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Os riscos à estabilidade financeira, segundo o BCE
A autoridade monetária do euro diz que os riscos estão contidos. Além da banca, vê grandes desafios externos que vão desde os emergentes aos preços do petróleo. Saiba o que preocupa o BCE.
"A tensão sistémica na área do euro tem-se mantido contida". Quem o diz é o Banco Central Europeu, no seu relatório de estabilidade financeira onde nota que todos os indicadores de stress estão em níveis baixos. Ainda assim, alerta para o ambiente financeiro desafiante, especialmente por causa da banca, mas também para os riscos na vertente externa, com as vulnerabilidades das economias emergentes num contexto de preços baixos do petróleo.
Os emergentes são, dos quatro riscos identificados pela autoridade monetária da Zona Euro, aquele que mais aumentou, juntamente com a quebra da rentabilidade do sistema financeiro, mas há ainda mais dois apontados pelo BCE que "estão claramente entrelaçados e podem, se se materializarem" podem "agravar os riscos negativos ao crescimento económico". Conheça-os:
Emergentes aumentam a turbulência
O BCE dá grande destaque às "vulnerabilidades resultantes do abrandamento das perspectivas de crescimento dos emergentes". "Do ponto de vista da estabilidade financeira da área do euro, as vulnerabilidades da China são particularmente importantes tendo em conta o crescente papel do país no comércio mundial e nos mercados financeiros", refere o relatório. Mas essas vulnerabilidades estão também a chegar a outros países emergentes. "A contribuir para as vulnerabilidades está o elevado endividamento do sector privado", dívida essa que está em divisas estrangeiras.
Para o BCE, "uma quebra superior ao esperado do crescimento da China poderá levar a um travão sincronizado das economias emergentes, particularmente das mais dependentes das matérias-primas" numa altura em que o petróleo está a negociar "abaixo do custo marginal de vários países produtores e abaixo dos valores necessários para os orçamentos dos países exportadores". E a acontecer este cenário, pode haver "uma renovada volatilidade nos mercados financeiros" que pode contagiar as economias avançadas.
Baixa rentabilidade da banca
"Ao mesmo tempo que enfrentam condições desafiantes a nível global, os bancos da Zona Euro continuam a ser confrontados com perspectivas de baixa rentabilidade num contexto de fraca recuperação económica e, nalguns países, em resultado do elevado nível de malparado", refere o BCE.
A autoridade monetária refere que "o retorno dos activos dos bancos tem-se mantido fraco, continuando abaixo do custo do capital". "O ambiente de taxas de juro baixas, a tépida recuperação da economia e mais desafios externos estão a travar as perspectivas de crescimento da rentabilidade", nota, acrescentando que "em alguns países o elevado nível de malparado está a travar a capacidade de os bancos concederem financiamento e apresentarem resultados positivos". Assim, "alguns bancos poderão necessitar de adaptar os seus modelos de negócio para garantirem a estabilidade a longo prazo, seja por via da consolidação, do corte de custos ou outras medidas de eficiência".
Crescente dimensão do sector dos fundos
Se a situação da banca é delicada, sendo uma ameaça à estabilidade financeira, também o é o "rápido crescimento do sector dos fundos de investimento" que duplicou de tamanho desde 2008, nota o BCE. "Embora o crescente papel dos fundos traga o benefício da diversificação à economia, as fragilidades também podem ser associadas ao excepcional crescimento [desta indústria] tendo em conta os maiores riscos assumidos e a intercomunicação com o resto do sistema financeiro", alerta o BCE.
Excesso de dívida soberana
"Os riscos também se estendem à economia real, onde o endividamento dos soberanos e do sector não-financeiro privado continua elevado", nota o BCE. "O atraso, ou as insuficientes medidas orçamentais e reformas estruturais num contexto de períodos prolongados de baixas perspectivas de crescimento criam um desafio à sustentabilidade da dívida", nota.
Além disso, "o aumento dos riscos políticos e o aumento do apoio a forças políticas menos orientadas para reformas podem traduzir-se em prémios de risco e levar a preocupações em torno da sustentabilidade das dívidas soberanas, o que poderá contagiar o sector não-financeiro privado", destaca o BCE.