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Há um mistério com vendas em bloco em Wall Street que também envolve a Farfetch

O Goldman Sachs e o Morgan Stanley despejaram ações de diversas empresas em Wall Street, incluindo da Farfetch, através da venda de blocos. O mercado está agora a especular sobre quem está por detrás destas vendas que colocaram as ações da ViacomCBS em queda livre.

27 de Março de 2021 às 20:17
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A transação de diversos blocos com um elevado número de ações de várias companhias cotadas provocou esta sexta-feira um mistério em Wall Street que gerou uma onda de especulações no maior mercado acionista do mundo. Alguns detalhes foram conhecidos este sábado, mas há ainda muito por desvendar nesta história em que participa a empresa portuguesa Farfetch.

 

A Bloomberg noticiou hoje que o Goldman Sachs transacionou vários blocos de ações na abertura da sessão de sexta-feira, no valor de 10,5 mil milhões de dólares.

 

Citando um e-mail que foi enviado a clientes, a agência de notícias revelou que o Goldman Sachs vendeu ações da Baidu, Tencent Music Entertainment Group e Vipshop Holdings no valor 6,6 mil milhões de dólares. Na mesma altura, também antes da abertura da sessão, vendeu títulos da ViacomCBS, Discovery, Farfetch, iQiyi e GSX Techedu no valor de 3,9 mil milhões de dólares. 

 

No caso da empresa portuguesa que está cotada em Wall Street, foi oferecido um bloco de 10,5 milhões de ações a 42 dólares cada, o que levou as ações a afundar 20% na maior queda desde março de 2020, recuperando depois quase tudo até ao fecho da sessão.

 

O Goldman Sachs não foi o único banco de Wall Stret a transacionar elevados blocos de ações na última sessão desta semana. O Financial Times quantifica em 19 mil milhões de dólares o valor de ações movimentado através de blocos, dando conta que o Morgan Stanley efetuou duas operações, de 4 mil milhões de dólares cada uma.

 

Estas operações penalizaram fortemente o valor de mercado das ações envolvidas nestas transações, que viram o seu valor de mercado conjunto baixar em mais de 30 mil milhões de dólares. A Bloomberg quantifica em 35 mil milhões de dólares e o FT em 33 mil milhões de dólares.

 

A Bloomberg acrescenta igualmente que o Morgan Stanley também esteve envolvido na transação de vários destes blocos, sendo que alguns envolveram mais de mil milhões de dólares de uma só empresa. A venda em blocos é habitualmente precedida de negociação entre quem vende e quem compra, em operações efetuadas fora de mercado e quando a sessão não está ativa.

 
Quem deu ordem para vender as ações?

Já se sabe os bancos responsáveis por grande parte destas transações e as ações envolvidas, mas não os reais motivos que estão na origem destas operações de venda, nem de quem eram estas ações que foram "despejadas" no mercado.

 

Entre os traders o rumor mais comum é de que se trata da liquidação de um grande fundo (ou vários), ou de uma "familly office" em dificuldades, que tenha sido forçada a desfazer-se das ações.

 

No email que enviou aos clientes a dar conta das transações, o Goldman explicou que estas foram motivadas por uma "desalavancagem forçada", sugerindo que se terá tratado mesmo de um grande fundo que tenha sido obrigado a gerar liquidez imediata.

 

Assim que os investidores começaram a ver os blocos a serem transacionados, notaram que eram de empresas chinesas cotadas em Wall Street. Daí que tenham relacionado o movimento com os procedimentos que a Securities and Exchange Commission está a adotar no âmbito da lei introduzida por Donald Trump que visa remover estas companhias da cotação nas bolsas dos EUA.

 

Mas começaram a surgir mais blocos transacionados, desta vez de empresas norte-americanas, o que adensou a especulação que se tratava de um grande investidor em dificuldades a desfazer-se dos títulos.

 

Discovery e ViaCom afundam

O site IPO Edge noticiou mesmo que este sell off em algumas ações ficou a dever-se à liquidação do hedge fund Archegos Capital Management LLC, que investe sobretudo em empresas de media e tecnologia.

 

Segundo a mesma fonte, o Goldman e o Morgan Stanley ofereceram no mercado vários blocos de milhões de ações da ViacomCBS and Discovery, o que colocou as cotações destas companhias em queda livre.

A ViacomCBS afundou 26% na sexta-feira e viu o seu valor de mercado baixar 11 mil milhões de dólares num só dia, enquanto a Discovery deslizou 27%.

 

Estas foram as duas companhias mais castigadas por este sell off localizado que decorreu numa sessão normal em Wall Street e que até terminou em alta nos principais índices.

 

No caso da ViacomCBS, que controla a MTV e o Nickelodeon, este foi o culminar de uma semana agitada, em que perdeu metade do seu valor. Na segunda-feira as ações atingiram um máximo histórico e quarta-feira afundaram 23%, depois de ter anunciado um aumento de capital de 3 mil milhões de dólares.

 

Fontes contactadas pelo FT adiantaram que pelo menos um "familly office" foi duramente atingido pela queda das ações na quarta-feira, tendo sido obrigado a desfazer-se de toda a posição. Contudo, a dimensão dos blocos transacionados na sexta-feira mostra que terão sido vários os grandes investidores envolvidos nesta venda forçada de títulos.

 

A subida das ações da Viacom e da Discovery nos últimos meses também faz parte deste mistério (para) sem explicação em Wall Street. De acordo com o FT, as duas empresas eram de longe as que mais subiam no S&P500 este ano, com subidas de 170% e 148% até ao fecho da sessão da passada segunda-feira. Depois destas sessões negras, a ViacomCBS ganha "apenas" 30% este ano.

 

Farfetch recupera após recomendação do ... Morgan Stanley 

As outras ações envolvidas nas vendas em bloco na sessão de sexta-feira também registaram um desempenho negativo, mas nada parecido com as quedas fortes da ViacomCBS e da Discovery.

 

A retalhista online de artigos de luxo luso-britânica Farfetch fechou sexta-feira a cair 1,68%, recuperando fortemente da queda de 20,38% que chegou a registar em reação à transação dos blocos de ações.

 

Curiosamente (ou não), a recuperação das ações da empresa liderada por José Neves foi impulsionada por um comentário de um analista do Morgan Stanley a recomendar aos clientes que aproveitassem a queda acentuada para comprar as ações.

 

Entre as empresas chinesas, a Tecent Music chegou a cair 20% mas fechou o dia a descer apenas 1,28%. A Baidu até fechou em alta e a Vipshop cedeu 2,38% depois de ter afundado 12,5%. A também chinesa GSX não teve a mesma sorte e os ADR da companhia afundaram 42%.

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