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Fitch coloca rating dos EUA sob vigilância negativa
A agência de notação financeira retirou a avaliação de ‘estável’ dada à perspetiva para a evolução da qualidade da dívida soberana dos EUA, passando-a para vigilância negativa. Quer isto dizer que pode vir a decidir-se por um corte do rating.
A agência de notação financeira Fitch retirou a avaliação de ‘estável’ dada à perspetiva para a evolução da qualidade da dívida soberana dos EUA, passando-a para vigilância negativa. Quer isto dizer que pode vir a decidir-se por um corte do rating.
Esta vigilância negativa, decidida fora da normal calendarização para as decisões sobre o rating e o outlook (perspetiva) da dívida, deve-se ao impasse entre a Casa Branca e os republicanos no que toca a um acordo para aumentar o tecto da dívida do país.
A nova perspetiva "reflete o crescente partidarismo político que está a travar uma resolução no sentido de elevar ou suspender o limite ao endividamento, apesar da aproximação da data-X", sublinha a agência no relatório divulgado esta noite.
A secretária norte-americana do Tesouro, Janet Yellen, tem vindo a advertir que a partir de 1 de junho os cofres do governo federal poderão ficar sem dinheiro para continuarem a cumprir os seus pagamentos – pondo em risco o funcionamento das agências federais e colocando os EUA em incumprimento.
O atual tecto da dívida ("debt ceiling") está fixado nos 31,4 biliões de dólares mas já foi esgotado a 19 de janeiro. Para solucionar a situação, é preciso que seja aprovado um aumento ou suspensão deste tecto, mas democratas e republicanos têm mantido um intenso braço de ferro relativamente a esta questão.
Ontem e hoje, o presidente norte-americano, Joe Biden, reuniu-se com o "speaker" da maioria republicana na Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, para tentarem superar o impasse, mas ainda não chegaram a entendimento. De qualquer das formas, ambos têm referido que está a haver progressos nas conversações desta semana.
Este impasse não é inédito nos EUA, mas tem sido sempre superado. Se isso agora não suceder, o país entra pela primeira vez em "defaut". Daí este posicionamento da Fitch – que, a par com a Moody’s, atribui atualmente à dívida norte-americana a notação mais alta da escala: AAA (o cobiçado triplo A).
A Moody’s (que ainda mantém o outlook dos Estados Unidos como ‘estável’) já reviu em alta, de 5% para 10%, a probabilidade de uma interrupção (o chamado "breach") dos pagamentos, que ocorre aquando o governo federal não faz um pagamento a tempo, seja a um beneficiário da Segurança Social ou a conta de eletricidade de um edifício governamental. A seguir à interrupção, na escala de severidade, vem o "default", que implica incumprir no reembolso da dívida.
Se os EUA tiverem apenas dinheiro para pagar os juros aos credores, será a mesma coisa que um americano conseguir pagar a prestação da casa ao banco, mas não conseguir honrar o pagamento do empréstimo do carro, dos cartões de crédito, dos prémios de seguro e das contas de gás e electricidade, exemplificou em 2011 o então secretário do Tesouro, Timothy Geithner, em plena crise do "debt ceiling".
Nessa altura, o aumento do tecto da dívida demorou a ser aprovado pelo Congresso, tendo sido criado um grande impasse que levou à paralisação de todos os serviços públicos do país (conhecido como "shutdownn") após o verão – e que levou a que a Standard & Poor's cortasse, pela primeira vez, o rating soberano de triplo A dos Estados Unidos – passando para AA+ (segundo lugar da escala de notações), onde ainda hoje se mantém.
(notícia atualizada às 00:17)