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Raul Martins: "Não temos guerra contra o alojamento local"

Autorização do condomínio para que haja num prédio unidades de alojamento local. A sugestão é do sector hoteleiro, que já atenuou o seu discurso face aos rivais. Há espaço para mais turistas, basta definir regras.

Miguel Baltazar
01 de Novembro de 2016 às 22:00
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Raul Martins é o novo presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP). O sector não está contra o alojamento local, assegura. O também dono dos hotéis Altis pede mais regulação, para evitar que pequenos conflitos com os locais ganhem uma dimensão desmedida.

O turismo cresce a olhos vistos. Como explica?

O país saiu da crise e a sua segurança destacou-se face a outras origens. Se por isso os turistas passaram a olhar para Portugal, parece-me que a promoção feita até então foi insuficiente. Se tivesse sido mais adequada e relevante, as pessoas tinham-nos descoberto mais cedo.


A tendência passou vários governos e cores políticas?


Sim. A promoção não se fazia. Não havia disponibilidade financeira e os cortes foram cada vez maiores. A reformulação das regiões de turismo também ajudou a concentrar as capacidades de promoção. Estão maiores e mais organizadas.


Há novo Governo. O turismo deixou de ser o parente pobre no Ministério da Economia?


Os governantes confiam muito na iniciativa privada do turismo. Mas precisamos sempre de algum apoio institucional e temos forma, através do Governo, de promover essas situações.


O trabalho da secretária de Estado do Turismo distingue-se?


A dr.ª Ana Mendes Godinho é uma pessoa focada no turismo. Isso deu-nos, logo à partida, uma confiança. Tem-se mantido porque sabe do que está a falar e está empenhada na promoção e mobilização do sector. É muito combativa e ouve-nos. Não se põe no gabinete.


Em que aspectos?


Uma das nossas reivindicações era acabar com a inexistência de estrelas para os hotéis. Foi uma primeira atitude face àquilo que nos preocupava. O anterior secretário de Estado [Adolfo Mesquita Nunes] liberalizou demasiado a situação.


E outras reivindicações?


A diferenciação concreta das unidades. Quando se tem um hostel, tem de estar definido como tal. É outra forma de hotelaria. Têm de ter um enquadramento. Não podemos só meter naquilo que existe.


Querem adaptações laborais?


Estamos razoavelmente satisfeitos com a situação. Conseguimos trabalhar com este enquadramento. É importante manter o banco de horas, uma ferramenta muito importante para uma actividade sazonal como a hotelaria e que permite estabilizar relações laborais.


O seu antecessor na AHP era muito crítico do alojamento local. E você?


Não somos contra o alojamento local, ponto.


Atenuou-se a guerra?


Não temos guerra contra o alojamento local. A situação não está é regulada. Estamos preocupados com a forma como ele pode trazer reacções negativas dos habitantes, porque temos turistas a utilizar alojamento local em edifícios de habitação. Há um conflito de hábitos.


Como se resolve?


Consideramos que é necessário ter autorização do condomínio para o alojamento local estar instalado. Neste momento não é um requisito. Todo o turista passa a ser rotulado da mesma forma: "como é turista, está-me a incomodar". Isso acaba por prejudicar os hoteleiros.


É um risco para todo o sector.


Corre-se o risco de haver uma recusa de mais turistas, quando os indicadores mostram que estamos muito longe desse cenário. Há ainda muito espaço.


E com a pressão imobiliária devido ao turismo, não há o risco de se perder identidade?


O que há é a utilização de espaços que estavam abandonados e foram reabilitados para hotéis ou alojamento local. Os portugueses que já cá estavam não foram rejeitados. Não estamos a substituir uns pelos outros.


Mas essa dinâmica é inegável.


O alojamento local está a criar algumas dificuldades no arrendamento tradicional. Estava a pagar 4% sobre as receitas enquanto o arrendamento paga 28%. O aspecto fiscal estava a distorcer o mercado.


É corrigido no próximo Orçamento do Estado. Positivo?


Sim. Achávamos que não podíamos pôr ao alojamento local a mesma taxa porque, muitas vezes, tem serviços associados. É positivo para que pessoas possam estar também interessadas em ter arrendamento.


Mas não contraria a ideia de que o alojamento local e os hotéis aparecerem como cogumelos.


O português é sempre exagerado nos seus comentários. Quando estávamos em zero e aumentámos 5.000, aumentámos 5.000%. Era importante uma fiscalização mais presente. A própria ASAE queixa-se de não ter meios.


Quantos novos hotéis abriram em 2016 no país?


Em 2015 abriram 40. Este ano há 26 novos e nove remodelações.

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