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Pessoal de voo diz-se "usado e enganado" após ler relatório do inquérito à TAP

Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil afirma que "não é possível ler o que foi escrito e ficar indiferente" e lamenta que o processo de reestruturação tenha tido apenas direito a "6 páginas e meia de um relatório com 180 páginas".

O Governo quer avançar com privatização da TAP ainda este verão.
Miguel Baltazar
06 de Julho de 2023 às 11:28
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O Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) diz-se "usado e enganado" pela comissão de inquérito à TAP e mostra-se desapontado com as conclusões apresentadas no relatório entregue pela deputada socialista Ana Paula Bernardo.

Em comunicado, o sindicato "lamenta" que o relatório seja "um documento com tamanha ligeireza, falta de rigor, omissões e inverdades, que mais não são que uma falta de respeito para com os tripulantes de cabine da TAP, os trabalhadores do Grupo TAP, os portugueses e contribuintes".

"Não é possível ler o que foi escrito e ficar indiferente, sobretudo quando se lê o que está relatado no ponto 4, referente ao plano de reestruturação", apontam, frisando depois que "a direção do SNPVAC sente-se enganada e usada".

O pessoal de voo representado pelo sindicato destaca também o facto de "o maior processo de reestruturação de uma empresa pública executado nos últimos anos e que implicou uma injeção de dinheiros públicos na TAP de 3,2 mil milhões de euros" tenha apenas merecido a análise em "6 páginas e meia de um relatório com 180 páginas".

Isto porque, sublinha o sindicato, foi esse mesmo processo de reestruturação que impôs o "despedimento coletivo e a saída de milhares de trabalhadores, agravado de um corte nos salários de 25% dos trabalhadores que ficaram".

No entender do SNPVAC, o relatório da comissão de inquérito deveria incluir nas "singelas páginas" que se referem à reestruturação da companhia aérea "o que foi dito nas audiências que se foram realizando ao longo destes últimos meses".

"Este relatório, a propósito do plano de reestruturação, transcreve muita informação que é pública desde 2021, mas omite informação nova e muito relevante que foi prestada pelo SNPVAC na CPI", explicam os tripulantes, adiantando não compreender "como é possível não constar neste relatório a informação oficial de que Bruxelas sugeriu e defendeu outras soluções — menos duras e onerosas para os trabalhadores do Grupo TAP — no âmbito das negociações do plano de reestruturação".

"Recordamos que esse documento oficial, onde está plasmada a referida sugestão de Bruxelas, foi dado a conhecer, entregue e comentado pelo SNPVAC, no dia em foi ouvido pelos deputados na CPI", explica a direção do sindicato no comunicado, lembrando também que "o próprio chairman da empresa à data das negociações dos Acordos Temporários de Emergência, Miguel Frasquilho, confirmou na CPI essa mesma possibilidade avançada pela União Europeia". 

 

"Como é que uma informação tão impactante na vida dos trabalhadores do Grupo nos últimos 3 anos, não teve qualquer relevância neste relatório", questiona o sindicato, acrescentando que o "relatório veio confirmar os receios e as críticas" do SNPVAC de que "que houve muita política e pouca TAP" naquela comissão parlamentar de inquérito.

"De facto, não é possível ler o que foi escrito e não nos sentirmos enganados e usados! Uma vez mais, a instituição TAP foi usada como um mero joguete político, onde o rigor e a seriedade que era expectável e exigível neste processo foi uma mera ilusão", conclui o sindicato no comunicado.

As conclusões apresentadas pela deputada socialista Ana Paula Bernardo tem vindo a ser fortemente contestadas, sobretudo pela oposição ao PS. A ausência de interferência do Governo na gestão da transportadora aérea é um dos pontos mais polémicos da versão preliminar do relatório que foi tornado público na madrugada de quarta-feira. Estas são as conclusões essenciais do documento – e o conjunto de casos que não refere.

Os partidos políticos veem no documento um "branqueamento" dos factos analisados no Parlamento e há mesmo quem considere que representa uma "obra de ficção".

O deputados podem agora apresentar propostas de alteração a este relatório até 10 de julho, estando a votação marcada para 13 de julho na comissão parlamentar de inquérito.

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