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Analista que cortou "rating" dos EUA em 2011 diz que triplo A não é "direito divino"

David Beers era o responsável pela S&P quando a agência optou por cortar o "rating" dos EUA em 2011. Agora, 12 anos depois, vê-se "apoiado" na decisão da Fitch.

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Apesar de ter sido apanhado de surpresa, o mercado foi rápido a reagir à decisão da Fitch de reduzir a dívida dos Estados Unidos do patamar mais elevado de qualidade para o segundo mais alto. E as comparações foram rapidamente feitas com a única vez em que algo semelhante aconteceu.

Foi em 2011 que o antigo responsável da S&P, David Beers, tomou a mesma decisão e que ainda hoje permanece: a de reduzir a notação financeira da dívida norte-americana de AAA para AA+.

Em entrevista à Bloomberg, o atual "senior fellow" do Centro para a Estabilidade Financeira afirmou que as razões que levaram a S&P a tomar a decisão em pleno verão de 2011 são semelhantes às que foram agora usadas pelos responsáveis da Fitch. Beers não tem dúvidas: "a situação orçamental estrutural e a trajetória da dívida estrutural aceleraram".

"AAA é a classificação máxima que qualquer agência de 'rating' pode dar, mas claro, os Estados Unidos e outros soberanos que estejam a ser avaliados não têm esse direito de forma automática ou divina", garantiu.

A decisão da agência de notação financeira reforça que os responsáveis em Washington ainda têm muito por fazer relativamente às dinâmicas orçamentais dos EUA, mesmo que uma revisão em baixa para AA+ signifique apenas uma ligeira deterioração da credibilidade, ressalvou David Beers.

"É justo dizer que as agências de 'rating', baseadas nos seus próprios critérios, têm sido bastante tímidas nas suas ações", acrescentou. "E se isto significa alguma coisa, é que a decisão da Fitch apenas confirma o que a S&P decidiu fazer em 2011, e em 2023 aqui estamos", rematou.

Foi precisamente na noite de 5 de agosto, sexta-feira, que a S&P optou por reduzir o 'rating' atribuído aos EUA, que se encontrava em AAA desde 1941, algo que nenhuma agência tinha antes ousado. Como o Negócios noticiou na altura tal foi o choque que os índices acionistas registaram nessa semana a pior prestação de 2008, com quedas superiores a 7%.

Nesse dia, além de realizar a mesma redução que a Fitch, a agência norte-americana foi ainda mais longe e optou por manter as perspetivas ("outlook") para dívida em revisão negativa. A S&P justificava a medida inédita com a preocupação relativamente ao plano para cortar o défice do país.

"O corte reflete a nossa opinião que o plano de consolidação orçamental, aprovado recentemente pelo Congresso, fica aquém do que, na nossa perspectiva, seria necessário para estabilizar a dinâmica de médio prazo da dívida pública", explicava a S&P numa nota divulgada nessa noite.

12 anos depois a Fitch justifica a nova classificação pela esperada deterioração orçamental nos próximos três anos, um elevado e crescente endividamento público e com uma "erosão da 'governance' face aos pares classificados com AAA ou AA nas últimas duas décadas que se tem manifestado em repetidos impasses sobre o tecto da dívida e soluções de última hora".

Tal como aconteceu há semanas também em 2011 os Estados Unidos estiveram à beira do incumprimento, sendo a questão do "debt ceiling" apenas resolvida com um acordo de última hora entre democratas e republicanos para a aprovação de um aumento do tecto da dívida.
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