter. A boa notícia é que esta forte correcção aliviou a carga especulativa das empresas, que estão já mais baratas do que as americanas. O rácio entre o preço e os lucros por acção (PER) estimados pela UBS para este ano é de 14,4 vezes, contra as 21,7 vezes do ano passado. As quedas podem revelar-se uma oportunidade de entrada no mercado para investidores de longo prazo, apesar do ligeiro abrandamento económico previsto. A já quarta maior economia mundial deverá neste ano e no próximo crescer finalmente a taxas inferiores a dois dígitos, mas ainda acima de 9%, uma das taxas mais elevadas do mundo. Tal como em todo o mundo, a trajectória da inflação está em aceleração e, embora se espere um alívio dos preços alimentares, a taxa média anual não deverá ser inferior a 6,5% (foi de 7,7% em Maio). As autoridades têm vindo a implementar medidas para aliviar as pressões inflacionistas. A Morgan Stanley afirma numa nota de “research” publicada esta semana que a China continental, Hong Kong e Taiwan estão em melhores condições para enfrentar um crescimento da inflação. “A China é a mais bem posicionada na região, já que absorveu os preços recorde do petróleo, a inflação nos produtos alimentares está a descer e tem uma moeda forte”, refere o banco de investimento. “Recomendamos comprar acções chinesas, já que acreditamos que a inflação atingiu o seu pico e o preço dos títulos está atractivo”, acrescenta.


Estimativas

PIB 2008
9,3%

Inflação 2008
5,9%

PER 2008
14,7

Fonte: FMI e UBS



Pontos fortes

Inflação: Também na China os preços estão a subir. Mas os analistas acreditam que o país tem melhores condições para lidar com ela;

Acções atractivas: A forte correcção deixou os títulos das bolsas de Xangai e Shenzhen a preços mais atractivos.

Pontos fracos

Menos crescimento: Apesar das taxas elevadas, abandonou o crescimento de dois dígitos;

Menor transparência: Os indicadores económicos menos fiáveis e a menor transparência das cotadas penaliza o investimento.


Entre Junho de 2005 e Outubro de 2007, as acções chinesas subiram 555%. Um retorno imbatível nesse período. Mas entretanto perderam mais de metade do seu valor, com o receio de uma bolha na bolsa.

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