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Retoma económica anima Dow mas colapso do Archegos penaliza Nasdaq e S&P 500
As bolsas norte-americanas encerraram a revelar uma tendência mista, com a expectativa de retoma económica a animar de um lado mas os receios em torno do colpaso de um fundo de cobertura de risco a pressionarem por outro lado.
O Dow Jones fechou a somar 0,30%, para se fixar nos 33.171,37 pontos, muito perto do máximo histórico de 33.227,78 pontos alcançado na sessão de 19 de março.
Já o Standard & Poor’s 500 inverteu para o vermelho nos últimos minutos de negociação, encerrando com uma descida marginal de 0,09%, para 3.971,09 pontos. Anda também perto do recorde fixado na na negociação intradiária de 18 de março, nos 3.983,87 pontos.
Por seu lado, o tecnológico Nasdaq Composite desvalorizou 0,60%, fechando nos 13.059,65 pontos.
Os juros das obrigações do Tesouro a 10 anos nos EUA voltaram hoje a subir, para 1,696%, o que uma vez mais penalizou sobretudo as cotadas do setor tecnológico – já que este contexto reduz o apetite por ações de elevado crescimento em prol de empresas que são vistas como tendo maior probabilidade de um bom desempenho com a retoma da economia.
A rápida retoma económica nos EUA, com os números da população vacinada a aumentarem, são fatores que também ajudam a que os investidores não procurem tanto os ativos seguros, ficando menos avessos ao risco e apostando mais no mercado acionista, o que ajudou a que Wall Street conseguisse manter algum fôlego.
Venda de blocos de ações e colapso do Archegos
No entanto, o colapso do hedge fund Archegos Capital Management pesou bastante na negociação bolsista desta segunda-feira, com os bancos a cederem terreno devido aos alertas de potenciais perdas devido a este facto.
Sem capacidade para reforçar as margens exigidas pelos bancos, o Archegos viu-se obrigado a vender grandes blocos de ações na sexta-feira, provocando um tumulto em Wall Street.
Segundo a Bloomberg, o Archegos vendeu ações no valor de mais de 20 mil milhões de dólares. Os títulos em causa foram desde gigantes tecnológicas chinesas a conglomerados norte-americanos dos media.
Já o Morgan Stanley negociou, nesse mesmo dia, blocos de cerca de 13 mil milhões de dólares de ações, incluindo da Farfetch, Discovery, Baidu e GSZ Techedu. O Goldman Sachs, por seu lado, vendeu o equivalente a 6,6 mil milhões de dólares de ações da Baidu, Tencent Music Entertainment Group e Vipshop Holdings antes da abertura regular do mercado norte-americano. A essas transações seguiu-se a venda do correspondente a 3,9 mil milhões de dólares de títulos da ViacomCBS e da iQiyi.
O envolvimento do Morgan Stanley e do Goldman Sachs nestas vendas foi conhecido no sábado, tendo ontem sido confirmado algo de que já se suspeitava: que teria havido também "family offices" por detrás destas operações. Ficou então a saber-se que o "family investment office" – entidade de gestão e investimento do património de famílias com elevadas fortunas – gerido por Bill Hwang, o Archegos, também participou.
A negociação de blocos de ações – venda de grandes quantidades de ações a um preço que é por vezes negociado fora do mercado – é uma prática comum, mas a dimensão destas operações e os múltiplos blocos que atingiram o mercado durante o seu horário regular de funcionamento já não são habituais.
À CNBC, uma fonte declarou que estas vendas forçadas do Archegos se deveram a "chamadas de margem" (margin calls, que são valores de cobertura adicionais - valor exigido como garantia em operações de investimento com maior risco) devido às posições altamente alavancadas. A chamada de margem é acionada quando a utilização da margem atinge 100%. Assim, à medida que o risco da operação aumenta, pode ser chamada mais margem de garantia.
Boeing em alta
Entre os destaques de hoje pela positiva esteve a Boeing, que somou perto de 2% depois de a transportadora norte-americana Southwestern Airlines ter anunciado que acrescentou 100 encomendas firmes do avião 737 Max7 – operação vista como um sinal de confiança no modelo 737 Max.
No final do ano passado, as autoridades norte-americanas da aviação voltaram a autorizar os voos deste modelo da Boeing, depois de uma suspensão decorrente de dois acidentes aéreos fatais.
Do lado das perdas estiveram os títulos da banca, depois de o incumprimento no pagamento das chamadas de margem por parte do Archegos ter levado os investidores a questionarem-se sobre quem mais poderá ter sido apanhado nestas malhas (além do Nomura e do Credit Suisse, que estão perante perdas de milhares de milhões de dólares).
O Morgan Stanley caiu 2,63% e o Goldman recuou 0,51%.
Também a Discovery, ViacomCBS, as ações da Baidu listadas nos EUA e a VIPShop, todas ligadas ao Archegos, cederam terreno.
O Nasdaq está a caminho do seu primeiro saldo mensal negativo depois de quatro meses no verde. Já o S&P 500 e o Dow seguem com a mira no segundo mês consecutivo de ganhos.
Há pouco mais de uma semana, o Dow e o S&P 500 marcaram novos máximos históricos, ao passo que o Nasdaq anda mais longe do seu recorde fixado a 16 de fevereiro nos 14.174,56 pontos.