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Farfetch: os desafios do unicórnio português

Com o estatuto de unicórnio, a start-up luso-britânica pode ter pela frente alguns desafios. Crescer sem perder a sua imagem de marca está entre os principais desafios.

Ricardo Meireles/Sábado
14 de Novembro de 2015 às 10:00
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A Farfetch tem vindo a ser muito falada por ser a única start-up luso-britânica com estatuto de unicórnio. No primeiro trimestre deste ano, a empresa liderada por José Neves obteve uma ronda de financiamento no valor de 86 milhões de dólares, o que lhe conferiu uma avaliação de mil milhões de dólares e, por conseguinte, o estatuto de unicórnio. Mas com uma avaliação deste calibre e sem ser ainda lucrativa, a empresa portuguesa de comércio electrónico de artigos de moda de luxo enfrenta desafios.

A Bloomberg, num artigo publicado recentemente, apontava que, como muitas empresas deste sector, "o desafio de Neves é alargar o seu negócio sem perder" o tom "de uma certa exclusividade". O financiamento obtido no início deste ano está a ser canalizado para a expansão da equipa, que ultrapassa as mais de 700 pessoas, e para encontrar novas linhas de negócio.

Ainda assim, para impulsionar o crescimento à medida que expande, a start-up luso-britânica começou a personalizar calçado, a fornecer lojas de roupa na Índia e Médio Oriente e a oferecer um serviço de compras pessoais através de email e whatsapp (plataforma de mensagens instantâneas). A Farfetch começou também, segundo a agência de informação norte-americana, a ser contratada para construir sites para marcas de moda que estavam mais afastadas das vendas online.

Para José Neves, o conceito de boutique é importante para a marca e não é incompatível com números elevados. Segundo a Bloomberg, o português acredita que a Farfetch vai vender este ano 500 milhões de dólares (465 milhões de euros ao câmbio actual) em roupas e acessórios, um crescimento face aos 300 milhões de dólares registados em 2014.

Por outro lado, e ainda em termos de mercados, Neves acredita que há ainda muitas oportunidades de crescimento em países como a China, a Índia e em especial na Rússia, onde, diz, a Farfetch está a crescer a três dígitos apesar da crise económica. 

O líder da Farfetch é ainda da opinião que, embora pensar no digital seja importante, as "lojas físicas nunca vão desaparecer" até porque não se pode fazer "download" à moda, escreve a Bloomberg.


Neil Saunders, director-geral da consultora de retalho Conlumino, considera que a Farfetch "não está apenas a vender coisas que podem ser encontradas na rua principal de uma grande cidade". "Estão a vender coisas realmente um bocadinho arriscadas, coisas que vieram da passarela", referiu à Bloomberg.

Já Milton Pedraza, CEO do Luxury Institute, uma empresa de consultoria, diz que a empresa de José Neves, para manter a sua base de clientes, tem de resistir à tentação de oferecer marcas menos exclusivas ou grandes descontos.

Victor Basta, do banco de investimento Magister Advisors, sustenta que conseguir que os clientes regressem é um grande desafio mesmo para os melhores sites, muitos dos quais estão sobrevalorizados.

Numa entrevista ao Negócios, em Junho, José Neves, revelava que a Farfetch pode ser um "negócio de vários milhares de milhões de dólares de facturação por ano". "O mercado a nível global da moda de luxo apenas online é de cerca de 50 mil milhões de dólares. O que significa que o site da Farfetch, ao ter uma penetração fantástica em mercados como os Estados Unidos (que são 35% das nossas vendas), a China (onde vendemos cerca de 25 milhões de dólares no ano passado), a Coreia (que está a crescer a um ritmo espectacular), o Japão e o Brasil [permite que consigamos], prova aos investidores que somos uma empresa verdadeiramente global. E que vamos conseguir uma quota de mercado interessante desses 50 ou 60 mil milhões deste mercado", disse na altura.

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