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Havia forma de fintar as restrições na aposta na descida das acções?

A utilização dos instrumentos que apostam na deterioração do perfil de crédito dos bancos poderia ser uma forma de contornar as limitações às apostas na descida das acções. Mas a táctica não foi utilizada.

Bloomberg
08 de Março de 2016 às 15:52
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No auge da crise de dívida soberana, os reguladores financeiros europeus tentaram conter os estragos provocados nas acções dos bancos, proibindo a venda a descoberto desses títulos entre Agosto de 2011 e Fevereiro de 2012. Mas, apesar da proibição das vendas curtas, que apostam na descida das acções, havia uma forma de obter um efeito semelhante sem violar as regras, segundo um estudo divulgado esta terça-feira pela CMVM, assinado por Paulo Pereira da Silva. No entanto, isso não viria a ser utilizado pelos investidores que pretendiam tirar partido da maior percepção de risco sobre os bancos europeus.

Essa táctica passaria pela compra de "credit default swaps" (CDS), instrumentos que têm o objectivo de proteger as posições em dívida de uma determinada entidade. No entanto, os CDS podem também ser utilizados para especular na deterioração da confiança sobre determinado activo. Quando maior a percepção de risco, maior o valor dos CDS e o retorno do seu detentor.

"Desde que os CDS não negociassem a preços proibitivos, a possibilidade de comprar CDS abria um canal indirecto através do qual as restrições para as vendas a descoberto poderiam ser contornadas", refere o estudo. E explica que "como os CDS são uma protecção contra a falência de uma empresa, são naturalmente sensíveis a informações negativas. Adicionalmente, permitem aos investidores alavancarem as suas posições".

Restrições também afectaram o mercado de CDS

Apesar desta forma para contornar as regras, os resultados do estudo não "apoiam a perspectiva de que os investidores viram a compra de protecção de crédito como um substituto viável para as posições curtas nas acções".

Isto porque, após as restrições, em vez de um aumento do valor aplicado em CDS houve uma diminuição. Também não se assistiu a uma pressão nos preços dos CDS das empresas em que as vendas curtas estavam restritas e o comportamento destes instrumentos deixou de conseguir prever a queda das acções.

Apesar do estudo referir que não são claras as razões que impediram a migração dos investidores que apostam nas descidas das acções para o mercado de CDS, apresenta três hipóteses.

A primeira está relacionada com a segmentação de mercado. "Os investidores que negoceiam acções podem enfrentar restrições ou custos adicionais quando negoceiam CDS", refere o estudo. Uma outra possível explicação é que a volatilidade que se vivia no mercado afectou o diferencial entre os preços da oferta e da procura no mercado de CDS, o que poderá ter desencorajado a migração de investidores em acções para este mercado.

A terceira hipótese é que as restrições nas acções também criaram constrangimentos no mercado de CDS. "Finalmente, os negociantes de CDS podem ter de usar posições curtas no mercado de acções para protegerem as vendas que fazem de protecção de crédito", diz o estudo. Acrescenta que "uma restrição de curto prazo inibiria estas entidades de cobrirem as suas exposições. Assim, os negociantes de CDS podem ter-se tornado mais relutantes em vender protecção através dos mercados de CDS, impedindo os investidores de negociarem nesse mercado".

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