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Um guia para a época de dividendos
Já arrancou a época de pagamento de dividendos. O Negócios preparou um guia para estar informado sobre o assunto. Calcule a remuneração da sua carteira, conheça as datas de pagamento e as melhores tácticas para caçar dividendos.
Maio é mês de dividendos na bolsa portuguesa e e época de pagamento arranca em força na próxima semana, com as acções da Jerónimo Martins e da EDP Renováveis a passarem a negociar em bolsa sem direito à remuneração.
E a tabela com os valores dos dividendos que as cotadas portuguesas vão pagar está praticamente completa, depois da Mota-Engil, Navigator e Semapa terem revelado nos últimos dias a proposta de remuneração accionista que vão levar às respectivas assembleias gerais.
Esta altura do ano é assim das mais apetecíveis para muitos investidores, sobretudo os que privilegiam a aposta nas cotadas com os dividendos mais generosos. E este ano os investidores voltam a não ter razão de queixa das cotadas nacionais, já que são muitas as que pagam dividendos com uma rendibilidade próximo (ou até acima) de 10%.
São sobretudo duas as estratégias seguidas pelos investidores. Há os que apostam no longo prazo nas cotadas que pagam os dividendos mais rentáveis, e também os que privilegiam uma estratégia de caça ao dividendo, entrando na acção pouco antes da data de pagamento, vendendo pouco depois de embolsar a remuneração.
CALCULAR OS DIVIDENDOS
Para iniciar a análise da estratégia a seguir, fundamental é calcular quanto vai receber com os dividendos das empresas onde é accionista, ou onde pretende investir. Para tal utilize a calculadora do Negócios. Basta introduzir o número de acções para saber o valor que vai receber, já líquido do imposto de 28% (assumindo que não opta pelo englobamento). Se colocar também a cotação da acção, fica a saber a rentabilidade implícita.
OS DIVIDENDOS MAIS RENTÁVEIS
Para os investidores que seguem uma estratégia de longo prazo, um dos indicadores mais relevantes é o "dividend yield", que mede a relação entre o dividendo e a cotação da empresa.
Na bolsa portuguesa são várias as cotadas portuguesas que apresentam rendibilidades do dividendo elevadas. No "slide show" em baixo encontra as cotadas portuguesas com o dividendo mais generoso.
Sonae Capital. Taxa do dividendo de 11,76%
CTT. Taxa do dividendo acima de 9%
Navigator. Taxa do dividendo de 9,87%
REN. Taxa do dividendo 6,44%
EDP. Taxa do dividendo de 6,64%
Altri. Taxa do dividendo de 5,83%
Mota-Engil. Taxa do dividendo de 5,57%
CINCO FORMAS DE CAÇAR BONS DIVIDENDOS
Para não falhar no mapa dos dividendos sustentáveis há indicadores a analisar além da taxa de retorno da remuneração aos accionistas
1. Taxas de retorno do dividendo elevadas
2. A proporção do lucro que é dado aos accionistas
Na procura por bons dividendos, o retorno não é tudo. Os analistas recomendam a que se olhe para a proporção do lucro que as cotadas vão distribuir. O objectivo é evitar empresas que no futuro possam vir a ser forçadas a cortar dividendos por não terem resultados que os sustentem. A Allianz Global Investors defende que "payouts" elevados ajudam a estabilizar o preço das acções e levar a empresa a ser mais disciplinada na alocação de recursos. Mas a Schroders refere que o lucro deve ser mais do dobro do dividendo a pagar para dar margem de manobra às empresas na manutenção da remuneração caso os resultados quebrem no futuro. O "payout" ideal pode diferir de sector para sector. No PSI-20, a Sonae Capital, Navigator, CTT e Nos vão pagar dividendos superiores ao lucro obtido em 2016.
3. Empresas com balanços à prova de bala
Nível de endividamento e fluxos de caixa. São indicadores a ter debaixo de olho. O objectivo é aferir se a empresa tem solidez financeira para pagar dividendos sem comprometer as suas necessidades de investimento. Os especialistas tendem a recomendar cautela em relação a empresas que até possam ter um dividendo elevado, mas em que a dívida líquida em relação ao EBITDA é também elevada. Além disso, empresas com balanço sólido podem proporcionar melhores retornos. "Procuramos empresas que tenham boas características no dividendo, mas também bons fundamentais para se ter um bom retorno total e não apenas a rendibilidade do dividendo", referiu Olivia Mayell, gestora multiactivos da JPMorgan Asset Management.
4. Políticas de dividendo claras e histórico positivo
A previsibilidade é mais um factor para jogar pelo seguro nos dividendos. Há empresas que prometem dividendos elevados no curto prazo, mas que não indicações de como evoluirá essa remuneração no médio e no longo prazo. A Allianz Global Investors adverte que uma das regras de ouro é optar por empresas que "forneçam uma política de dividendos credível". Isto é, cotadas que se comprometam com um valor a distribuir para os próximos anos e que no passado a tenham cumprido. Outro dos mandamentos para quem aposta em dividendos é de se optar por empresas que tenham um histórico de melhorar de forma regular a remuneração paga aos accionistas e que não tenham tido episódios de surpresas negativas neste ponto.
5. O modelo de negócio da empresa
O dividendo até pode ser atractivo, o "payout" definido pela empresa ser adequado aos resultados gerados, o balanço da cotada vender saúde e o histórico na remuneração aos accionistas ser exemplar. Mas outros dos factores a ter em conta para caçar dividendos sustentáveis têm a ver com as características da empresa dentro do seu sector e o modelo de negócio da cotada para o futuro. "Além das políticas de dividendos amigáveis, é especialmente o modelo de negócio da empresa que pode justificar as expectativas de retornos sustentáveis", diz a Allianz Global Investors. Nesse sentido, recomenda privilegiar empresas com grandes quotas de mercado e com poder para ditar preços, salientando a importância de se optar por cotadas "com o modelo de negócio certo".
A IMPORTÂNCIA DO CALENDÁRIO
As datas em que as cotadas pagam os dividendos são outro factor fundamental para os investidores. Muitas das cotadas já viram os seus accionistas aprovarem o valor a pagar e estão agora a anunciar as datas em que vão colocar o dinheiro à disposição dos investidores.
Foi o fizeram diversas cotadas portuguesas nos últimos dias, sendo que já são conhecidas as datas de pagamento de quase 10.
Mais do que a data do pagamento do dividendo, o que é relevante é a data de ex-dividendo, ou seja, quando a acção passa a negociar em bolsa sem direito à remuneração.
Vejamos o caso da EDP Renováveis. A empresa vai pagar o dividendo a partir de 8 de Maio, mas é no dia 4 de Maio que a acção passa a negociar sem direito à remuneração. Assim, para receber o dividendo da empresa de energia, terá que manter a acção em carteira até ao fecho da sessão de 3 de Maio.
Será na sessão de 4 de Maio que a cotação da REN vai reflectir o facto de ter entrado em ex-dividendo, pelo que a cotação deverá ajustar em baixa o valor da remuneração. Contudo, o ajuste não é automático e será o mercado a ditar a cotação de abertura da REN na sessão de 4 de Maio.
Os investidores de dividendos de curto prazo seguem a estratégia de entrar numa acção antes do período de ex-dividendo, esperar que a cotação não ajuste na totalidade o valor da remuneração e vender o título pouco tempo depois.
Daí ser muito relevante estar a par das datas de pagamento de dividendo, que pode conferir no calendário em baixo. Que será actualizado sempre que forem conhecidas novas datas.
Quatro empresas pagam mais dividendos do que os lucros obtidos
A ilustrar como as empresas portuguesas são generosas na altura de remunerar os accionistas, são quatro as que gastam mais a pagar dividendos do que os lucros que obtiveram.
É o caso da Sonae Capital (133,76%), dos CTT (115,76%), Navigator (115,02%) e Nos (113,97%). Há mais oito cotadas que entregam aos accionistas mais de metade dos lucros (o Negócios utiliza o resultado líquido consolidado para calcular o ‘pay out’). Fazendo as contas ao total, as cotadas portuguesas que pagam dividendos entregam aos accionistas 73% dos lucros obtidos.
Um total de 14 empresas vai remunerar os accionistas com quase 2,3 mil milhões de euros, sendo que obtiveram mais de 3,1 mil milhões de euros em lucros.
PARA ONDE VÃO OS DIVIDENDOS
Uma parte significativa dos dividendos da bolsa nacional fica nas mãos de investidores portugueses. As empresas do mercado nacional vão distribuir quase 2, mil milhões de euros aos accionistas, sendo que mais de mil milhões vai para apenas 10 investidores.
Cerca de 210 milhões de euros será destinado para a família Soares dos Santos. Outras fatias consideráveis serão para a Semapa (173,5 milhões), a família Amorim (94 milhões) e a família Azevedo (58 milhões de euros). A EDP (38 milhões de euros) também conta para este "ranking", devido à posição na Renováveis.
China e EUA são os principais destinos
Os maiores destinos estrangeiros dos dividendos da bolsa nacional são a China e os EUA. As entidades do Império do Meio, praticamente todas detidas pelo estado chinês, irão absorver mais de 190 milhões de euros em dividendos. Já os investidores americanos, na sua maioria gestoras de activos, terão direito a remunerações de cerca de 160 milhões de euros. Para ambos os investidores destas nacionalidades a grande fatia dos dividendos vem do sector da energia.
O terceiro principal destino dos dividendos da bolsa nacional é Angola, com as posições da Sonangol e de Isabel dos Santos na Galp e na Nos a render quase 90 milhões de euros em dividendos. A fechar o "top 5" dos países que mais dividendos retiram da bolsa nacional estão o Médio Oriente e Espanha, com cerca de 60 milhões de euros cada.