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Os milionários que podem decidir o futuro da Oi

Mikhail Fridman ganhou o primeiro ordenado a vender tapetes, mas num instante voou para o mundo da banca e da energia. O seu sonho é "criar a Vodafone do Leste". Xavier Niel é considerado o Steve Jobs francês, e tal como o criador da marca da maçã, a sua ambição é revolucionar o sector das telecomunicações.

Bloomberg
07 de Novembro de 2015 às 16:00
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Há dois milionários que podem ter um forte poder de decisão sobre o futuro da Oi, operadora brasileira que tem a Pharol como maior accionista. O primeiro é Mikhail Fridman, dono do fundo que iniciou conversações com a Oi para a operadora avançar com uma fusão com a TIM. O outro é o francês Xavier Niel, o segundo maior accionista da Telecom Italia, que detém a TIM. Esta é a história dos homens que podem influenciar os próximos passos da consolidação no mercado das telecomunicações no Brasil.

É em Lvov, Ucrânia, que começa a história de Mikhail Fridman. Hoje, aos 51 anos, é o segundo homem mais rico da Rússia e o 68.º do mundo, com uma fortuna avaliada em 14,7 mil milhões de dólares. Mas os seus primeiros passos no mundo laboral foram bem mais modestos.

Mikhail Fridman ganhou os seus primeiros "trocos" a vender tapetes e bilhetes de teatro, para ajudar a família. A queda para os números começou logo a ser visível no secundário, em Lvov, onde ganhou as olimpíadas de matemática e física. Este percurso escolar abriu-lhe a porta do prestigiado Institute Steel and Alloys, em Moscovo, onde se formou com distinção em 1986.

A sua estreia como empreendedor aconteceu dois anos depois, com um grupo de amigos da universidade que frequentou. Juntos decidiram criar a Courier, uma empresa de lavagem de janelas, que empregava estudantes de diferentes universidades da Rússia.

Mas a ambição de Mikhail Fridman no mundo dos negócios não ficou por aqui. Graças ao seu espírito empreendedor, um ano depois conseguiu angariar alguns investidores para lançar a sua própria empresa, que começou como revendedora de computadores, mas viria a ser o embrião do grupo Alfa, que hoje é dono de um dos maiores bancos na Rússia, o Alfa Bank, e marca presença noutros sectores como o retalho, sendo dono do segundo maior grupo de retalho russo, o X5 Retail.

O sonho ambicioso de Fridman

Fridman nunca escondeu a sua paixão pelo mundo das telecomunicações e, de acordo com publicações russas, "o sonho de criar a Vodafone do Leste".

O primeiro passo neste sentido foi dado em 2005 quando criou a Altimo, empresa do grupo Alfa direccionada para as telecomunicações.

Aos poucos, através da Altimo, foi comprando posições em várias operadoras, entre as quais a VimpelCom, uma das maiores operadoras móveis da Rússia e a Turkcell, líder no segmento móvel na Turquia.

Porém, o percurso de Fridman para concretizar o seu sonho já teve alguns momentos amargos. A história da Altimo tem sido pautada por várias disputas legais com os seus parceiros, devido a terem diferentes visões diferentes sobre os negócios.

Aliás, no seguimento de uma batalha judicial contra a empresa norueguesa Telenor, accionista da VimpelCom, o juiz descreveu a Altimo como tendo uma "história extensa e descarada de litígios incómodos e colusivos", segundo o Financial Times. 

Fridman é considerado uma pessoa determinada. E os braços-de-ferro com os seus parceiros de negócio não ficam pelas telecomunicações. Em 2011,o grupo Alfa, que temFridman como maior accionista, terá sabotado a tentativa da BP para explorar petróleo e gás noÁrtico. E teve guerras constantes com a gigante petrolífera britânica, quando ambas estavam a lutar pelo controlo daTNK–BP.

 

Política à parte

 

Na esfera política o cenário é diferente. Ao contrário de muitos outros oligarcas, Mikhail Fridman prefere manter-se à parte da política russa, bem como de sectores mais sensíveis como os media.

 

Decisões que poderão ter ajudado o russo a evitar sanções dos EUA e da União Europeia, no âmbito da crise com a Ucrânia, que têm como alvo o círculo próximo de Putin.

 

Foi também graças à venda da sua participação na TNK-BP à petrolífera estatal russa Rosneff, em 2013, que Fridman criou a Letter One, fundo através do qual fez a proposta à brasileira Oi, que tem como maior accionista a Pharol, que detém 27,2% do capital.

 

Com esta venda, o russo encaixou cerca de 14 mil milhões de dólares, montante que contribuiu para a sua escalada nos "rankings" das maiores fortunas a nível mundial.

O fundo Letter One é encabeçado por Fridman. Mas conta com outros nomes de milionários russos no quadro da administração, como German Khan, Andrei Kosogov, bem como de antigos governantes como o ex-primeiro-ministro russo Petr Aven.

O objectivo da criação deste fundo passou por investir em projectos internacionais nas áreas de telecomunicações e de energia, estando o Brasil no mapa desta estratégia. O primeiro "alvo" foi a brasileira Oi através de uma proposta para injectar quatro mil milhões de dólares caso a operadora avance com uma fusão com a TIM.

O fundo russo iniciou na semana passada as negociações exclusivas com a Oi, que têm uma duração máxima de sete meses, para concretizar esta ambição. No entanto, o fundo do oligarca russo já fez saber que o objectivo destas conversações passa por "explorar opções para a Oi participar em qualquer consolidação no sector", não só com a TIM, como explicou ao Negócios o porta-voz do L1 Technology, veículo através do qual o fundo assinou o acordo com a Oi.

O Steve Jobs francês

Do outro lado das negociações para a eventual fusão da Oi com a TIM está o milionário francês Xavier Niel, que passou a ser o segundo maior accionista da Telecom Italia (dona da TIM). O primeiro lugar continua a pertencer a Vincent Bolloré, presidente da francesa Vivendi, que por sua vez é o maior accionista da Telecom Italia.

Xavier Niel, 48 anos, é o 136.º homem mais rico do mundo com uma fortuna avaliada em 8,3 mil milhões de euros, segundo a Forbes.

O seu perfil de empresário difere, em muito, do milionário russo. Xavier Niel, considerado o Steve Jobs francês, deu os primeiros passos no mundo da tecnologia muito cedo como "hacker" amador.

Começou o seu percurso de empreendedor por volta dos 13 anos, em 1980, com sites de salas de conversação online para adultos, uma área que mais tarde lhe viria a dar muitas dores de cabeça.

Xavier Niel cresceu em Créteil, Paris. A mãe era contabilista, enquanto o seu pai passou mais de 15 anos a estudar, tendo frequentado cursos desde direito até medicina.

Aos 14 anos, o seu pai deu-lhe uma prenda que lhe mudou a vida: o ZX81, um computador, desenvolvido pelo inventor britânico Clive Sinclair. "O Sr. Sinclair!", esta foi a reacção de Xavier Niel quando o Financial Times o questionou sobre esta oferta. "Foi algo mágico: fazia o que eu queria. E eu pensava que era o amor do meu pai por computadores e electrónica. Talvez Freud possa dizer alguma coisa sobre isso", acrescentou.

O jovem empreendedor soube tirar proveito do facto de viver no país que inventou o sistema Minitel, um terminal com ligação a uma linha telefónica, o que permitia que os utilizadores pudessem fazer coisas simples como mandar mensagens. Estávamos nos anos 80.

Foi assim que Xavier Niel começou a amealhar a fortuna que tem hoje. O milionário, que não tem qualquer curso superior, começou por desenvolver software para grandes grupos franceses com o sistema Minitel, através da empresa Iliad, criada pelo jovem empreendedor.

Em 1993, aos 25 anos, criou o primeiro servidor de internet francês, WorldNet, que passados sete anos vendeu por mais de 50 milhões de dólares.

Como estar de braços cruzados não faz parte da filosofia de vida do investidor, que tem como imagem de marca o seu cabelo despenteado e o seu gosto por calças de ganga e camisolas "confortáveis", em 2002 criou o seu segundo negócio também na área da internet: o Free. Esta empresa foi a primeira no mundo a vender um pacote "triple play" (telefone, televisão e internet), na altura a um preço de 29,99 euros por mês. A modalidade "triple play" chegou aos EUA três anos depois.  

"Foi a coisa mais estúpida que fiz"

O jovem empreendedor deparou-se com algumas barreiras pelo caminho. E algumas das quais criadas por ele. Em 2004 Xavier Niel esteve preso durante um mês sob acusações de incentivo à prostituição. Um dos negócios onde era investidor, relacionado com casas de "striptease", afinal servia como negócio de prostituição.

Niel foi ilibado da acusação de incentivo à prostituição, mas pagou uma multa de 250 mil euros por desvios de fundos, no âmbito deste negócio.

"Já fiz coisas muito estúpidas na minha vida", disse Xavier Niel ao New York Times. "Esta foi a mais estúpida".

Depois de ultrapassar esta barreira, Niel decidiu pôr mãos à obra para aumentar o seu império. Até porque o negócio da internet serviria apenas para Xavier Niel tirar as primeiras impressões do sector das telecomunicações.

Em 2012 deu um novo passo e criou a FreeMobile, que viria a tornar-se a quarta maior operadora móvel francesa.

Depois de revolucionar o mercado francês de telecomunicações Xavier Niel decidiu alargar os seus negócios a outras áreas, como no jornal francês Le Monde, bem como a outras geografias. Niel comprou uma participação de 55% na Monaco Telecom, adquiriu a subsidiária suíça da Orange por 2,9 mil milhões de dólares e este mês comprou uma posição de 1,7 mil milhões de euros na Telecom Italia, uma das maiores operadoras italianas e que no Brasil controla a TIM.

Um russo, outro francês. Os dois milionários. E é em torno deles que o futuro das telecomunicações no Brasil se pode vir a discutir.

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