Notícia
Raul Martins: "Não temos guerra contra o alojamento local"
Autorização do condomínio para que haja num prédio unidades de alojamento local. A sugestão é do sector hoteleiro, que já atenuou o seu discurso face aos rivais. Há espaço para mais turistas, basta definir regras.
Raul Martins é o novo presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP). O sector não está contra o alojamento local, assegura. O também dono dos hotéis Altis pede mais regulação, para evitar que pequenos conflitos com os locais ganhem uma dimensão desmedida.
O turismo cresce a olhos vistos. Como explica?
A tendência passou vários governos e cores políticas?
Sim. A promoção não se fazia. Não havia disponibilidade financeira e os cortes foram cada vez maiores. A reformulação das regiões de turismo também ajudou a concentrar as capacidades de promoção. Estão maiores e mais organizadas.
Há novo Governo. O turismo deixou de ser o parente pobre no Ministério da Economia?
O trabalho da secretária de Estado do Turismo distingue-se?
A dr.ª Ana Mendes Godinho é uma pessoa focada no turismo. Isso deu-nos, logo à partida, uma confiança. Tem-se mantido porque sabe do que está a falar e está empenhada na promoção e mobilização do sector. É muito combativa e ouve-nos. Não se põe no gabinete.
Em que aspectos?
Uma das nossas reivindicações era acabar com a inexistência de estrelas para os hotéis. Foi uma primeira atitude face àquilo que nos preocupava. O anterior secretário de Estado [Adolfo Mesquita Nunes] liberalizou demasiado a situação.
E outras reivindicações?
Querem adaptações laborais?
Estamos razoavelmente satisfeitos com a situação. Conseguimos trabalhar com este enquadramento. É importante manter o banco de horas, uma ferramenta muito importante para uma actividade sazonal como a hotelaria e que permite estabilizar relações laborais.
O seu antecessor na AHP era muito crítico do alojamento local. E você?
Não somos contra o alojamento local, ponto.
Atenuou-se a guerra?
Como se resolve?
Consideramos que é necessário ter autorização do condomínio para o alojamento local estar instalado. Neste momento não é um requisito. Todo o turista passa a ser rotulado da mesma forma: "como é turista, está-me a incomodar". Isso acaba por prejudicar os hoteleiros.
É um risco para todo o sector.
Corre-se o risco de haver uma recusa de mais turistas, quando os indicadores mostram que estamos muito longe desse cenário. Há ainda muito espaço.
E com a pressão imobiliária devido ao turismo, não há o risco de se perder identidade?
O que há é a utilização de espaços que estavam abandonados e foram reabilitados para hotéis ou alojamento local. Os portugueses que já cá estavam não foram rejeitados. Não estamos a substituir uns pelos outros.
Mas essa dinâmica é inegável.
O alojamento local está a criar algumas dificuldades no arrendamento tradicional. Estava a pagar 4% sobre as receitas enquanto o arrendamento paga 28%. O aspecto fiscal estava a distorcer o mercado.
É corrigido no próximo Orçamento do Estado. Positivo?
Sim. Achávamos que não podíamos pôr ao alojamento local a mesma taxa porque, muitas vezes, tem serviços associados. É positivo para que pessoas possam estar também interessadas em ter arrendamento.
Mas não contraria a ideia de que o alojamento local e os hotéis aparecerem como cogumelos.
O português é sempre exagerado nos seus comentários. Quando estávamos em zero e aumentámos 5.000, aumentámos 5.000%. Era importante uma fiscalização mais presente. A própria ASAE queixa-se de não ter meios.
Quantos novos hotéis abriram em 2016 no país?
Em 2015 abriram 40. Este ano há 26 novos e nove remodelações.