Notícia
O santo graal do futuro
A IBM e a Intel estão na vanguarda da tecnologia blockchain para empresas, ajudando a eliminar intermediários e a melhorar a segurança das transações. Os dois títulos são uma boa opção de investimento
09 de Abril de 2019 às 12:30
Em 2018, a Walmart, a maior empresa de retalho do mundo, foi obrigada a recolher toneladas de embalagens de alface das prateleiras depois de 150 pessoas ficarem doentes com a bactéria E. Coli. Qual dos produtores teria fornecido a alface contaminada? Não sabia. Os testes da Food and Drug Administration concluíram que a E.Coli estava na alface que vinha de Yuma, no Arizona.
A Walmart levou sete dias a identificar o lote contaminado. Pergunta: o que tem esta história que ver com a blockchain? Tudo! Com esta tecnologia, bastariam 2,2 segundos para identificar o que a Walmart demorou uma semana a conseguir. Depois deste incidente, a empresa pediu à IBM para implementar uma solução baseada na blockchain de forma a identificar o percurso de todos os vegetais que vende desde o produtor até ao momento em que chega às prateleiras do supermercado. O que ganha com isso? Celeridade a identificar e a resolver problemas como este que põem em causa a saúde pública, poupando milhares por não ter de desperdiçar toneladas de alimentos.
A blockchain pode bem ser o santo graal das transações e dos contratos, no futuro. As empresas estão a descobrir que a tecnologia criada por Satoshi Nakamoto, em 2008, para a Bitcoin, tem, afinal, um potencial infinito. Não só acelera e descentraliza o processo de decisão, como elimina intermediários , aumentando a segurança nas transações. Como? Tal como o nome indica, funciona por blocos, como se fossem peças de lego. Sempre que é realizada uma transação é acrescentado um bloco e assim sucessivamente. Cada um contém informação sobre a operação. Estes dados vão sendo "empilhados" e ordenados de acordo com uma sequência cronológica. Os elementos contidos em cada bloco são encriptados, para não serem facilmente desvendados. É gerada uma chave pública e outra privada. Esta última permanece em segredo e é quase impossível uma única pessoa alterar os dados na blockchain, porque cada bloco tem informação que só uma rede de computadores consegue resolver. Isto é, como estão encadeados, torna-se praticamente impossível decifrá-los. Pense na quantidade de transações que um retalhista do tamanho da Walmart realiza? Milhares! Agora, imagine que o historial médico de uma pessoa estava disponível através da blockchain? Qualquer profissional de saúde, em qualquer parte do mundo, poderia aceder instantaneamente. Estes são apenas dois exemplos de como esta tecnologia pode funcionar.
O setor financeiro também está na linha da frente para sofrer disrupção com a blockchain. Há diversas áreas onde existem benefícios óbvios, como os pagamentos ou custódia de ações e outros valores. Não admira que as instituições financeiras estejam entre as empresas que mais investem e registam patentes ligadas à blockchain.
O que tem isto que ver com investimento?
Segundo a consultora especializada em tecnologia, WinterGreen Research, o potencial da blockchain aplicada às empresas é enorme. O mercado vale atualmente 700 milhões de dólares, mas deverá representar 60 mil milhões, em 2024. Há quem lhe chame a 4.ª revolução industrial. Em abril, vai realizar-se a World Blockchain Summit em Taipé, que pretende tornar-se uma cidade inteligente com a ajuda desta tecnologia. Taiwan está tão empenhado que, no ano passado, legisladores propuseram uma aliança parlamentar para promover o desenvolvimento da indústria. Um dos grandes players mundiais é, no entanto, americano. Em 2015, a IBM associou-se à Linux Foundation para criar o projeto colaborativo Hyperledger. O objetivo é desenvolver soluções à medida das empresas, como esta da Food Trust para a Walmart (ver infografia), em várias áreas económicas, incluindo seguros, aviação e alimentação, com base na tecnologia Open Block-chain da IBM.
Este gigante tecnológico, que tem investido milhões nos últimos anos a registar patentes na área, criou o Hyperledger Fabric para hospedar os vários projetos associados às empresas. Motivo pelo qual consideramos a IBM uma das líderes atuais, se não mesmo a líder, na blockchain para as empresas.
Além da IBM, a Intel é também parceira da Linux Foundation, com o projeto Scantrust, que opera uma plataforma Software as a Service corporativa para conectar milhões de produtos à Internet, dando a cada um desses produtos uma identidade digital única na nuvem (cloud). Com o seu código QR à prova de cópia, a empresa traz confiança, transparência e rastreabilidade à cadeia de abastecimentos. Um exemplo: se ler o rótulo de um pacote de café com o seu telemóvel, terá toda a informação sobre o agricultor colombiano, que cultivou esse mesmo café.
A estratégia da Intel é, porém, distinta do plano da IBM. Esta última quer vender aplicações de blockchain para empresas, enquanto a Intel aposta, sobretudo, em favorecer o seu hardware, reforçando a sua posição de líder no segmento de processadores para servidores de companhias, retirando benefícios de forma indireta. Além do projeto Hyperledger, a Intel colabora noutras iniciativas ligadas à blockchain, como a Ethereum Enterprise Aliance e o consórcio R3. Criar uma plataforma de blockchain de raiz é pouco eficiente, para uma empresa. É preferível utilizar a tecnologia de um fornecedor do que desenvolver aplicações próprias. A tecnologia está, porém, ainda na infância e só agora se começa a ver a transição de projetos-piloto para soluções comercialmente vendáveis. Investir na blockchain é, por isso, uma aposta a longo prazo. Os críticos desta tecnologia argumentam que muitos dos benefícios podem ser obtidos por outros métodos de tratamento da informação, que evitam os inconvenientes da blockchain. De acordo com o estudo "Global Blockchain Survey 2018", da consultora PricewaterhouseCoopers, os principais obstáculos à sua adoção pelas empresas são: a incerteza regulatória; a falta de confiança dos utilizadores na tecnologia; a incapacidade de pôr todos os participantes da rede a usar a mesma; a incompatibilidade entre diferentes tipos de blockchain; a incapacidade de funcionar a grande escala.
Se os três primeiros fatores não dependem da tecnologia, já os outros dois sim, e é nesse ponto que o trabalho da Hyperledger é relevante. As participantes não contribuem com "código aberto" de forma desinteressada. Beneficiam não só do trabalho da comunidade de programadores para melhorar e otimizar o seu software, como contribuem para que seja adotado por outros, sendo provável que se imponha como standard e que as aplicações blockchain tenham de usar. Ser capaz de influenciar os standards, que irão reger as blockchains, pode dar uma vantagem estratégica a uma organização.
A blockchain não deve ser a única razão para investir hoje na IBM ou na Intel. Esta tecnologia ainda não tem grande impacto nos resultados. Por exemplo, a IBM não discrimina, nas suas contas, as atividades ligadas à blockchain, embora o segmento Cloud Platforms (onde estão inseridas) tenha representado 44% das receitas, nos primeiros nove meses de 2018. A blockchain é ainda uma parte muito pequena deste valor.
As duas empresas são atrativas e merecem o nosso conselho de compra também por outros motivos. A IBM é uma aposta a longo prazo e está barata (a cotação representa menos de 10 vezes os lucros esperados para 2019). A ação não acompanhou a subida generalizada do setor tecnológico porque os resultados nos últimos anos têm desiludido. A gigante tecnológica está a tentar reorientar-se para atividades de maior crescimento, face à decadência do seu modelo de negócio tradicional, assente no hardware. Plantou "sementes" em diversos campos interessantes. Além da blockchain, está a apostar em diversas áreas da cloud, na inteligência artificial, etc.
Com a correção recente dos mercados, a Intel também ficou barata (o rácio entre cotação e lucro esperado para 2019 está pouco acima de 10). A líder de mercado atravessa um bom momento, tendo apresentado recentemente resultados muito sólidos. É um bom ativo para adicionar a uma carteira de investimentos, embora a sua estratégia para a blockchain possa trazer menos benefícios do que a da IBM. No nosso portal www.deco.proteste.pt/investe, encontrará análise mais detalhada a estas duas empresas.
Desde que apareceram as criptomoedas, aconselhámos cautela face à euforia desmedida que invadiu alguns investidores, mas sempre reconhecemos potencial à blockchain. Segundo a WinterGreen Research, a IBM e a Microsoft lideraram os projetos de desenvolvimento da blockchain, em 2018. Mas não são as únicas. Facebook, Google, Amazon e Accenture também estão na corrida, o que faz prever grandes desenvolvimentos da tecnologia no futuro. Até a ONU está a utilizar a blockchain (Building Blocks), no Programa Alimentar Mundial, para ajudar a gerir os campos de refugiados. Em Portugal, a blockchain está a dar os primeiros passos. O Hospital St. Louis assinou, na segunda semana de janeiro, um acordo com a start-up nacional Blockbird Ventures, para desenvolver uma plataforma de gestão de privacidade de dados pessoais assente nesta tecnologia.
A Walmart levou sete dias a identificar o lote contaminado. Pergunta: o que tem esta história que ver com a blockchain? Tudo! Com esta tecnologia, bastariam 2,2 segundos para identificar o que a Walmart demorou uma semana a conseguir. Depois deste incidente, a empresa pediu à IBM para implementar uma solução baseada na blockchain de forma a identificar o percurso de todos os vegetais que vende desde o produtor até ao momento em que chega às prateleiras do supermercado. O que ganha com isso? Celeridade a identificar e a resolver problemas como este que põem em causa a saúde pública, poupando milhares por não ter de desperdiçar toneladas de alimentos.
O setor financeiro também está na linha da frente para sofrer disrupção com a blockchain. Há diversas áreas onde existem benefícios óbvios, como os pagamentos ou custódia de ações e outros valores. Não admira que as instituições financeiras estejam entre as empresas que mais investem e registam patentes ligadas à blockchain.
O que tem isto que ver com investimento?
Segundo a consultora especializada em tecnologia, WinterGreen Research, o potencial da blockchain aplicada às empresas é enorme. O mercado vale atualmente 700 milhões de dólares, mas deverá representar 60 mil milhões, em 2024. Há quem lhe chame a 4.ª revolução industrial. Em abril, vai realizar-se a World Blockchain Summit em Taipé, que pretende tornar-se uma cidade inteligente com a ajuda desta tecnologia. Taiwan está tão empenhado que, no ano passado, legisladores propuseram uma aliança parlamentar para promover o desenvolvimento da indústria. Um dos grandes players mundiais é, no entanto, americano. Em 2015, a IBM associou-se à Linux Foundation para criar o projeto colaborativo Hyperledger. O objetivo é desenvolver soluções à medida das empresas, como esta da Food Trust para a Walmart (ver infografia), em várias áreas económicas, incluindo seguros, aviação e alimentação, com base na tecnologia Open Block-chain da IBM.
Este gigante tecnológico, que tem investido milhões nos últimos anos a registar patentes na área, criou o Hyperledger Fabric para hospedar os vários projetos associados às empresas. Motivo pelo qual consideramos a IBM uma das líderes atuais, se não mesmo a líder, na blockchain para as empresas.
Além da IBM, a Intel é também parceira da Linux Foundation, com o projeto Scantrust, que opera uma plataforma Software as a Service corporativa para conectar milhões de produtos à Internet, dando a cada um desses produtos uma identidade digital única na nuvem (cloud). Com o seu código QR à prova de cópia, a empresa traz confiança, transparência e rastreabilidade à cadeia de abastecimentos. Um exemplo: se ler o rótulo de um pacote de café com o seu telemóvel, terá toda a informação sobre o agricultor colombiano, que cultivou esse mesmo café.
A estratégia da Intel é, porém, distinta do plano da IBM. Esta última quer vender aplicações de blockchain para empresas, enquanto a Intel aposta, sobretudo, em favorecer o seu hardware, reforçando a sua posição de líder no segmento de processadores para servidores de companhias, retirando benefícios de forma indireta. Além do projeto Hyperledger, a Intel colabora noutras iniciativas ligadas à blockchain, como a Ethereum Enterprise Aliance e o consórcio R3. Criar uma plataforma de blockchain de raiz é pouco eficiente, para uma empresa. É preferível utilizar a tecnologia de um fornecedor do que desenvolver aplicações próprias. A tecnologia está, porém, ainda na infância e só agora se começa a ver a transição de projetos-piloto para soluções comercialmente vendáveis. Investir na blockchain é, por isso, uma aposta a longo prazo. Os críticos desta tecnologia argumentam que muitos dos benefícios podem ser obtidos por outros métodos de tratamento da informação, que evitam os inconvenientes da blockchain. De acordo com o estudo "Global Blockchain Survey 2018", da consultora PricewaterhouseCoopers, os principais obstáculos à sua adoção pelas empresas são: a incerteza regulatória; a falta de confiança dos utilizadores na tecnologia; a incapacidade de pôr todos os participantes da rede a usar a mesma; a incompatibilidade entre diferentes tipos de blockchain; a incapacidade de funcionar a grande escala.
Se os três primeiros fatores não dependem da tecnologia, já os outros dois sim, e é nesse ponto que o trabalho da Hyperledger é relevante. As participantes não contribuem com "código aberto" de forma desinteressada. Beneficiam não só do trabalho da comunidade de programadores para melhorar e otimizar o seu software, como contribuem para que seja adotado por outros, sendo provável que se imponha como standard e que as aplicações blockchain tenham de usar. Ser capaz de influenciar os standards, que irão reger as blockchains, pode dar uma vantagem estratégica a uma organização.
A blockchain não deve ser a única razão para investir hoje na IBM ou na Intel. Esta tecnologia ainda não tem grande impacto nos resultados. Por exemplo, a IBM não discrimina, nas suas contas, as atividades ligadas à blockchain, embora o segmento Cloud Platforms (onde estão inseridas) tenha representado 44% das receitas, nos primeiros nove meses de 2018. A blockchain é ainda uma parte muito pequena deste valor.
As duas empresas são atrativas e merecem o nosso conselho de compra também por outros motivos. A IBM é uma aposta a longo prazo e está barata (a cotação representa menos de 10 vezes os lucros esperados para 2019). A ação não acompanhou a subida generalizada do setor tecnológico porque os resultados nos últimos anos têm desiludido. A gigante tecnológica está a tentar reorientar-se para atividades de maior crescimento, face à decadência do seu modelo de negócio tradicional, assente no hardware. Plantou "sementes" em diversos campos interessantes. Além da blockchain, está a apostar em diversas áreas da cloud, na inteligência artificial, etc.
Com a correção recente dos mercados, a Intel também ficou barata (o rácio entre cotação e lucro esperado para 2019 está pouco acima de 10). A líder de mercado atravessa um bom momento, tendo apresentado recentemente resultados muito sólidos. É um bom ativo para adicionar a uma carteira de investimentos, embora a sua estratégia para a blockchain possa trazer menos benefícios do que a da IBM. No nosso portal www.deco.proteste.pt/investe, encontrará análise mais detalhada a estas duas empresas.
Desde que apareceram as criptomoedas, aconselhámos cautela face à euforia desmedida que invadiu alguns investidores, mas sempre reconhecemos potencial à blockchain. Segundo a WinterGreen Research, a IBM e a Microsoft lideraram os projetos de desenvolvimento da blockchain, em 2018. Mas não são as únicas. Facebook, Google, Amazon e Accenture também estão na corrida, o que faz prever grandes desenvolvimentos da tecnologia no futuro. Até a ONU está a utilizar a blockchain (Building Blocks), no Programa Alimentar Mundial, para ajudar a gerir os campos de refugiados. Em Portugal, a blockchain está a dar os primeiros passos. O Hospital St. Louis assinou, na segunda semana de janeiro, um acordo com a start-up nacional Blockbird Ventures, para desenvolver uma plataforma de gestão de privacidade de dados pessoais assente nesta tecnologia.