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Do Sri Lanka à Google, as apostas do maior fundo da Europa
O Fundo Soberano da Noruega, um dos maiores do mundo, conseguiu ganhos em 2015. Mas a queda dos preços do petróleo já levou o governo a retirar dinheiro desta entidade.
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É um dos maiores fundos do mundo, com um poder de fogo de 778 mil milhões de euros. O Fundo Soberano da Noruega foi constituído há 20 anos e tem como objectivo preservar e rentabilizar as receitas petrolíferas do país. É um dos investidores mais globais, com exposição a mercados bolsistas de 67 países.
No entanto, pela primeira vez, o governo norueguês foi obrigado a retirar dinheiro deste veículo de investimento para apostar em políticas económicas para mitigar o efeito da queda dos preços do petróleo no crescimento. Este ano terá retirado 700 milhões de euros do Fundo, segundo a imprensa dinamarquesa citada pela Reuters.
Apesar do simbolismo do primeiro levantamento de fundos, o veículo de investimento ganhou bem mais nos mercados em 2015 do que o montante que o governo norueguês irá utilizar. No ano passado, o valor das suas posições aumentou 34,8 mil milhões de euros (utilizando o câmbio da coroa norueguesa face ao euro no final do ano). Ainda assim, foi o ano com menores retornos desde 2011.
Sem medo do risco
Na tarefa de rentabilizar as pensões futuras dos noruegueses, o fundo liderado por Yngve Slyngstad não tem receio em investir em acções, uma classe de activos com maior risco. Mais de 61% do fundo está alocado nas bolsas. Já as obrigações e o imobiliário absorvem 35,7% e 3,1% do poder de fogo do veículo de investimento.
O Fundo Soberano da Noruega é um dos maiores investidores nas bolsas mundiais. É accionista de mais de nove mil empresas. Em Portugal está presente no capital de 22 cotadas. E é obrigacionista de quase 1.300 entidades, entre dívida governamental e de empresas. No mercado nacional tem alguns títulos de dívida do Estado (apesar da posição ser bem menor do que antes do resgate), da CP, da Refer, da Parpública, da CGD, do BCP e do Santander Totta.
E também não receia apostar em destinos mais exóticos, tendo posições em alguns mercados-fronteira. Começou a investir recentemente em acções do Bangladesh, Botswana, Estónia, Letónia, Lituânia e Sri Lanka, país onde é accionista de 12 empresas.
Além de novas geografias, o fundo norueguês também procura novas oportunidades em empresas estreantes no mercado. Só em 2015, participou em 144 ofertas públicas de venda.
As maiores posições
As posições com maior peso na carteira de investimento são em algumas das gigantes dos mercados, com especial incidência no mercado suíço. No final de 2015, tinha 5,36 mil milhões de euros aplicados na Nestlé.
A fechar o pódio das maiores posições, estavam a Apple (4,33 mil milhões de euros) e a farmacêutica suíça Roche (3,64 mil milhões de euros). Na lista das dez maiores posições estavam ainda a Novartis, a Alphabet, a Microsoft, a BlackRock, o HSBC, a Royal Dutch Shell e a britânica Prudential. Em Portugal, a maior posição é na EDP.
Apesar de estas serem em termos absolutos as maiores posições, nem são as empresas em que o fundo tem uma maior proporção do capital. Essa confiança recai na empresa irlandesa do sector de papel Smurfit Kappa (com 9,2% do capital), na cotada finlandesa que opera no sector florestal UPM (7,7% do capital) e na empresa chinesa de serviços financeiros CNinsure (detém 6,8% da empresa).
Na bolsa portuguesa, as maiores participações relativamente à totalidade do capital são na Nos, Ibersol e Pharol, com mais de 3%. O Fundo da Noruega era um dos grandes investidores na antiga PT SGPS e continua a ter posição na "holding" que detém, directa e indirectamente, 27,5% da brasileira Oi.
Na parte da carteira de investimento dedicada às obrigações, o fundo mostra alguma prudência. As maiores posições são em obrigações soberanas dos EUA, do Japão e da Alemanha, que são vistas como das mais seguras pelos investidores. No entanto, na lista das cinco maiores posições em dívida estão também obrigações soberanas do México.
As apostas ganhadoras e perdedoras
No meio de tantos investimentos, há sempre apostas ganhadoras e perdedoras. Em 2015, "o investimento na tecnológica norte-americana Alphabet (casa mãe do Google) deu o maior contributo para o retorno do fundo em 2015". Além desta cotada, os maiores contributos positivos vieram da Amazon e da Microsoft.
No entanto, a queda dos preços do petróleo não afectou apenas o orçamento norueguês. Foi também a causa de alguns dos piores investimentos do fundo soberano em 2015. As maiores perdas ocorreram na Royal Dutch Shell. As outras duas posições a darem o contributo mais negativo para o fundo foram a empresa do sector mineiro Glencore e o Banco Santander.