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Os ursos apanharam o PSI-20 no pior ano desde 2014
Depois de ver oscilações entre máximos de mais de três anos e mínimos de 2017, o índice nacional acaba por fechar 2018 com um desempenho negativo. Quase todas as cotadas ficam pelo vermelho, com excepção da EDP, EDP Renováveis e Altri.
O PSI-20 fechou 2018 a ultrapassar várias linhas vermelhas. Os ganhos amealhados em 2017 saem quase anulados deste ano, no qual o principal índice nacional conta a maior quebra dos últimos quatro anos. A descida ao terreno negativo ainda é mais acentuada olhando ao pico mais alto, registado em Maio – desde então até hoje, a queda foi de 18,5%, sendo que, já na recta final, a bolsa nacional acabou por entrar em bear market (mercado urso).
Os altos e baixos do ano acabam reduzidos a um único número: o índice nacional caiu 12.19% para os 4731,47 pontos, abandonando a fasquia dos 5.000 pontos que tinha sido ultrapassada em Abril de 2017. Em 2018 o saldo final do PSI-20 foi positivo em 15,15%. É preciso recuar a 2014 para encontrar uma quebra superior à deste ano: na altura, o índice deslizou 26,83% entre Janeiro e Dezembro.
Ainda assim o desempenho foi menos mau do que o registado nas praças europeias, que sofreram a queda mais acentuada desde 2008, ano da falência do Lehman Brothers. Foram vários os índices europeus que marcaram perdas mais fortes do que o PSI-20, como o alemão DAX (-18,5%) e espanhol IBEX-35 (-14,97%).
Apesar da queda abaixo de 15% do PSI-20 para o total do ano, a elevada volatilidade determinou um hiato superior a 21,5% entre Maio, mês no qual o índice ascendeu a um máximo de quase três anos - os 5.801,45 pontos - e Dezembro, quando o PSI-20 desceu a mínimos de Fevereiro de 2017, criando-se a situação de bear market, que se verifica quando a distância de um máximo a um mínimo supera os 20%. Este também é o cenário em outras das principais praças europeias, entre as quais se incluem a bolsa espanhola, alemã e italiana.
Apesar do arranque de ano promissor, os eventos internacionais que vieram deitar por terra o bom momento dos mercados tiveram início logo em Fevereiro. O índice nacional, à semelhança dos pares europeus, começou por ser abalado com a perspectiva de aumentos de juro pela Reserva Federal norte-americana, os quais vieram mesmo a concretizar-se, por quatro vezes, ao longo do ano. Contudo, o conflito mais marcante e portanto de grande impacto nas bolsas, tanto pela dimensão como pelos desenvolvimentos constantes, foi a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, a qual criou grande incerteza e motivou fortes receios entre os investidores. Paralelamente, e também como consequência, acumulam-se os indicadores que apontam para um abrandamento da economia mundial.
Só três cotadas do PSI-20 "à tona" no mar vermelho
Para além do panorama externo, a evolução do PSI-20 é indissociável da história de cada uma das empresas que o compõem. E, este ano, só três das dezoito cotadas escaparam à sangria das acções nacionais – e duas delas à boleia do anúncio de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA), a EDP e a EDP Renováveis.
A eléctrica liderada por António Mexia subiu a pique após a China Three Gorges (CTG) ter feito o anúncio da OPA, a 11 de Maio. Na primeira sessão que se seguiu, os títulos da eléctrica fecharam com uma valorização de 9,3% para os 3,40 euros – superando desta forma a contrapartida proposta pelos chineses, de 3,26 euros por título. Mantiveram-se próximos desta fasquia até Agosto, altura em que foi atingido o pico do ano e a partir da qual se iniciou uma queda gradual até aos actuais 3,049 euros. Este valor determina uma valorização de 5,68% para os títulos da eléctrica no conjunto do ano.
A subsidiária das energias limpas, a qual foi necessariamente outro dos alvos da OPA pela CTG, não sentiu um impacto tão evidente logo após o anúncio. A valorização foi gradual desde Janeiro, com o salto mais acentuado a registar-se em Junho, a par com as notícias de que a eléctrica francesa Engie estaria interessada em adquirir parte ou a totalidade do capital da cotada portuguesa. A EDP Renováveis atingiu, no início do mês seguinte, um máximo histórico de 9,17 euros, tendo vindo a descer desde então até aos 7,775 euros. Estas oscilações determinam um balanço positivo de 11,6% para o ano.
Mas o melhor registo do PSI-20 foi atingido pela Altri, que conta uma valorização de 12,16% em 2018. A papeleira, que chegou a renovar por várias vezes máximos históricos ao longo do ano, desceu dos 9,17 euros para os actuais 5,80 euros, numa altura em que os analistas lançam previsões pouco animadoras para o desempenho deste sector em 2019.
Todas as restantes cotadas do PSI-20 registaram um saldo negativo no ano. Entre os piores desempenhos está a Jerónimo Martins, uma das cotadas com mais peso no índice nacional, que termina 2018 com menos 36,15% do valor de mercado com o qual se estreou no ano. Os títulos da retalhista desceram em Dezembro a um mínimo de Março de 2015, os 9,93 euros, prejudicada sobretudo pelo abrandamento económico europeu, que tem um impacto mais directo nos sectores ligados ao consumo. A crescente concorrência do digital e as perspectivas menos optimistas para o principal mercado da retalhista, a Polónia, têm desmotivado os investidores.
O registo mais negro pertence contudo à Mota-Engil. A empresa de construção, com uma larga actividade internacional e portanto consideravelmente exposta à conjuntura externa, registou um mínimo de mais de dois anos no passado Novembro, e já perdeu mais de metade do valor desde o início do ano – 56,05%.
Benfica lidera ganhos na Bolsa
Fora do PSI-20, as acções do Benfica estiveram em evidência. A SAD encarnada foi a cotada portuguesa que mais subiu na bolsa nacional, num ano em que o Futebol Clube do Porto "roubou" o penta à equipa da Luz, no final do campeonato 2017/2018, e em que é o líder na nova época desportiva, com quatro pontos de distância. Apesar deste contexto, as acções da SAD do Benfica somaram 46,96%, tornando-se assim na cotada portuguesa com o melhor desempenho em 2018.
Segue-se a Martifer, com uma valorização de 31,9% e a Cofina, que valorizou 23,39% no acumulado deste ano.
No fundo da tabela surge a SAG, com uma queda de 67,53%. Este desempenho negativo surge depois da empresa, que através da SIVA distribui marcas do Grupo Volkswagen em Portugal, ter apresentado prejuízos elevados e ter emitido um alerta sobre o seu futuro. A empresa de João Pereira Coutinho está a negociar há meses a venda da sua participada SIVA, mas além de ainda não ter conseguido concretizar o negócio deixou claro que o seu futuro está em risco, o que provocou descidas acentuadas no valor das acções.
Sonae Indústria (58,5%), Grão-Pará (60%) e Impresa são as outras cotadas fora do PSI-20 que também perderam mais de metade do valor em 2018.