Notícia
Bill Ackman está a apostar na queda das obrigações dos EUA a 30 anos
O investidor diz que esta é a melhor estratégia como cobertura contra o impacto, nas bolsas, de juros elevados no longo prazo.
Bill Ackman (na foto), fundador do Pershing Square Capital Management, disse que está a "shortar" [está a adotar posições curtas, ou seja, a apostar na queda] nas Obrigações do Tesouro (OT) norte-americanas a 30 anos. Para o gestor do fundo de cobertura de risco, esta é uma boa estratégia contra o impacto, nas bolsas, de juro elevados no longo prazo.
"Estamos ‘curtos’ nas OT a 30 anos", escreveu numa mensagem da plataforma X, anteriormente conhecida como Twitter.
Ontem, a "yield" da dívida soberana a 30 anos dos Estados Unidos subiu para 4,16%, naquele que foi o valor de fecho mais alto deste ano.
Se os juros escalam, isso significa que as obrigações estão a perder valor, daí a aposta de Ackman na sua queda.
E como está a ser conduzida a estratégia? O investidor disse que o seu fundo está a apostar nesta cobertura de risco através da compra de opções, em vez de "shortar diretamente nas obrigações".
We implement these hedges by purchasing options rather than shorting bonds outright. This makes it easier to sleep at night as it makes your downside finite. Our sleep-at-night test’ is a critical risk management tool.
— Bill Ackman (@BillAckman) August 3, 2023
"Já aconteceu muitas vezes o mercado obrigacionista reapreçar o segmento longo da curva de rendimentos numa questão de semanas, e esta parece ser uma dessas alturas", disse Ackman, citado pela CNBC.
Bill Ackman justificou a decisão de investimento com vários fatores: o desejo da China e de outros países de se dissociarem financeiramente dos EUA, bem como os crescentes receios em torno da "governance", da responsabilidade orçamental e das divisões políticas nos Estados Unidos – três problemas identificados pela agência de "rating" Fitch e que valeram ao país um corte da classificação da dívida soberana, do triplo A para a segunda posição do ranking.
O gestor do Pershing considera também que, se for posto um ponto final no controlo da curva das "yields" no Japão, isso aumentará a relativa atratividade pelas obrigações nipónicas face às Treasuries norte-americanas. Os investidores japoneses são atualmente os maiores compradores estrangeiros de OT dos Estados Unidos, mas, se o controlo da referida curva deixar de existir, poderão preferir a dívida doméstica.
O banco central nipónico, que tem um novo governador desde abril – Kazuo Ueda –, surpreendeu os mercados em dezembro, ao fazer mudanças na política de controlo da curva das "yields". Com a inflação no Japão a exceder a meta do banco central de 2%, os investidores começaram a vender as obrigações que detinham, a apostar num recuo dos megaestímulos monetários. Mas o Banco do Japão (BoJ) reagiu não com uma subida das taxas de juro, mas com um reforço da compra de dívida para conseguir manter os limites à "yield" das obrigações a 10 anos.
O intervalo admissível de flutuação das taxas de juro de longo prazo, que se situava em 0,25%, foi alargado para 0,5%, o que na prática acabou por ter reflexo nas taxas de juro aplicáveis aos empréstimos a particulares e ao setor privado.
Agora, na semana passada, o BoJ ajustou o controlo da curva das "yields", permitindo que as rendibilidades da dívida de longo prazo possam ir até 1%. Esta maior flexibilidade foi uma forma de sustentar a sua política monetária acomodatícia: o banco central é dos poucos com taxas expansionistas, mantendo os juros diretores em -0,1% desde 2016.