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Gestora de património privado envolvida na venda de blocos de ações em Wall Street

O envolvimento do Morgan Stanley e do Goldman Sachs nestas vendas foi conhecido ontem, tendo este domingo ficado a saber-se então que o "family office" gerido por Hwang também participou.

Reuters
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O "family investment office" – entidade de gestão e investimento do património de famílias com elevadas fortunas – gerido por Bill Hwang está também por detrás da venda sem precedentes de vários blocos de ações em Wall Street na passada sexta-feira, avançaram a Bloomberg e o Financial Times citando fontes próximas destas operações.

Bill Hwang, que trabalhou como analista de ações na Tiger Management e que fundou e geriu o fundo de cobertura de risco Tiger Asia entre 2001 e 2012, acabou entretanto por fundar a Archegos Capital Management, da qual é CEO. Trata-se de um "family investment office" especializado na negociação de empresas cotadas sobretudo nos EUA, China, Japão, Coreia do Sul e Europa, e sabe-se então agora que também está por detrás das vendas de sexta-feira na bolsa norte-americana.

 

Segundo a Bloomberg, a Archegos vendeu ações no valor de mais de 20 mil milhões de dólares. Os títulos em causa vão desde gigantes tecnológicas chinesas a conglomerados norte-americanos dos media, disseram duas fontes à agência noticiosa.

 

Já o Morgan Stanley negociou cerca de 13 mil milhões de dólares de ações, incluindo da Farfetch, Discovery, Baidu e GSZ Techedu, referiram as mesmas fontes, que pediram anonimato.

 

O Goldman Sachs, por seu lado, vendeu o equivalente a 6,6 mil milhões de dólares de ações da Baidu, Tencent Music Entertainment Group e Vipshop Holdings antes da abertura regular do mercado norte-americano, explica um email a clientes a que a Bloomberg News teve acesso.

 

A essas transações seguiu-se a venda do correspondente a 3,9 mil milhões de dólares de títulos da ViacomCBS e da iQiyi, diz o mesmo email.

 

Desde ontem que se tem especulado fortemente sobre a identidade destes vendedores. A liquidação destas ações levou a fortes oscilações nos preços das ações envolvidas.

 

O envolvimento do Morgan Stanley e do Goldman Sachs nestas vendas foi conhecido ontem, tendo este domingo sido confirmado algo de que já se suspeitava: que teria havido também "family offices" por detrás destas operações. Ficou então a saber-se que o "family office" gerido por Hwang também participou.

 

A negociação de blocos de ações – venda de grandes quantidades de ações a um preço que é por vezes negociado fora do mercado – é uma prática comum, mas a dimensão destas operações e os múltiplos blocos que atingiram o mercado durante o seu horário regular de funcionamento já não são habituais, sublinha a Bloomberg.

 

Em dezembro de 2012, Bill Hwang admitiu ter usado informação confidencial, de forma ilegal, para negociar ações da banca chinesa – e nessa altura chegou a acordo com a Justiça para o pagamento de indemnizações que superaram os 60 milhões de dólares.

À CNBC, uma fonte declarou que estas vendas forçadas da Archegos se deveram, muito provavelmente, a "chamadas de margem" (margin calls, que são valores de cobertura adicionais - valor exigido como garantia em operações de investimento com maior risco) devido às posições altamente alavancadas. A chamada de margem é acionada quando a utilização da margem atinge 100%. Assim, à medida que o risco da operação aumenta, pode ser chamada mais margem de garantia.

 

A Farfetch, retalhista online de moda de luxo liderada pelo português José Neves, está sediada em Londres e está cotada desde setembro de 2018 na bolsa de Nova Iorque.

 

No caso da Farfetch, foi oferecido na sexta-feira um bloco de 10,5 milhões de ações a 42 dólares cada, o que levou as ações a afundar 20% na maior queda desde março de 2020, recuperando depois quase tudo até ao fecho da sessão.

Discovery e ViaCom também afundam

 

O site IPO Edge já noticiava ontem que este sell off em algumas ações tinha ficado a dever-se à liquidação do Tiger Cub Archegos Capital Management LLC, que investe sobretudo em empresas de media e tecnologia.

 

A ViacomCBS afundou 26% na sexta-feira e viu o seu valor de mercado baixar 11 mil milhões de dólares num só dia, enquanto a Discovery deslizou 27%.

 

Estas foram as duas companhias mais castigadas por este sell off localizado que decorreu numa sessão normal em Wall Street e que até terminou em alta nos principais índices.

 

No caso da ViacomCBS, que controla a MTV e o Nickelodeon, este foi o culminar de uma semana agitada, em que perdeu metade do seu valor. Na segunda-feira as ações atingiram um máximo histórico e quarta-feira afundaram 23%, depois de ter anunciado um aumento de capital de 3 mil milhões de dólares.

 

Fontes contactadas pelo FT adiantaram que pelo menos um "familly office" – que agora se sabe ter sido o de Bill Hwang – foi duramente atingido pela queda das ações na quarta-feira, tendo sido obrigado a desfazer-se de toda a posição. Contudo, a dimensão dos blocos transacionados na sexta-feira mostrou que teriam sido vários os grandes investidores envolvidos nesta venda forçada de títulos.

 

A subida das ações da Viacom e da Discovery nos últimos meses também faz parte deste mistério (para) sem explicação em Wall Street. De acordo com o FT, as duas empresas eram de longe as que mais subiam no S&P500 este ano, com subidas de 170% e 148% até ao fecho da sessão da passada segunda-feira. Depois destas sessões negras, a ViacomCBS ganha "apenas" 30% este ano.

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