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Pressão sobre o yuan faz disparar aposta na queda da bolsa chinesa
Os receios com a queda do yuan levaram as apostas na descida de um dos produtos que replica os índices chineses a quintuplicar este mês. Está no nível mais alto do ano.
Aumentam as apostas de que a queda do yuan volte a causar estragos na bolsa chinesa. Desde o final de Abril, a divisa chinesa desvalorizou cerca de 2% face ao dólar. E a expectativa é que a perda de gás dos indicadores económicos na China e a subida de juros por parte da Fed voltem a causar mossa na moeda, numa espécie de regresso ao Verão do ano passado e ao arranque de 2016 em que a descida do yuan fez tremer os mercados.
E os investidores estão a posicionar-se para um novo período de fraqueza das acções chinesas. As posições curtas, que apostam na descida do valor de determinado activo, num dos fundos negociados na bolsa de Hong Kong e que replica o desempenho das acções negociadas em Xangai, o FTSE China A50 ETF, aumentaram cinco vezes este mês, segundo dados da Markit citados pela Bloomberg. As posições curtas equivalem a 6,1% do valor daquele produto, o valor mais alto desde Abril de 2015, semanas antes da grande derrocada do mercado chinês.
"Alguns fundos macro estão à procura de oportunidades para ganhar exposição à queda dos futuros sobre o índice para tirar partido do movimento da divisa. A maior probabilidade de subida de juros por parte da Fed implica que há pressão para o yuan enfraquecer", disse Wenjie Lu, estratego do UBS, citado pela Bloomberg.
"Os investidores pensam que há algum risco para as acções. Se o yuan continuar a cair isso afectaria o valor das acções chinesas", observa Sam Chi Yung, estratego da South China Financial Holdings.
O yuan voltará a quebrar?
A recente desvalorização do yuan é explicada pelos analistas sobretudo com a recuperação do dólar face às principais divisas mundiais. E até salientam que a moeda chinesa se ressentiu menos que outras moedas asiáticas como o won da Coreia do Sul, o ringgit da Malásia e mesmo que o iene japonês. Mas mostram alguma preocupação sobre os dados que têm sido divulgados em relação à economia chinesa.
"Em relação ao yuan, têm havido sinais de que a recuperação da actividade económica chinesa desde Fevereiro, impulsionada pelos estímulos orçamentais e pela menor restritividade do crédito, está, até certo ponto, a perder o gás. Isso foi sugerido pelos dados dos índices de gestores de compras (PMI), que estão novamente a deteriorar-se, e pelas importações, que recuaram", referem os analistas do Natixis numa nota a investidores.
O dólar vale actualmente 6,582 yuans e este banco de investimento estima que a nota verde valorize para 6,80 yuans. Já os analistas do Deutsche Bank referiram, numa nota de investimento, que "a fraqueza do yuan ocorre em função das expectativas de aperto monetário da Fed e é provável que se intensifique à medida que a subida das taxas por parte da Fed se torne mais provável".
E o banco alemão duvida da capacidade das autoridades chinesas em conseguirem segurar a moeda: "Têm enfrentado dificuldades em apoiar a moeda através de taxas mais altas, dada a elevada dívida do sector privado e o enfraquecimento das dinâmicas de crescimento". O Deutsche Bank prevê que o dólar fortaleça para sete yuans até final do ano.
O Natixis considera que "a situação é bastante diferente do que era em 2015". E apesar de salientar que poderá haver saídas de capital da China, as autoridades chinesas têm tomado medidas que permitirão conter o impacto. Mas o Deutsche Bank mostra-se céptico: "Não estamos convencidos pelo argumento de que a vulnerabilidade cambial chinesa se tenha reduzido significativamente".