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Quem ganha e quem perde com o Brexit

Uma semana quente depois da decisão popular, as ondas de choque ainda não cessaram. Mas se há perdedores óbvios, com David Cameron à cabeça, há quem possa sair a ganhar. Que o digam os portugueses com crédito à habitação ou quem tinha investimentos em ouro.

Reuters
Negócios 30 de Junho de 2016 às 22:29
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QUEM GANHA
Ganhos políticos
e vantagens financeiras

MENOS PIB E SANÇÕES MAIS SUAVES
Quem vai querer acrescentar problemas a uma União Europeia a braços com a saída de um estado-membro? É este o raciocínio de António Costa quando questionado sobre a aplicação de sanções a Portugal por incumprimento do défice. No entanto, o primeiro-ministro também sabe que há Estados-membros que defendem que Lisboa deve ser penalizada, o que permitirá mostrar que a Comissão zela pelo respeito das regras numa altura de desunião. Em breve saber-se-á qual dos argumentos vencerá. Porém, para Costa o Brexit pode ter outro lado bom, ao dar ao Governo uma capa que envolve a deterioração das previsões, que já vem de trás, mas que fica agora mais nítida.  


PRESTAÇÕES MAIS BAIXAS POR MAIS TEMPO
O resultado do referendo britânico afundou as Euribor. A taxa a três atingiu, esta quinta-feira, o valor mais baixo de sempre nos -0,286%. Um desempenho negativo que se deve à expectativa do mercado de que os bancos centrais serão forçados a reforçar os estímulos para responder ao abrandamento da economia. A queda das Euribor terá reflexo na diminuição das prestações e deverá prolongar-se no tempo. Se na semana passada os contratos futuros sobre esta taxa apontavam para valores negativos até meados de 2019, estas taxas chegam, agora, a Setembro de 2020.


MARINE LE PEN
A vitória indiscutível de Nigel Farage, líder do UK Independence Party, é também  a de Marine Le Pen, líder da Frente Nacional e forte candidata a disputar uma segunda volta decisiva nas presidenciais francesas do próximo ano. Não sendo idêntico, o discurso de ambos é perfeitamente coincidente quando reclamam menos imigrantes e menos UE, que descrevem como uma organização anti-democrática.


OURO BRILHA COM PROCURA POR REFÚGIO
Em períodos de incerteza, os activos vistos como mais seguros tendem a brilhar. O ouro tem beneficiado com a incerteza gerada pelo Brexit, subindo 5% desde o referendo e ajudando-o a ter o maior ganho semestral em quatro décadas.


QUEM PERDE

Uma UE à deriva e muita
incerteza nos mercados

CAMERON PERDEU A FACE E O LUGAR
Em 2013 prometeu um referendo "in or out"; foi reeleito dois anos depois  obtendo para os Conservadores a primeira maioria em 23 anos. Acaba de cair com estrondo perante a vitória do Brexit, que reabriu o debate  separatista dentro do próprio Reino Unido, país partido ainda por uma  profunda clivagem geracional e que está a caminho de um divórcio da UE pleno de riscos para a economia britânica. Ainda é primeiro-ministro, mas abandonará o cargo em Outubro.


LIBRA E EURO SOB PRESSÃO
A libra é a face visível das ondas de choque do Brexit. A divisa viveu após o referendo uma das piores sessões de sempre e continua sob pressão, com o mercado a antecipar estímulos monetários por parte do Banco de Inglaterra. A libra perde 11% face ao dólar desde o referendo. E os analistas têm defendido que o euro também pode ser arrastado por este movimento.  Por um lado, a exposição à economia britânica pode levar o BCE a tomar mais medidas de estímulo. Por outro, temem que após o Brexit o sentimento anti-europeu possa causar danos à percepção sobre a integridade da união monetária.


BANQUEIROS CENTRAIS A FAZER CONTAS
O resultado do referendo trocou as voltas aos banqueiros centrais. Dada  a incerteza sobre os impactos do Brexit na economia global, Janet Yellen perdeu margem de manobra para prosseguir com a normalização das taxas de juro nos EUA. Já Mario Draghi pode ser forçado a adoptar mais estímulos, depois do anúncio do reforço feito em Março. Por seu lado, o Banco do Japão tem estado impotente para conter a valorização do iene, devido à busca de refúgio.

JEAN-CLAUDE JUNCKER, O ROSTO DA DERROTA
A saída do Reino Unido da UE traduz um grave revés num projecto que, desde a sua fundação na década de 50 do século passado, nunca soube conjugar o verbo "desintegrar". Como presidente da Comissão Europeia, instituição motor da integração europeia e que detém o monopólio da iniciativa legislativa europeia e exclusividade de competência em matérias como a concorrência e acordos comerciais, Jean-Claude Juncker é o rosto do maior derrotado do Brexit.


ECONOMIA MUNDIAL PERDE AINDA MAIS GÁS
É relativamente consensual que o Brexit terá um impacto negativo no crescimento da economia mundial. Mas quantificá-lo é mais complicado. Há economistas que falam da possibilidade de uma nova recessão global, enquanto outros esperam um impacto pouco substancial. O FMI estima que o PIB caia 0,2% a 0,5% na União Europeia e 0% a 0,2% no resto do mundo. Na Zona Euro, a recuperação da recessão de 2009 já se mostrava frágil e a saída do Reino Unido da UE deverá garantir que ela perde ainda mais ímpeto. A Irlanda pode ser o país mais prejudicado.


CITY DE LONDRES MENOS ATRACTIVA
O resultado do referendo levanta questões sobre se Londres se irá manter como o centro financeiro da Europa. Grandes bancos de investimento, como o JPMorgan, avisaram que poderiam deslocalizar as operações que têm centralizadas no Reino Unido para outros países europeus. Algumas consultoras temem que se percam entre 70 mil a 100 mil empregos no centro financeiro de Londres.




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