Notícia
2012: As palavras que preveniram a queda da Zona Euro
Quando muitos apostavam que a Zona Euro seria um projecto falhado, Mario Draghi colocou um ponto final na pressão ao referir que faria o que fosse necessário para preservar a moeda única.
A pressão era cada vez maior. As taxas de juro de Espanha e Itália estavam em níveis insustentáveis, ameaçando o desmembramento da Zona Euro. E o bloco económico parecia caminhar para a deflação. No meio dessa crise existencial do euro, bastaram poucas palavras de Draghi para aplacar a fúria dos mercados.
"O BCE está preparado para fazer o que for necessário para preservar o euro, dentro do seu mandato", disse numa conferência em Londres, a 26 de Julho. E acrescentou de forma decidida, após uma pausa: "E acreditem, será suficiente".
Essas palavras marcaram a inversão da crise na Zona Euro e deram a Draghi, antigo quadro do Goldman Sachs, a fama de conseguir gerir as expectativas do mercado apenas com o poder da palavra, ganhando a alcunha de Super-Mário. "A famosa intervenção de Draghi provou ser o momento de referência que travou as tendências adversas do mercado que colocavam uma ameaça existencial à Zona Euro", reconheceria, anos depois, a equipa de economistas do Goldman Sachs.
Após o "tudo o que fosse necessário", seguiu-se o anúncio do programa de Transacções Monetárias Definitivas (OMT na sigla em inglês), que serviria para comprar dívida de países em dificuldade. Nunca seria activado e o presidente do BCE evitou sempre detalhar a dimensão do programa, o que levou o mercado a questionar se o OMT era ou não um "bluff" de Mario Draghi.
Mas, na dúvida, os investidores não quiseram arriscar fichas contra o poder das palavras do presidente do BCE, o que libertou a pressão sobre as obrigações dos países mais frágeis da Zona Euro.
Ainda assim, se dúvidas houvesse sobre se Draghi seria consequente com o discurso de 2012, seriam totalmente dissipadas em Janeiro de 2015. Após ter já adoptado uma série de medidas não-convencionais, Draghi anunciou um programa que durante anos foi tabu: o da compra alargada de activos, que incluía a compra de dívida pública. Isto sob fogo cerrado de alguns segmentos políticos na Alemanha e de outros países do Norte da Europa. "As suas acções [de Draghi] falaram tão alto quanto as suas acções", disse o Goldman Sachs numa nota sobre o terceiro aniversário do discurso de Draghi, em 2015.
O risco de ficar a meio do caminho
Desde o discurso de Julho de 2012 , as condições do mercado e da economia mudaram drasticamente. A taxa portuguesa a dez anos desce de 11,44% para 3,13%. E as "yields" espanholas e italianas saíram dos patamares perigosos de 7,34% e 6,34%, para valores de 1,54% e 2,12%. Pelo meio, o banco central ficou responsável pela supervisão bancária, algo que Draghi tem argumentado ter sido essencial para assegurar a estabilidade financeira.
E o PIB passou de uma queda de 0,9% em 2012 para uma previsão de crescimento de 1,8% este ano. Mas Frederik Ducrozet, economista da Pictet, referiu ao Negócios que "após os esforços dos últimos cinco anos o principal desafio do BCE é segurar a recuperação. Mas ainda há riscos e muita incerteza", alertando para constrangimentos técnicos do BCE.
"Se alguma coisa correr mal (seja em Itália, no Reino Unido ou nos EUA), o BCE não tem muito mais ferramentas para responder", acrescenta. O próprio Draghi disse este mês, no parlamento holandês, que "é demasiado cedo para declarar sucesso", mostrando-se pouco convencido com a evolução da inflação subjacente, mensagem repetida esta semana no Parlamento Europeu. Razão que o levou a expressar a convicção de que a "quantidade extraordinária de apoio da política monetária" continua a ser necessária, apesar das melhorias no cenário macroeconómico.
Mario Draghi tem defendido que as políticas do BCE são uma "janela de oportunidade" para que os governos e as instituições europeias adoptem reformas estruturais e melhorem o modelo de governação da Zona Euro. Para Frederik Ducrozet, com a Zona Euro mais resistente, uma hipótese que o BCE poderá ponderar é reduzir os estímulos para forçar essa integração e reformas. Isto numa altura em que Alemanha e França, após a eleição de Trump nos EUA e de Macron nas presidenciais francesas, aparentam estar novamente alinhadas nesse sentido.
"O BCE está preparado para fazer o que for necessário para preservar o euro, dentro do seu mandato", disse numa conferência em Londres, a 26 de Julho. E acrescentou de forma decidida, após uma pausa: "E acreditem, será suficiente".
Após o "tudo o que fosse necessário", seguiu-se o anúncio do programa de Transacções Monetárias Definitivas (OMT na sigla em inglês), que serviria para comprar dívida de países em dificuldade. Nunca seria activado e o presidente do BCE evitou sempre detalhar a dimensão do programa, o que levou o mercado a questionar se o OMT era ou não um "bluff" de Mario Draghi.
Mas, na dúvida, os investidores não quiseram arriscar fichas contra o poder das palavras do presidente do BCE, o que libertou a pressão sobre as obrigações dos países mais frágeis da Zona Euro.
Ainda assim, se dúvidas houvesse sobre se Draghi seria consequente com o discurso de 2012, seriam totalmente dissipadas em Janeiro de 2015. Após ter já adoptado uma série de medidas não-convencionais, Draghi anunciou um programa que durante anos foi tabu: o da compra alargada de activos, que incluía a compra de dívida pública. Isto sob fogo cerrado de alguns segmentos políticos na Alemanha e de outros países do Norte da Europa. "As suas acções [de Draghi] falaram tão alto quanto as suas acções", disse o Goldman Sachs numa nota sobre o terceiro aniversário do discurso de Draghi, em 2015.
O risco de ficar a meio do caminho
Desde o discurso de Julho de 2012 , as condições do mercado e da economia mudaram drasticamente. A taxa portuguesa a dez anos desce de 11,44% para 3,13%. E as "yields" espanholas e italianas saíram dos patamares perigosos de 7,34% e 6,34%, para valores de 1,54% e 2,12%. Pelo meio, o banco central ficou responsável pela supervisão bancária, algo que Draghi tem argumentado ter sido essencial para assegurar a estabilidade financeira.
E o PIB passou de uma queda de 0,9% em 2012 para uma previsão de crescimento de 1,8% este ano. Mas Frederik Ducrozet, economista da Pictet, referiu ao Negócios que "após os esforços dos últimos cinco anos o principal desafio do BCE é segurar a recuperação. Mas ainda há riscos e muita incerteza", alertando para constrangimentos técnicos do BCE.
"Se alguma coisa correr mal (seja em Itália, no Reino Unido ou nos EUA), o BCE não tem muito mais ferramentas para responder", acrescenta. O próprio Draghi disse este mês, no parlamento holandês, que "é demasiado cedo para declarar sucesso", mostrando-se pouco convencido com a evolução da inflação subjacente, mensagem repetida esta semana no Parlamento Europeu. Razão que o levou a expressar a convicção de que a "quantidade extraordinária de apoio da política monetária" continua a ser necessária, apesar das melhorias no cenário macroeconómico.
Mario Draghi tem defendido que as políticas do BCE são uma "janela de oportunidade" para que os governos e as instituições europeias adoptem reformas estruturais e melhorem o modelo de governação da Zona Euro. Para Frederik Ducrozet, com a Zona Euro mais resistente, uma hipótese que o BCE poderá ponderar é reduzir os estímulos para forçar essa integração e reformas. Isto numa altura em que Alemanha e França, após a eleição de Trump nos EUA e de Macron nas presidenciais francesas, aparentam estar novamente alinhadas nesse sentido.